Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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À medida que enriquece, a China começa a enfrentar um problema inesperado: a falta de gente para trabalhar nas fábricas. A resposta do país a esse problema vai definir a cara da economia mundial neste século.                                                                                                         Shaoxing - Com 4 milhões de habitantes e mais de 20 000 fábricas, Shaoxing tem todas as características típicas de uma cidade chinesa que deu certo. O ar beira o irrespirável. Centenas de prédios estão sendo construídos num ritmo que transforma a cara da cidade de três em três meses.

O trem-bala que percorre os 160 quilômetros que separam Shaoxing de Xangai está sempre lotado. E o trânsito é enlouquecedor mesmo para os exigentes padrões chineses.

Quem tem mais de 30 anos ainda se lembra dos dias em que Shaoxing tinha o céu azul: isso foi antes da onda de instalação de fábricas que transformou a cidade no maior centro da indústria têxtil chinesa — antes, portanto, de a densa camada de poluição expelida pelas fábricas baixar para não sair mais.

Dos tempos de céu azul até hoje, Shaoxing emitiu ondas de choque que reverberaram mundo afora. Num frenesi empreendedor, milhares de moradores abriram aqui fábricas de fios, tecidos, camisas, camisetas, ternos, vestidos, gravatas, etiquetas, calças.

A receita não poderia ter sido mais chinesa: custos de produção ínfimos, trabalhadores dispostos a passar 14 horas por dia na linha de produção ganhando um salário miserável, um punhado de incentivos do governo e pronto. Não havia, em país algum, quem pudesse competir com as fábricas de Shaoxing. No ano passado, a indústria têxtil chinesa faturou o equivalente a 1 trilhão de reais.

A prosperidade de cidades como Shaoxing sempre variou numa razão direta do nível de pobreza do trabalhador chinês. Durante décadas, o interior pobre do país enviava às cidades costeiras dezenas de milhões de pessoas para trabalhar nas fábricas.

A cada Ano-Novo chinês — quando esses imigrantes viajam para passar uns dias com a família —, os trens voltavam ainda mais cheios de gente procurando emprego. Mas basta conversar com um empresário de Shaoxing para perceber que os tempos do sucesso fácil estão ficando para trás.

A fórmula que funcionou por duas décadas, eles dizem, não está funcionando mais. Para manter seus funcionários, as empresas da cidade tiveram de aumentar os salários em 25% em 2011. Se antes os operários aceitavam se amontoar­ em dormitórios para oito pessoas, hoje as fábricas de Shaoxing são obrigadas a oferecer “luxos” como ar condicionado e apartamentos para casais.Mas nem isso tem sido suficiente: mais da metade dos operários não voltou após o último Ano-Novo, em fevereiro. “Ainda não conseguimos recompor a equipe”, diz Sun Jian Gang, dono de uma fábrica de etiquetas que está com uma linha de produção fechada em razão da falta de gente.

O aumento nos custos é um tiro mortal no modelo das empresas de Shaoxing, habituadas a sobreviver com margens de lucro apertadíssimas. “Produzir se tornou inviável”, diz o empresário David Ma, que fechou as portas de sua fábrica de tecidos em março.

A ascensão da China nos últimos 30 anos é um dos maiores fenômenos econômicos da história — certamente, o mais importante desde que a primeira edição de EXAME chegou às bancas, em julho de 1967. Naquele ano, a China entrava no segundo ano da Revolução Cultural, um mergulho no atraso que durou dez anos e só terminou com a morte de Mao Tsé-tung, em 1976.

Seu sucessor, Deng Xiaoping, assumiu um país arrasado. Após as reformas de Deng, a China entrou numa rota de crescimento estonteante — e que mudou a cara do mundo.

A urbanização, que em questão de anos criou metrópoles onde havia campos de arroz, a entrada de centenas de milhões de pessoas no mundo do consumo, a máquina de exportações que inundou o planeta de produtos baratos: governos, consumidores e empresas de todos os continentes foram afetados de alguma forma pelo fenômeno chinês.

O Brasil passou, literalmente, por uma mutação. A demanda por commodities aumentou o preço de nossas exportações, acabou com nosso déficit comercial, possibilitou a queda nos juros e valorizou o real.

Um relatório do banco japonês Nomura concluiu que a famosa ascensão da nova classe média brasileira não teria sido possível sem a demanda chinesa por minério de ferro. Essa relação foi resumida recentemente pelo ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega: “Se a China balançar, balança muita gente”.

Pois é a fórmula chinesa, responsável pelo sucesso econômico do país nas últimas décadas, que está balançando. Por todo seu cinturão industrial, ouvem-se histórias idênticas à de Shaoxing: os custos estão aumentando, e os preços dos produtos, encarecendo.

Num relatório publicado em janeiro, os economistas do banco Credit Suisse caracterizaram o momento atual como um “ponto de virada histórico”. Pelas suas contas, os salários dos trabalhadores chineses — que já vêm crescendo mais de 15% ao ano nas províncias mais ricas — subirão cerca de 30% ao ano até 2016.

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