O presidente do Sinditêxtil (Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo), Alfredo Emílio Bonduki, acredita que há uma luz no fim do túnel para o setor têxtil. A esperança é que as salvaguardas para o setor de confecções, a queda na taxa de juros e a desvalorização do câmbio possam dar um fôlego ao segmento que sofre com a concorrêncial desleal com os produtos asiáticos. O dirigente empresarial fez uma análise da conjuntura econômica no Jornal da Notícia, apresentado por Walter Bartels e Edmilson Barbosa, o Magrão.
Bonduki disse que a presidente Dilma Rousseff (PT) enxergou que o câmbio estava muito baixo e o juro muito alto. O Brasil recebeu muito dinheiro de fora nos últimos anos. Essa política iniciada com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) de juro alto para equilibrar a inflação criou uma distorção grande, porque o real foi uma das moedas que mais se valorizou enquanto o dólar e o iene foram aquelas que mais de desvalorizaram.
Além disso, o juro alto aumenta o custo das empresas. Na hora de pedir um empréstimo, os juros eram de 3% a 4% ao mês, enquanto os bancos de alguns países cobram isso ao ano dos empresários. Uma das mudanças mais importantes é a redução da taxa de juros.
"Esse reposionamento da taxa real de juros vai trazer o câmbio, como já se iniciou, para um patamar mais razoável. E isso é uma bela luz no fim do túnel. Outra luz importante que pode estar ajudando a gente é a salvaguarda que a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) e o Sinditêxtil já fizeram o pleito e ele precisa ser implementado. Nós iniciamos um trabalho na confecção. E agora também estamos iniciando o mesmo trabalho na área de tecido de decoração, que é muito importante para essa região, e tecidos técnicos também. Eu acredito que, com a salvaguarda, com a desoneração do Plano Brasil Maior e com uma melhor política de juro e câmbio, nós temos sim esperança porque o Brasil terá um crescimento de consumo muito grande na área têxtil nos próximos dois, três anos".
ENTRAVES
Ao contrário de muitos empresários que estudam vender tudo o que têm no Brasil e se instalar nos países asiáticos, Bonduki, que trabalha no setor há mais de 30 anos - o pai dele fundou a empresa em Americana em 1963 - não pretende migrar seus negócios. "Eu amo esse setor. Eu acredito nesse setor. O Brasil é o quinto maior produtor têxtil global, apesar de todas as dificuldades. É o quarto maior produtor de confecções. Então, Walter, honestamente, eu acho que o Brasil tem condições de continuar sendo um grande player, mas, é claro, precisa de mudanças estruturais que permitam que as indústrias tenham maior competitividade", enfatizou.
O setor enfrenta três problemas que atrapalham o crescimento e a rentabilidade das empresas do ramo. Dois setores são de origem interna e um, de origem externa. O de origem externa é a concorrência com os produtos asiáticos, principalmente da China, país que representa hoje 70% das importações para o Brasil e praticamente 80% da produção global de muitos produtos, como o poliester.
"As empresas brasileiras não concorrem com empresas chinesas ou empresas asiáticas. Elas concorrem com o governo, com uma política de governo que permite que a indústria têxtil seja tão competitiva lá", deixou bem claro. No Sinditêxtil e na ABIT foi feito um levantamento com os sindicatos patrocinais similares mexicanos e americanos. A conclusão foi que os exportadores têxteis asiáticos e chineses contam com 27 tipos de subsídios diferentes.
"Então, fica muito difícil nós concorrermos com essas empresas com todo o subsídio tributário, de juros e de câmbio, porque o câmbio brasileiro foi o que mais se valorizou depois da crise de 2008 e, ao comtrário, o ien ficou atrelado ao dólar e sofreu uma forte desvalorização.
Então, esse problema externo é insolúvel. Você só consegue resolver através de salvaguardas, através de uma maior proteção e de um maior controle das importações", analisou o empresário.
CARGA TRIBUTÁRIA
Os problemas internos afetam não só a indústria têxtil mas também toda a industrialização do país. Segundo Bonduki, esse processo de desindustrialização é real. Tanto que a indústria teve uma participação muito maior no PIB (Produto Interno Bruto), a somatória de toda a riqueza do país, e acabou perdendo espaço ao longo dos anos em função de uma elevada carga tributária.
O governo recolhe hoje 60% dos impostos em cima da indústria. Então, reforça, é um setor extremamente sobrecarregado com tributos. São tributados o trabalho, ou seja, a folha de pagamentos; e o investimento. "Isso é uma distorção que atrapalha o crescimento da indústria. Então eu posso dizer que a indústria empobreceu no país nos últimos anos", afirmou.
O terceiro entrave, de ordem interna, se originou a partir do fim do acordo Multifibras em 2005. Existia um sistema de cotas que regulava o comércio internacional e esse acordo foi encerrado há sete anos. Então os países começaram a procurar acordos bilaterais. Por exemplo: o Peru fez acordo com os Estados Unidos, a Colômbia fez com a Europa e, agora, em maio, conseguiu um belo acordo de livre comércio têxtil com os Estados Unidos. Esses países, com esses acordos, conseguiram canais de exportação.
O Brasil, até 2005, era exportador líquido têxtil, não era importador. E, neste ano, deve ter um déficit de US$ 6 bilhões na balança comercial. Isso aconteceu rapidamente. Para Bonduki, o que o Brasil precisaria é, através do Itamaraty, buscar os acordos de livre comércio com os grandes consumidores têxteis da atualidade, os Estados Unidos, a Europa e o Japão.
PLANO BRASIL
Cada vez mais o empresário brasileiro sofre com o Custo Brasil, com o peso dos impostos. Enquanto isso os grandes países asiáticos como China, Índia e Indonésia precisavam gerar empregos. E a indústria têxtil é uma grande geradora de empregos. Enquanto a carga tributária no País cresceu - na época do presidente Fernando Henrique Cardoso a carga tributária equivalia a 25% do PIB - e hoje chega quase aos 40%.
Hoje a carga tributária ficou maior, mais complexa e mais concentrada na indústria. E esses países, ao contrário, desoneraram a produção pela necessidade da geração da empregos. Então esse problema foi se agravando ao longo dos anos.
O Plano Brasil Maior foi o primeiro evento de um início de desoneração e quebra de paradigmas. Por isso Bonduki reconhece esse mérito. Inclusive as entidades do setor participaram dos debates e discussões das últimas medidas alinhavadas pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, em dezembro. E o setor têxtil foi um dos quatro privilegiados.
INTERNACIONAL
Nos Estados Unidos, bem lembrou Bartels, a indústria têxtil foi praticamente extinta. Então o apresentador perguntou se o Brasil corria o mesmo risco. Bonduki explicou que os Estados Unidos abriram mão da indústria de confecção. Continuam sendo o maior produtor têxtil global.
O que os Estados Unidos fizeram foi uma política até certo ponto inteligente na época, mas hoje os empresários se arrependem, contextualizou o presidente do Sinditêxtil.
Na época, os Estados Unidos estavam com pleno emprego e não queriam manter os empregos baratos. Para evitar a imigração e forçar os moradores de países do Caribe e América Central a permanecerem nos seus países, foram criados os acordos Nafta e Kafta pelos quais os Estados Unidos produziam o têxtil, exportavam o tecido para o México, a República Dominicana e a América Central para confeccionar e, depois, os artigos retornavam para os Estados Unidos.
"Então foi uma forma de manter o mercado cativo para sua indústria têxtil, manter empregos em zonas periféricas onde tinha muito problema político, tinha muito problema de plantação de drogas, e criar um emprego saudável e manter esse mercado sob controle da indústria têxtil americana", explicou. Hoje o país americano se arrepende porque precisa gerar empregos, inclusive nas confecções. E esse processo iniciou uma reversão. Foi uma política deliberada traçada pelo Departamento de Estado Americano e que funcionou para eles, até agora.
Mas os Estados Unidos ainda não um dos maiores plantadores de algodão do Planeta. Mas eles preferem exportar o fio e o tecido do que o algodão. Diferente do Brasil, que vai ter a quarta maior colheita de algodão, praticamente dobrando neste ano em relação ao ano passado, dois milhões de toneladas, e vai exportar quase metade para a Ásia e depois importar a camisa pronta.
LUCRO FÁCIL
O também apresentador Edimilson Barbosa, o Magrão, como facionista, questionou o posicionamento de deputados que sugeriram que os empresários do setor têxtil se instalassem na China para ganhar dinheiro. Bonduki disse que hoje a tendência é pelo lucro fácil e imediato.
Mas afirmou que essa não é a melhor saída para o País, porque não tem uma renda per capita suficiente para abrir mão da sua indústria. Basta lembrar que grande parte da área de serviços - como empresas de contabilidade, de limpeza, de segurança, de software - gira em torno da indústria. "Sem uma indústria forte você não vai ter um País forte e rico. A indústria é que gera o emprego de bom salário. Não é o comércio", deixou bem claro.
IMPORTAÇÃO
Para dimensionar a revelância da indústria, citou que o Estado de São Paulo tem 10 faculdades têxteis. No Brasil são 64 cursos. Nos últimos dois anos a indústria têxtil investiu US$ 2 bilhões por ano. Apesar de toda a crise, no ano passado, o investimento foi de US$ 2,5 bilhões. Por isso quando presencia o desenrolar dos fatos, fica triste, porque todos sabem que existem grupos de pressão, de lobby.
E hoje os grandes varejistas e traders importadores querem defender esse espaço para importar da China, da Índia, do Paquistão. A bola da vez é o Vietnã, que está crescendo na confecção. Isso porque uma parte da mão-de-obra da China já está cara para o padrão deles e as indústrias têxteis chinesas estão terceirizando uma produção para Bangladesh, Camboja, Vietnã, onde a mão-de-obra custa menos de US$ 100. Na China, na costa, a mão-de-obra está acima de US$ 150.
UNIÃO
Quando a indústria automobilística tem um resfriado, o governo Federal, de imediato, lança pacotes para socorrê-la. Com a indústria têxtil isso nem sempre ocorre. Contudo, para Bonduki, a indústria têxtil tem uma força de influência sobre o governo Federal muito mais forte do que tinha. E aproveitou o gancho para dizer que a ABIT é uma das entidades mais respeitadas de Brasília e foi uma tentativa bem-sucedida para unificar os interesses da cadeia toda, porque um empresário é cliente do outro. Hoje, o segmento tem grupos de trabalho no Ministério da Fazenda, no MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e no Itamaraty.
"Essa união é muito importante para que nós possamos fazer em Brasília os nossos pleitos de forma equilibrada, sem prejudicar alguns dos elos da cadeia", defendeu o empresário. Por isso, Bonduki afirmou que gostaria que o Sinditec (Sindicato das Indústrias de Tecelagem de Americana e Região) ficasse um pouco mais alinhado com os trabalhos feitos no Sinditêxtil e na ABIT. Essa é uma batalha pessoal de Bonduki, por amar a cidade e o setor, como disse. E essa união tem que ser cada vez mais reforçada, ressaltou. Não pode ter dissidências e disputas no setor, comentou. A meta seria falar como um setor único, não importa se é plantador de algodão ou confeccionista.
Recentemente, o setor atraiu o varejo. Tanto que o pleito que será feito ao secretário da Fazenda do Estado de renovação do decreto de redução do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que vence no final do ano está sendo feito em parceria com o varejo têxtil. "Como um setor todo, nós somos quase tão importantes, do ponto de vista de PIB, quanto o setor automotivo". O setor automotivo faturou US$ 90 bilhões no ano passado e a indústria têxtil faturou US$ 63 bilhões, gerando muito mais empregos.
CADEIA
Uma das vantagens do Brasil é que tem todos os elos da cadeia têxtil. É um dos poucos países que tem todos esses elos das cadeias e o único fora da Ásia. O país tem desde a plantação de algodão, fiação de poliester até a tecelagem. E todos estão investindo. Isso é um patrimônio muito grande e o País não pode abrir mão disso, argumentou.
Reconhece que o setor foi privilegiado no Plano Brasil Maior, mas não teve a velocidade que o setor automotivo conta. Então, o setor está lutando em cima das salvaguardas. "Hoje nós temos que proteger a confecção, que é o elo mais frágil, mais vulnerável. Na hora que você importa a confecção, você mata tudo".
RETALHO FASHION
Mudando o foco das dificuldades do setor, Bartels pediu a Bonduki para comentar a iniciativa iniciada há três anos, o Retalho Fashion. Ele disse que há um problema muito sério com os retalhos das confecções nos bairros do Bom Retiro e do Brás, na capital paulista. Os retalhos eram colocados em sacos de lixo e deixados nas calçadas. Então, os catadores abriam os sacos, escolhiam os melhores restos e as sobras ficavam nas calçadas. Quando chovia, os retalhos eram arrastados para os bueiros, que ficavam entupidos. Então esses retalhos iam para aterros sanitários e demoravam 100 anos para serem decompostos.
Além de sobrecarregar ambientalmente o aterro, não resolvia o problema social. Os catadores ganhavam R$ 10 ao dia e conviviam com a cracolândia ao lado. Então as entidades patronais fizeram o projeto junto com a Prefeitura de São Paulo para reaproveitar todo o material. E o absurdo é que o Brasil importa ao ano para a indústria de reciclagem 50 mil toneladas de retalhos, o que dá margem para importação de lençóis contaminados, como ocorreu em Pernambuco. E o Brasil mal controlava a entrada de tais tecidos.
Em vez de importar lixo de outros países, o material é reciclado, recebe a destinação correta e faz com que os catafodores tenham emprego digno e usufruam economicamente do produto do seu trabalho. O lançamentodo projeto será no dia 21 de junho no Senai do Bom Retiro. "Eu acredito ser esse sim um exemplo para que em outras cidades importantes onde existe confecção - Americana é uma, Ibitinga é outra - isso possa ser replicado". Esse projeto foi apresentado ao governo Federal, que o incluiu como um dos principais programas de sustentabilidade do setor têxtil brasileiro, a ser apresentado na Rio+20.
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Espero. sinceramente, que Alfredinho esteja certo. Espero tambem que essa luz nao seja o Farol de uma locomotiva vindo em nossa direcao! SdM
Uma observacao: Inveridico esse quotacao: "Para evitar a imigração e forçar os moradores de países do Caribe e América Central a permanecerem nos seus países, foram criados os acordos Nafta".
Para evitar vimigrantes ilegais os EUA se dispoes de varios ferrramatas sendo a USIS (United States immigration Service) a mais usada. SdM
Alfredo concordo e é exatamente isso que venho à anos afirmando; temos ouro nas mãos, mas o que mata a Indústria têxtil, que se diga de passagem a segunda maior empregadora do pais perdendo apenas para a Construção Civil, são os impostos, ou seja, o próprio governo.
Estes dias lendo uma reportagem sobre a Lupo, neste mesmo site, me admirei com o relato que o custo da fabricação nossa é a mesma que a da China, mas quando nosso produto é sobre taxado chega a perder a competividade, uma empresa que vem crescendo e sendo uma das maiores do país chega a importar 30%, isso relatado por eles na necessidade de competividade, que nos gera no final uma queda de empregos e consequentemente uma quebra no consumo; pois devemos lembrar que nossos trabalhadores, são nossos maiores consumidores e tudo isso vai se tornando uma bola de neve.
Quando comecei a trabalhar neste setor e a China não tinha este peso no mercado, lembro que não se preocupavam tanto com os produtos chineses; pois eles não sabiam trabalhar com o algodão e somente com os produtos sintéticos, pois fomos os maiores professores ensinando-os a fazer o que hoje tornaram nossos maiores concorrentes, precisamos mudar este quadro e como bem lembrado em seu arquivo a Indústria americana não soube trabalhar com um projeto a longo prazo, sendo que nossos recursos ainda maiores que o deles e nas condições de desemprego alto e um grande índice de analfabetismo e pobreza devemos ainda muito mais cuidar daquilo que nos gera cerca de quase 10.000.000 empregos e lembrando que nenhum outro setor da Indústria Brasileira contribui mais que o Setor Têxtil e de Confecção para o controle da Inflação desde o Início do Plano Real (1994) e segundo o BNDES nenhum setor da indústria de transformação tem maior capacidade de gerar empregos como o Setor Têxtil e de confecção, sendo assim nossos políticos devem olhar com atenção ao nosso segmento.
Vamos lutar não somente por um segmento da Indústria, mas pela vida do país, acreditando que não estamos sendo colocado no topo por um período de Copa e Olimpíadas e sim por um país estruturado na sua economia.
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