Pelas regras do acordo firmado, a pessoa investigada, além de confessar seus crimes, deve, entre outras coisas, apontar o envolvimento de outros e apresentar meios para que o Ministério Público Federal colete provas. O delator não pode mentir em sua fala. Pelos seus crimes assumidos, Delcídio devolverá aos cofres públicos R$ 1,5 milhões.
Delcídio, preso desde novembro após tentar dificultar as investigações da Lava Jato, não poupou colegas de partido ou membros da oposição. Estão citados a presidenta Dilma Rousseff; o vice, Michel Temer; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o ministro da Educação, Aloizio Mercadante; e membros do PMDB, como Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.
Ao longo de mais de 200 páginas, que contêm transcrições de 21 depoimentos prestados à Polícia Federal por Delcídio, há várias acusações e você pode conferir todas aqui. Nós lemos o texto na íntegra e encontramos alguns detalhes que foram pouco repercutidos nos últimos dias, mas, juntos, dão uma ideia da dimensão dessa delação e do submundo político que imaginamos, mas não vemos. É um enredo de dar inveja nos roteiristas de House of Cards.
Confira abaixo:
Segundo Delcídio do Amaral, o escândalo da Petrobras, que já bateu com folga o do mensalão, é fichinha perto do que acontecia em Furnas. A estatal de energia, segundo o ex-senador, abrigou um esquema altamente sofisticado de corrupção, que financiou campanhas de diversos partidos (tanto da atual situação quanto da oposição) ao longo de vários anos. O operador-chefe foi identificado por ele como "Dimas", que era extramente cauteloso e, em grande parte por sua "habilidade", o esquema nunca se tornou um escândalo. Dimas, inclusive, segundo Delcídio, "continua no mercado", sem chamar atenção.
É do trecho em que trata de Furnas que saiu a acusação que colocou Aécio Neves (PSDB/MG) de volta nos holofotes da Lava Jato. Delcídio declarou que o mineiro era um dos principais beneficiários do esquema e sugeriu uma relação entre o caso e contas que o tucano teria no paraíso fiscal de Liechtenstein em nome da mãe e da irmã.
Segundo Delcídio, a roubalheira em Furnas só acabou quando Dilma Rousseff, pouco depois de assumir a presidência, fez "uma verdadeira intervenção" na estatal, destituiu toda a diretoria e nomeou profissionais de perfis técnicos. Entre os demitidos estavam, entre outros, grandes aliados de Eduardo Cunha, atual presidente da Câmara, investigado na Lava Jato e um dos maiores desafetos da presidente petista. Teria nascido aí o mal estar entre os dois, segundo Delcídio.
Sobre Dilma, Delcídio disse que ela fez uma série de “investidas” juntamente do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com objetivo de interferir no andamento da Operação Lava Jato. Segundo Delcídio, a intenção de Dilma seria obter a soltura dos executivos Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez, e Marcelo Odebrecht. Além disso, ela teria usado as indicações de Nelson Schaefer e Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça como uma forma de manipular os julgamentos que ocorressem por lá. O ex-senador afirma ainda que Dilma tentou conseguir apoio do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, mas não conseguiu.
Ela ainda foi acusada de pressionar pela nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora e de estar ciente dos esquemas de corrupção envolvendo a compra da refinaria de Pasadena.
Na delação de Delcídio, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), é acusado de ser padrinho político de responsáveis por grandes esquemas, como o da aquisição irregular de etanol por meio da BR Distribuidora entre 1997 e 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Delcídio diz ainda que Temer teve grande influência na substituição de Nestor Cerveró por Jorge Zelada na diretoria de Abastecimento da Petrobras.
Delcídio conta também que tomou conhecimento de esquemas de corrupção na Petrobras quando foi diretor da estatal, entre os anos de 1999 e 2001, governo de Fernando Henrique Cardoso. O primeiro caso aconteceu na compra da Plataforma P-36, que apesar de orçada em US$ 400 milhões, custou aos cofres da estatal mais de US$ 500 milhões.
Outro caso citado pelo senador ocorreu com a compra da máquina GT2 da Alstom pela Petrobras. O negócio, disse o senador, ocorreu de forma ilícita e rendeu em torno de R$ 10 milhões ao antigo PFL em propina. Detalhe: a Alstom é a mesma empresa envolvida no escândalo conhecido como Trensalão Tucano, de governos de São Paulo comandados pelo PSDB, e que ainda está em curso.
O ex-presidente e recém nomeado Ministro da Casa Civil Luiz Inácio Lula da Silva foi citado diversas vezes na delação de Delcídio Amaral. O senador afirma que Eduardo Cunha tinha um papel de "menino de recados" do banqueiro André Esteves, principalmente quando o assunto era de interesse do banco BTG, suposto mantenedor do Instituto Lula (o banco negou essa informação). A ajuda foi justificada por Delcídio devido ao fato de “Lula ser um grande ‘sponsor’ [patrocinador, em inglês] dos negócios do BTG” e que o ex-presidente “era um alavancador eficaz de negócios para agentes econômicos junto a instâncias governamentais nacionais e estrangeiras”.
Em outra acusação, o senador diz que Lula operou a compra do silêncio do empresário Marcos Valério sobre as investigações do mensalão pela quantia de R$ 220 milhões.
Em resumo, Delcídio afirma que Lula é o grande cabeça por trás dos maiores escândalos de corrupção em âmbito federal na última década.
No depoimento, Delcídio apresenta ainda o operador Jorge Luz como o responsável por ajudar o PMDB a recolher propinas na Petrobras. De acordo com a delação, ele era "apadrinhado de Jorge Serpa, braço direito de Roberto Marinho", dono das Organizações Globo. Luz é listado pela procuradoria como um dos principais articuladores de roubo na estatal, atuando desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso.
E então: House of Cards é páreo para o Brasil?
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