Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Seria o mercado infantil um bom começo para tornar sua marca mais sustentável?

Por Maíra Goldschmidt

Que o mercado de moda infantil é um bom investimento não é novidade. Em fevereiro de 2016, o Sebrae apontou a comercialização de artigos para bebês como um dos ramos promissores dentro do varejo da moda no Brasil. No mesmo mês, a pesquisa "Kidswear Market: Evolution and Potential", da agência de marketing Fashionbi, endossou a afirmação. De acordo com o relatório, estima-se que o mercado de roupas para crianças no Reino Unido cresça cerca de US$ 8,5 bilhões em 2017, apesar das flutuações das ações e do câmbio (nota: o estudo foi realizado antes do Brexit). 

Pais em idade mais avançada e, consequentemente, financeiramente mais estáveis, avós Baby Boomers dispostos a gastar com os netos e uma geração mais ligada em moda (alô Shiloh Jolie-Pitt e Suri Cruise!), seriam alguns dos motivos para impulsionar o crescimento do setor. Não à toa, marcas de luxo como Tom Ford,  Balmain e Stella McCartney também têm suas versões infantis.

Mas como andam as questões sustentáveis na área? É senso comum que mães não querem nem pensar em produtos tóxicos tocando seus pequenos, certo? No entanto, em 2014, o Greenpeace encontrou etoxilatos de nonilfenol (NPE); ftalatos, compostos organoestânicos (COEs) e perfluorados  (PFC) e antimônio em 82 produtos têxteis infantis de marcas, como C&A, Disney, GAP, H&M, Primark, Uniqlo, Adidas, Nike e Puma e até da Burberry.

Diante desse cenário – mercado em expansão, marcas de luxo interessadas em cativar o consumidor desde cedo e esse paradoxo que é um produto tóxico embalar um bebê – proponho aqui um brainstorm: quais seriam as SUAS possibilidades de negócios? Há algo que pode ser explorado? Uma linha infantil seria uma bom jeito de lidar com as sobras da produção e, quem sabe, atingir o desperdício zero? Ou talvez seria uma maneira de “testar” fornecedores de têxteis orgânicos? E o seu consumidor, como reagiria? O que ele procura?

Para instigar (e inspirar) respostas, segue aqui um paralelo entre a cena de moda infantil e sustentável de Berlim, cidade que dita tendências de comportamento, mas não necessariamente de moda ou consumo, e de Nova York, com seu apelo fashionista tão sedutor quanto profissional no que diz respeito ao varejo.

De um lado do Atlântico, estou eu, Maíra, com conclusões empíricas, baseadas no que observo no meu dia a dia em Berlim, nas crianças do prédio em que moro, no metrô, no comportamento dos amigos que têm filhos. Em Nova York, está a consultora de compras para enxoval de bebês Paula Gartenkraut, que vive na cidade com o marido e os dois filhos. Usando o mantra “comprar menos e comprar certo”, a consultoria inclui dicas como: não comprar modismo, não comprar em excesso, utilizar o mesmo produto para vários fins e, para as roupas, não comprar focado no sexo do bebê, pois elas também podem ser usadas para o segundo filho (que pode ser do sexo oposto, não?). 

Moda sustentável 
Em NY: Como o foco das mães brasileiras ainda é encontrar preços mais acessíveis do que os praticados do Brasil, lojas como H&M são destino certo, já que oferecem peças feitas de algodão orgânico a preços rasoáveis.  Marcas especializadas em moda infantil sustentável ficam em regiões mais nobres, como Tribeca e Upper East Side, e são mais caras.

Berlim: Há uma certa tendência para que as roupas de bebês e crianças sejam produzidas com materiais não-tóxicos, fibras naturais e orgânicas, já que há demanda de mercado. Para citar o mesmo exemplo acima, nas lojas da H&M, por exemplo, o departamento infantil oferece quase que majoritariamente peças com a etiqueta “Conscious” (a linha orgânica da rede sueca). No entanto, como é fast-fashion, é rejeitada por esse consumidor “verde” que prefere um produto “local”. Para compras conscientes, destacam-se os bairros Prenzlauer Berg e Kreuzberg, onde é possível encontrar marcas alemãs, mas também da Bélgica, Holanda e dos países escandinavos. Obs: em Kreuzberg, não há nem H&M! 

Guerra dos sexos – a questão dos gêneros
Em NY: as lojas já separam as roupas por meninas (rosas e afins) e meninos (azuis etc.). Os neutros (cinzas, amarelos etc.) ficam do lado dos meninos. A maioria das clientes brasileiras querem saber o sexo do bebê antes da consultoria para fazer o enxoval de acordo, mas há uma geração de mulheres nos EUA que já não se interessa em saber antecipadamente se é menina ou menino. 

Em Berlim: há lojas que separam por cor e sexo, mas, considerando os bairros mencionados anteriormente, prevalecem nas vitrines roupas coloridas de tons vivos para ambos os sexos, laranja, vermelho, verde, amarelo, azul...e neutros, como beges, marrons e cinzas.  

 

Cosméticos
Em NY: marcas como a Babyganics e Honest Company, esta última fundada pela atriz Jessica Alba, são líderes no setor. 

Em Berlim: todos os supermercados de produtos orgâncios, aqui chamados de Biomarkt, têm opções para bebês e crianças. Mas não é só. Da suíça Weleda às marcas genéricas de redes convencionais, como DM ou Rossmann, apresentam versões com ingredientes orgânicos e/ou veganos para crianças.

Tendência
Em NY: há um movimento em ascenção nas redes sociais de grupos que doam/vendem ou fazem tipo um brechó de roupas e accessórios de crianças. Além de Nova York, o mercado infantil de produtos sustentáveis e orgânicos é mais forte em cidades como Los Angeles e Miami. 

Em Berlim: evitar o uso de fralda descartável, gastar estritamente o necessário e comprar em  brechós infantis. Outro destaque:  novos modelos de negócios, como a dinamarquesa Vigga. Seguindo os princípios da economia circular, a  marca funciona como uma assinatura de roupas infantis. Para cada fase e tamanho do bebê, os pais recebem uma mala com peças que serão usadas até ficarem pequenas, quando, então, serão trocadas por maiores e assim sucessivamente. As roupas devolvidas, após inspeção de qualidade, são enviadas para outra família.

 

 

Maíra Goldschmidt é jornalista há mais de 15 anos, sendo que 10 foram dedicados à indústria da moda e lifestyle. Em 2013, após anos escrevendo sobre o look do dia e it-bags, ela decidiu investigar uma nova maneira de comunicar moda. Uma passagem só de ida para Berlim e um curso de mestrado em sustentabilidade foram o pontapé desse novo caminho.

Fontes: 
www.sebrae.com.br
www.luxurydaily.com 
www.greenpeace.org

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