Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A China vem Carregando a Economia Mundial nas Costas — Mas Há Gente Apostando que Tudo Vai Dar Errado

Construção na China: Dubai multiplicada por mil?

São Paulo - O investidor americano Jim Chanos é um especialista na arte de encontrar problemas onde reina o oba-oba. Gestor de um fundo de 6,5 bilhões de dólares, Chanos é o mais famoso “urso” do mercado americano — apelido dado aos investidores que apostam contra empresas que julgam problemáticas.

Sua fama foi catapultada em 2001, quando apostou pesado na queda das ações da companhia de energia Enron. Muito antes da divulgação de que os balanços da empresa eram tão verdadeiros quanto uma nota de 3 dólares, Chanos fez as contas e viu que nada, ali, parava em pé. À época, as ações valiam 90 dólares.

O resultado da história é conhecido: a cúpula da Enron foi parar na prisão, as ações caí­ram para 1 dólar e Chanos ficou ainda mais rico do que já era. Se encontrar problemas em companhias é sua especialidade, de uns tempos para cá ele decidiu inovar.

Uma década depois de faturar com o ocaso da Enron, ele aposta, agora, contra um país inteiro: a China, que, com seu incrível crescimento econômico, vem ajudando a impulsionar ações de empresas do mundo inteiro, sobretudo no Brasil.

Areia movediça

Como sempre acontece com investidores do contra, Chanos não economiza adjetivos e advérbios ao descrever o que identifica como indícios de que a China é um castelo de cartas prestes a desmoronar. Para ele, o país que vem carregando a economia mundial nas costas não passa de uma “Dubai multiplicada por mil”. Seu alvo principal é o sistema bancário chinês.

“Ele está construído em areia movediça. Os bancos deviam agradecer à Itália e à Grécia por tirar a atenção de cima deles”, disse recentemente. Uma de suas apostas são as ações do Agricultural Bank of China, um dos maiores do país.

Segundo Chanos, a instituição mantém no balanço papéis podres remanescentes de crises bancárias ocorridas desde o fim da década de 90 que somam o equivalente a 120% de seu valor contábil. Sua estratégia tem sido encorajada pelo desempenho da bolsa chinesa.

Em 12 meses, enquanto o principal índice de ações do mercado americano subiu minguados 2%, o da bolsa de Xangai caiu 13%, e o índice de instituições financeiras chinesas do país, 14%. Mesmo com o espantoso crescimento econômico dos últimos anos, portanto, a bolsa chinesa está longe de ser um bom lugar para investir.

Quando apostam contra uma determinada empresa, os ursos — como os pessimistas são conhecidos — têm uma estratégia básica. Primeiro, alugam ações dessa empresa, para depois vendê-las e, se tudo der certo, recomprá-las a um preço mais baixo.

Quando os ursos apostam contra o dragão, no entanto, essa estratégia é impraticável, já que as bolsas chinesas impedem as vendas a descoberto de ações (a exceção é a bolsa de Hong Kong). A solução é encontrar empresas estrangeiras que se beneficiam do fenômeno chinês e apostar contra elas.

Chanos, por exemplo, escolheu a brasileira Vale como um de seus alvos preferenciais. Nos últimos dez anos, as ações da empresa valorizaram 1 195% em razão da demanda chinesa por minério de ferro.

Pouso suave ou colapso?

Outros gestores buscaram formas menos usuais de apostar contra a China. Um deles é o investidor britânico Hugh­ Hendry — que, com seu jeito fanfarrão, gosta de entrar em guerras verbais contra gente como o Nobel Joseph Stiglitz (num debate na TV sobre a crise grega, Hendry perguntou a Stiglitz: “Em que planeta você vive?”).

O britânico se tornou uma celebridade anti-China depois de uma viagem ao país em 2009, quando produziu e postou na internet um vídeo mambembe de 5 minutos. Nele, mostrava prédios e mais prédios desocupados nas cidades — um sinal, para os ursos, de que a China vive em estágio avançado a sua própria bolha imobiliária.

A fama de Hendry se consolidou em 2011, quando sua carteira dedicada à China, lançada em 2010, teve retorno de 46%. Nada mal para um ano em que 60% dos fundos de hedge ficaram no vermelho, segundo a consultoria Hedge Fund Intelligence. “O mundo faz um julgamento incorreto, associando o crescimento de PIB à criação de riqueza.

A China é imbatível para gerar PIB, mas em detrimento da criação de riqueza”, diz Hendry. Seu malabarismo envolveu montar uma carteira com seguros de proteção contra calote (credit-default swaps, ou CDS) de cerca de 20 empresas japonesas que exportam para a China. O custo do seguro, em 0,50% ao ano, estava baixo demais para companhias que sofreriam com a desaceleração chinesa, avaliou Hendry.

Apostas tão contundentes doem aos ouvidos de entusiastas da economia chinesa, como o veterano investidor Jim Rogers. Embora admita que o país sofrerá reveses no percurso, o ex-sócio do bilionário George Soros vê a China a caminho de se tornar a maior economia do mundo — portanto, um dos melhores lugares para investir.

No ano passado, em um almoço em Singapura, onde mora, Rogers fez um alerta ao colega Chanos, que visitava a Ásia. “Disse que, se ele realmente acredita que a China é Dubai vezes mil, como tem falado, ou não entendeu Dubai ou não entende a China”, disse Rogers a EXAME.

A frase de Chanos, sobre a bolha imobiliária do Emirado Árabe que desembocou em uma crise de dívida em 2009, virou seu bordão. E se os gestores estão fazendo dinheiro, diz Rogers, é pelas razões erradas. “Hendry só ganhou com os CDS do Japão porque lá houve um terremoto e um tsunami que afetaram o desempenho de todas as empresas, o que levou o preço do seguro às alturas.”

Não é difícil entender que previsões catastróficas sobre a China, como as de Chanos e de Hendry, sejam vistas com reserva. Gordon Chang, colunista da revista Forbes, é autor de um livro, publicado em 2001, no qual previa o colapso da economia e do sistema político do país em cinco a dez anos — coisa que, bem se sabe, não passou nem perto de acontecer.

Hoje ele está ainda mais pessimista, e, claro, totalmente desacreditado. À parte os exageros, o fato é que a desaceleração da economia chinesa se tornou o cenário-base para investidores do mundo inteiro — mesmo os líderes políticos do país consideram o ritmo dos últimos três anos insustentável.

Esse fenômeno será acompanhado com especial atenção pelos investidores brasileiros, dado que o vaivém da Bovespa, tão dependente das empresas de commodities, tornou-se umbilicalmente ligado ao desempenho da economia chinesa. Há sinais de que essa freada já começou.

Os preços dos imóveis na China, por exemplo, vêm declinando desde setembro, enquanto as vendas de terrenos nas 130 maiores cidades caíram 31% no ano passado. O que ninguém sabe é se essa desaceleração seguirá do jeitão atual (ou seja, suave) ou descambará para um pouso forçado cheio de mortos e feridos.

Para os brasileiros, o melhor é torcer para que tudo caminhe da forma mais tranquila possível. Quanto aos ursos, sabe-se muito bem qual é a torcida deles.

Fonte:|http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1009/noticias/os-pe...

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Comentário de Sam de Mattos em 13 fevereiro 2012 às 12:00

Silvita: Isolacionismo de deveras posicao suicida. Encapsulando a minha concorrencia com o seu pensar, mas uma vez reitero: Temos que ser "smart". "Vivos", criativos, cognicentes e educados para diferenciar o que nos  queremos e o que nos necessitamos. Temos que preecher varias lacunas do NECESSITAR antes de demandar o QUERER. Todas essas lacunas, de uma forma ou de outra sao vinculadas com a EDUCACAO. NAO PODEMOS perpertuar o nosso Gersismo, Macunaimaismo, as nossas Senzala , a Casa Grande e o Coronelianismo. Temos que saber que o Ludicisno, As festas, As Escolas de Samba, As Praias, Os Porres, As Baladas, sao, para aguns, uma complementacao ( digamos, uma "reward", recompensa) ao trabalho e nao um substitudo a esse. Educacao e a AGUA para a caldeira da Locomotiva Sao Paulo, me perdoem apontar o dedo ao lider, mesmo sendo eu Capixaba.

Comentário de silvia borges em 13 fevereiro 2012 às 11:15

Gostei da visão global de Sam de Mattos.

A discussão ficaria mais interessante se alguns pontos fossem esclarecidos:

1) Agronegócio é praticado pela Vale também, pois sua cadeia exporta alto volume de fertilizantes para a China.

2) O isolacionismo é uma tendência suicida do capitalismo. A indústria textil não é como uma calça jeans, ela é como um órgão dentro do corpo econômico (do Brasil), indiretamente conectada com a performance do corpo como um todo. Continuando com a parábola, esse corpo existe dentro de uma sociedade na qual o seu entrosamento com outros corpos determinam sua posição e sua sobrevivência.

Podemos agir como adolescentes, dizendo que foram nossos pais que causaram essa bagunça, ou podemos agir como líderes, reconhecendo as permutações e tendo a INICIATIVA, essa qualidade tão RARA, de pensar no que é bom para o órgão, dentro do corpo, dentro da sociedade.

Se não considerarmos esses aspéctos - a) meu negócio b) minha indústria c) as outras indústrias d) o país aonde atuo e) os outros países ao meu redor - nossa liderança será ilusória, nossas decisões imaturas.

Comentário de Sam de Mattos em 12 fevereiro 2012 às 22:02

A China no momento tem os astros alinhados em posicao favoravel ao seu papel de locomotiva industrial do mundo. E so isso. Agora o debate e quem vale mais, a Locomotova ou o dono da estrada de ferro. O trem ou a carga. A carga ou os passageiros. E vivermos atentos no dia a dia, aprender da ca, cobrir o rabo de la, se unir aqui, sali daqui e entrar ali... Temos que ser pragmaticos e cuidarmos de NOSSA realidade, de cognicente formos.

 

Comentário de EDISON BITTENCOURT em 12 fevereiro 2012 às 18:55

Em resumo: uma questão  de torcida  certo? Num País governado por um partido comunista ( um fator  que parece esquecido pelos que parecem acreditar em   "mercado livre") tudo  é possível: uma longa marcha, todo mundo  com roupa igual, ou quem sabe, a riqueza , mas que jamais é  eterna eterna . Mas vale a pena torcer por um pouso suave  porque as alternativas são  trágicas . Quanto  aos nossos empresários  eu  lembro aquela letra  " você não vale nada mas  eu gosto de  você"

Comentário de Eduardo Junger em 9 fevereiro 2012 às 15:26
Agronegocio? Acho que todas aqui participam deste blog por fazerem parte de algum modo da cadeia Textil produtiva. Ou tem pecuarista também. Agronegocio são comodities agrícolas, ou o Chinês compra ou não come. Enquanto batemos palma para o superávit nas exportações (de soja) o alemão segue vendendo produtos de valor agragado alto (maquinas, produtos químicos) para o Chinês. Meu povo, vamos pensar o BRASIL! Vamos nos livrar deste inexorável complexo de vira-lata que nos obrigaram a ter por anos!
Comentário de Eduardo Junger em 9 fevereiro 2012 às 14:18
Se eu e milhares de brasileiros que vivem da industria Textil perdermos nossos empregos para que o Chinês compre o aço da Vale (que aliá é uma comoditie e como tal se faz uma outra análise) a Vale absorverá todo esse contingente? Essa reflexão faz parte de uma coisa chamada Política industrial. Priorizar o que ? Para que? Com que retorno social? Seremos exportadores de banana? Ou industrializados? O que será que a Alemanhaé? O que queremos para o futuro? Felizmente o mundo não ê o cassino da bolsa de valores...o EUA que o diga!!!!!
Comentário de nelson ginetti em 9 fevereiro 2012 às 13:51

Silvia

Não é so a Vale, tem o agronegocio que tem na China um grande mercado.  E se isso cair pela metade? Deixaremos de exportar uns 10 bilhoes de dolares......quanto isso representa de impostos e empregos dentro do nosso pais?  Menos que o gerado pelo setor textil, pois commodities não agregam muito valor. Então se tem empresas que vão perder, outras vão ganhar  e o portfolio de investimentos mudam de posição. Então perco na Vale, ganho na Textil Renaux, Santista  e muitas outras empresas de varios ramos que vendem no mercado interno. Isso não significa que a Vale e o agronegocio vai desaparecer, até pelo contrario. Se por qualquer motivo suspendermos essas exportações os preços subirão lá fora dado o peso que temos...vende-se menos, ganha-se mais.A posição do Brasil é tranquila, pois precisam, não a China, mas o mundo das nossas commodities. O que não pode é vendermos algodão, ferro,celulose e depois comprarmos tecidos, aço e papel..seja da China ou de quem quer que seja...um governo que tem estrategia economica  e em um pais igual ao nosso, que precisa manter e gerar empregos, educação e mais um monte de outras necessidades, não pode permitir, caso seja responsavel,  seja o pais desendustrializado como esta sendo.

Comentário de Sam de Mattos em 9 fevereiro 2012 às 13:26

O modelo social Norte Americano esta sempre em reformulacao. Agora mesmo ja saimos da fase capitalista selvagem para um capitalismo que comeca e ser socializado. Essa tem sido a Agenda do Obama, em ter os Estado vigilante aos excessos do capitalismo desregrado e selvagem. SdM

Comentário de Sam de Mattos em 9 fevereiro 2012 às 13:22

CHINA E BRASIL

Seria a China uma Dubai x 100?

Talvez sim, talvez não, mas esse não é o meu debate.

Esse não é o meu “osso”. Não é o meu "bone".

Vejo benignamente o sucesso da China e o seu exemplo de sucesso um motivo para nos industrializar: Buscar parques de tecnologia de ponta para o Brasil, onde possamos a usufruir dessa tecnologia e das propriedades intelectuais delas, onde possamos ter também um SENAI  e SENAC para tecnologia de ponta, como a Índia anda fazendo – e avançando na área de computação, foguetes, atônica e cibernética.

Não me venham dizer que a Índia anda um pouco atrasada em tecnologias mais simples. Eu sei. Anda sim. Por exemplo, o seu custo de beneficiamento da cana de açúcar custa duas vezes o do Brasil. A nossa infraestrutura, por mais parca que seja, esta bem mais desenvolvida.

Por outro lado, não nos esqueçamos de na Índia ha mais de cem dialetos, sendo que na cédula da Rupia, consta o seu valor em 13 idiomas mais falados. Eles são incompreensíveis uns aos outros, tanto na escrita como no falar. Também na Índia ha dezenas de religiões, algumas ate extremistas e lá também há muitos grupos étnicos, não assimilados.

Já nos aqui no Brasil somos todos assimilados ao Portugues e a Pátria.

Ate os nossos Rabinos mais ortodoxos, tem que ficar de ponta cabeça para justificar os nossos Simões, Leitões, Leites, Ferros, Pereses, Rochas, Pedras e Pedrosas, Olivas, Olivais e Oliveiras, Caes, Leões, Camelos, Martelos e Serras, Pinhos, Carvalhos e Pinheiros - como Israelitas... Ate na Comunidade Judaica Portuguesa, a centenas de anos, a Santa inquisição cuidou de nos “assimilar”. Teixeira de Mattos, incluso.

Voltando a meada, como sempre digo: Boa sorte a China.

Jogando a China no pau-a-pau com o Brasil, sem "rasteiras", "bordoadas debaixo do cinto", "manipulação de moedas", "falsificações de manufaturados", “roubos de propriedades intelectuais”, sem "contrabando", comigo esta tudo bem, que ganhe o melhor.

Capitalismo é assim: O que aguenta mais chora menos.

Dai, mais uma vez afirmo o meu ponto de vista: Sou um admirador do desempenho financeiro da China. Aplaudo a dignificação de seu povo, Quero o bem deles, como quero o bem de todos na face da terra, talvez com a exceção de uma meia dúzia de FDPs. O que sou contra, o que berro como Cabrito Castrado é quando a China faz o jogo sujo acima indicado e postos entre aspas.

Mais uma vez digo, a mão esta escrevendo na parede, como na corte do Rei Nabucodonosor: “Sem educação, não ha cidadania, não ha industrialização, não ha dignificação e respeito ao ser humano; não ha independência financeira, mesmo num pais riquíssimo como o Brasil”.

Junto com a EDUCACAO temos que ser patriotas e ROUBARMOS COMEDIDAMENTE. E também que haja uma puniçãozinha quando pegos. Só isso.

Sei que falar a Brasileiro (de modo geral) para parar a sangria na Pátria é uma jogar palavras fora, é uma impossibilidade. É rezar para que as vacas voem. Mas pelo menos devemos demandar que o nosso povo, nossos políticos, nossas empreiteiras, nossos gestores do erário pátrio, que roubem comedidamente, que sangrem o país um pouco menos.

Comentário de silvia borges em 9 fevereiro 2012 às 13:09

Então 'xeu fazer 1 perguntinha indiscreta:

1) Se uma das maiores companhias do Brasil, a Vale S.A., tem como seu maior cliente a China

2) Se uma desaceleração forte na economia da China teria 1 grande impacto negativo em muitas companhias brasileiras, i.e., afetará o desempenho de seus portfólios e renda dos investidores

3) Se o gov. brasileiro ao desincentivar as exportações da China para o Brasil estará contribuindo (negativamente) contra o desempenho de tais companhias brasileiras indiretamente ligadas à performance chinesa

QUEM É QUE VAI ESTABELECER MEDIDAS QUE, EFETIVAMENTE, CONTERÃO A INVASÃO DAS IMPORTAÇÕES GERAIS ORIGINÁRIAS DA CHINA?

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