Celso Ming
Nunca um organismo oficial do governo brasileiro foi tão taxativo no diagnóstico como o Ipea: “A indústria brasileira enfrenta problemas sistêmicos de competitividade”.
É o que vai à página 3 do último Conjuntura em Foco. Quer dizer, o problema não é concorrência predatória da China, nem força demais dada ao agronegócio, nem descaso da política industrial. É falta de competitividade.
O estudo começa com o dimensionamento do tombo da indústria no comércio exterior. Entre 2005 e 2011, a participação de produtos manufaturados no total das exportações brasileiras despencou de 55,1% para 36,0%.
Esse resultado não tem propriamente a ver com o forte aumento das exportações de produtos primários, mas, sim, com o encolhimento de 14,4% do volume (quantum) exportado de manufaturados no período (veja o gráfico).
A avaliação do Ipea descarta sumariamente a alegação, tantas vezes repetida por dirigentes da Indústria, de que esse recuo é consequência da crise internacional, pelo encolhimento da demanda de produtos manufaturados. A perda de participação nas exportações começou bem antes, observa o Ipea. E, se houve impacto sobre encomendas da indústria nacional, a crise teve apenas “papel coadjuvante”.
O Ipea busca explicação para o esvaziamento industrial na política cambial adversa e nos “problemas estruturais” conhecidos. E passa como gato sobre brasa sobre os tais “problemas estruturais”, provavelmente para não expor o governo Dilma nas velhas e não resolvidas questões do custo Brasil. Vê como fatores de definhamento “a qualidade da infraestrutura, magnitude e composição da carga tributária, grau de qualificação da mão de obra e níveis de entraves burocráticos”.
Os economistas do Ipea atêm suas críticas ao modelo dos governos FHC e Lula, a partir do Plano Real, e à “estratégia monetária de juros elevados e de câmbio valorizado como forma de manter a inflação em patamares considerados confortáveis para os investidores internacionais”.
Ou seja, juro alto e câmbio baixo ajudaram a atrofiar a indústria, porque os governos usaram o câmbio achatado para abastecer uma população com poder aquisitivo em ascensão, ávida por consumo. Assim, importações crescentes de manufaturados (a preços relativamente baixos) agiram contra interesses imediatos da indústria e solaparam sua competitividade.
Mas o que fazer para reenergizar essa indústria cada vez mais anêmica? O Ipea propõe incentivar investimentos. E aí está a maior fragilidade do estudo. A indústria não fraquejou por falta de investimentos. Ela se dá por consequência da fraqueza anterior. Se o empresário não investiu o suficiente não foi por falta de empurrão do governo, mas porque o retorno (lucratividade) do investimento na transformação deixou de ser compensatório.
Ao contrário do que sugere o Ipea, a adoção de uma política de investimentos sem correção do problema de fundo (seja a excessiva valorização do real, seja o enorme custo Brasil) seria uma alocação inútil de esforços e de recursos.
CONFIRA
O gráfico mostra qual foi mensalmente a variação da atividade econômica no Brasil em 12 meses.
O avanço do PIB. Esse índice tenta antecipar o comportamento das Contas Nacionais (os números básicos do PIB) medidas pelo IBGE a cada trimestre. O que o Banco Central está dizendo com os dados do IBC-Br é que, no ano passado, o PIB do Brasil avançou entre 2,7% e 2,8%. Nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que espera uma expansão “em torno dos 3,0%”. O IBGE prevê divulgar seus dados no próximo dia 6
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