Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A urtiga poderá se tornar um dos tecidos sustentáveis do futuro

Uma das grandes preocupações da moda ética é a escolha de tecidos sustentáveis. O algodão tradicional é a fibra natural mais comum usada na moda, mas há alguns problemas sérios relacionados com ele. Seu cultivo tem uso intensivo de água como o gasto de 2.900 litros para se fabricar uma camiseta de algodão e 11.800 litros que exige uma calça jeans. Além disso, ele utiliza uma quantidade desproporcional de pesticidas em comparação com outras culturas.

A cultura do algodão representa de 3% da terra cultivada no mundo, mas consome 25% de todos os inseticidas, 11% de todos os pesticidas e 90% da oferta mundial é geneticamente modificada. Isto tem consequências para o solo, qualidade da água, biodiversidade e para a saúde humana. O cultivo do algodão orgânico é rentável e sustentável, mas ele tem rendimentos mais baixos.

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O algodão GM, supostamente deveria reduzir a necessidade de pesticidas por ser mais resistente as pragas, mas não é o que vem acontecendo nas plantações na Índia e outros países. Existem alternativas para o algodão no entanto. O bambu cresce rapidamente e de forma sustentável, mas são utilizados produtos químicos nocivos no seu processamento.

O cânhamo industrial é uma fibra natural fantástica e costumava ser a principal fonte de fibra para se fabricar tecidos no passado. Infelizmente, ele é ilegal para ser produzido no Brasil, EUA e outros países ocidentais por causa da proibição a maconha. Isso nos leva a uma planta que a maioria das pessoas acredita ser uma praga, as urtigas. Elas crescem em todos os lugares e o processo para extrair a fibra não necessita de quaisquer produtos químicos, enzimas ou outras substâncias auxiliares.

Elas são perenes, o que significa que você pode colhê-las a cada ano. Elas produzem fibras de alta qualidade que são fortes, versáteis, e tem um bom comprimento para a fiação. A boa notícia é que o tecido de urtiga é perfeitamente seguro para vestir, e na verdade, é um tecido muito bonito, resistente e sustentável. O tecido é feito a partir das fibras dentro dos caules da planta, não as farpas sobre a superfície exterior.

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A planta de urtiga é uma alternativa útil em relação a outras fibras naturais, como cânhamo, linho e algodão e irá desempenhar um papel cada vez mais importante nos próximos 5 a 7 anos. As fibras da urtiga têm uma característica especial pelo fato de que elas são ocas, o que significa que podem acumular ar dentro criando assim um isolamento térmico natural. Também as urtigas são resistentes a doenças e pragas por isso não precisam de produtos químicos e podem resistir a mais de 40 espécies de insetos.

A ideia não é nova pois as urtigas têm sido utilizadas em alimentos, tecidos e até mesmo em medicamentos desde o século 16. A urtiga foi usada na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial onde o país controlava 90% do comércio de algodão do mundo, isso foi uma dor de cabeça para quem não podiam mais manter comércio com o país. As urtigas foram cultivadas como uma alternativa, e depois usadas ​​para fazer uniformes para as tropas alemãs.

O fim da guerra e o desenvolvimento das fibras sintéticas, fez com que os tecidos feitos de urtiga nunca decolassem, mas a planta esquecida continua a ser uma alternativa sustentável esperando seu retorno triunfal para o mundo da moda.

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Felizmente, algumas marcas de moda preocupadas com a sustentabilidade, estão utilizando a urtiga para produzir roupas como foi o caso da famosa marca de jeans holandesa G-Star Raw. Para impulsionar o uso de materiais sustentáveis ​​a G-Star iniciou o programa Sustainable RAW em 2010. As peças deste programa foram inteiramente feitos de materiais sustentáveis ​​inovadores e consistiu de três linhas como algodão reciclado, algodão orgânico e urtiga (Nettle em inglês).

A G-Star combinou as fibras do algodão orgânico com as da urtiga para criar uma linha de denim sustentável com um impacto ambiental reduzido. Isso mostra que a urtiga tem uma enorme potencial de ser introduzida na moda misturada também com outras fibras como tencel, seda, modal entre outras.
A urtiga poderá se tornar um dos tecidos sustentáveis do futuro stylo urbano-4A urtiga poderá se tornar um dos tecidos sustentáveis do futuro stylo urbano-5A urtiga poderá se tornar um dos tecidos sustentáveis do futuro stylo urbano-6

A marca de moda sustentável feminina Brennels foi a única empresa na Holanda e no mundo que utilizava urtigas em larga escala para sua coleção de moda (a marca não existe mais). A Brennels trabalhou duro para encontrar a melhor maneira de produzir tecidos feitos de urtiga, e cultivavam um tipo específico de urtiga importada da Alemanha que foi modificada geneticamente para ter a melhor fibra. Depois de cultivadas, as plantas chegavam até uma altura de 2,5 metros.

Os caules eram cortados e deixados no campo para maceração (quebra através da exposição à chuva, orvalho e raios do sol). Depois, a palha é recolhida, pressionada em fardos e colocada em um celeiro para secar. A parte mais difícil é a de separar a fibra do caule. Isto é feito mecanicamente removendo o caule seco a partir da fibra. As fibras são então penteadas até que fiquem limpas e possam ser misturadas com o algodão orgânico e fiadas juntas num fio para depois tecer os tecidos.

Veja que interessante o vídeo do processo mecanizado de plantio e colheira da urtiga que mais tarde será fiada e tecida, extraindo as fibras das hastes. A Brennels criou todo um conceito de moda feminina sustentável utilizando principalmente a fibra da urtiga.

Para sua coleção masculina de Primavera/Verão 2015 de Etro, em Milão, o estilista italiano Kean Etro produziu casacos e camisas feitas de fibras de urtiga, banana, cereais, bambu, cânhamo e até leite. Etro resolveu investir numa linha de tecidos sustentáveis para manter a biodiversidade na agricultura.

A coleção foi inspirada pela Exposição Universal de Milão, que aconteceu em 2015, sob o tema “Alimente o Planeta. Energia para a Vida”. A utilização da fibra de urtiga na indústria da moda só está começando e esperamos que possa se tornar uma alternativa sustentável e rentável ao algodão tradicional.



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Respostas a este tópico

Romildo....parabéns pela matéria!!!me recordou inicialmente da produção de rami, porém muito arcaica na época....tempo muito bom ..!!!

particularmente acredito que se fizer mistura com outras fibras, inclusive paina...obtém se artigos diferenciados com agregado valor!!!

excelente matéria!!!

adalberto

Legal! Adorei o texto e no momento estou buscando por tecidos altenativos! Sabe onde posso encontrar o tecido de urtiga?
Obrigada
Marilia.justo@gmail.com


O fim da guerra e o desenvolvimento das fibras sintéticas, fez com que os tecidos feitos de urtiga nunca decolassem, mas a planta esquecida continua a ser uma alternativa sustentável esperando seu retorno triunfal para o mundo da moda.
Marilia J Almeida disse:

Legal! Adorei o texto e no momento estou buscando por tecidos altenativos! Sabe onde posso encontrar o tecido de urtiga?
Obrigada
Marilia.justo@gmail.com

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