“O designer precisa levar poesia para o futuro”, diz Castelbajac

[Romildo de Paula Leite]

Jean-Charles de Castelbajac assina a decoração de natal do Shopping Cidade Jardim e fala à ELLE sobre as transformações do mundo da moda.

(Shopping Cidade Jardim/Divulgação)

Se você entrar hoje no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, vai perceber que ele está bem diferente. No entanto, dentre os ornamentos decorativos que estão por lá, são poucos os que remontam o Natal da maneira clássica, invernal e europeia que estamos acostumados a ver quando o final do ano está chegando. Há fitas presas nas pontas dos ventiladores de teto, janelas contornadas com luzes coloridas em neon, até uma piscina de bolinhas!

“Acho que seria um desastre estético trazer um iceberg ou flocos de neve para cá”, disse Jean-Charles de Castelbajac, icônico e multifacetado designer que ajudou a levar a Pop Art para as passarelas do final dos anos 1980 até o começo do novo milênio e que, agora, assina o décor do shopping paulistano. “Independente dos elementos que usamos por lá, existe uma atitude positiva a respeito do Natal que eu acredito ter muito a ver com o Brasil. Este é o país que, como nenhum outro, ensina a todos a um sorriso no rosto mesmo nos momentos mais difíceis.”

A moda é um perigo, é uma expressão de nossa individualidade: ela é a catarse do questionamento, da pergunta, da dúvida. Tudo que há de mais profundo em nós pode se materializar nela.

Encantado, ele disse que sonha em encontrar alguma empresa que tope fazer uma linha de roupas com a sua assinatura por aqui. “Seria algo relacionado a viagem. Com certeza daria certo, já tenho as estampas e tecidos em mente”, explicou o designer que acabou de completar 68 anos, mas que está longe de pensar em aposentadoria. Aliás, ele é um dos maiores entusiastas da tecnologia aplicada à moda. “Quando Malcolm McLaren [empresário da histórica banda punk britânica Sex Pistols] me disse que não devíamos ligar para as redes sociais – porque, supostamente somos underground – eu tive que discordar com ele. Foi-se o tempo em que tínhamos que ser underground. Eu quero mais é ser um vírus pop!”

(Shopping Cidade Jardim/Divulgação)

Segundo o designer, atualmente vivemos algo muito parecido com o final dos anos 1970. “Depois daquela moda extremamente romântica, eu cheguei com o meu sportswear muito específico que tinha uma pegada sexy. Tenho a sensação de que é isso que a Off-White está fazendo mais uma vez, só que em um contexto completamente diferente. O mesmo vale para a Y/Project. Aliás, se você quiser ter uma noção do que é realmente moderno nos dias de hoje, basta ir até uma loja de tênis“, analisa o entusiasta da moda esportiva. “Essa é a melhor época para ser criativo no mundo, na minha opinião. Por mais que tenhamos que estar abertos para a tecnologia, o futuro parece muito frio quando ligado somente à ela. A missão do designer, hoje, é a de projetar poesia nesse universo.”

Para isso, sua estratégia é continuar “contando histórias” a partir de tudo o que faz. “Nós não podemos mais mentir. Mentir é um luxo que a sociedade contemporânea não mais nos permite ter. Estamos vivendo um momento em que é impossível ignorar o sentido que as coisas têm no mundo. Por que você acha que o ditador da Coreia do Norte não permite que exista moda em seu país? A moda é um perigo, é uma expressão de nossa individualidade: ela é a catarse do questionamento, da pergunta, da dúvida. Tudo que há de mais profundo em nós pode se materializar nela. Precisamos aproveitar essa oportunidade.”

Por Pedro Camargo

https://elle.abril.com.br/moda/o-designer-precisa-levar-poesia-para...

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[Romildo de Paula Leite]

   A moda é um perigo, é uma expressão de nossa individualidade: ela é a catarse do questionamento, da pergunta, da dúvida. Tudo que há de mais profundo em nós pode se materializar nela.

[Marísia das neves Bacellar]

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