Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A democratização da moda no mundo virtual

Fonte:|modaspot.abril.com.br|

Sites revolucionam o processo de produção têxtil ao abrir espaço para trabalhos de novos estilistas e palpites do
público em geral.

As principais criações de moda das últimas décadas saíram da cabeça de um seleto grupo de estilistas. Só eles tinham acesso às passarelas, ao grande público e aos meios de transformar seus desenhos
em produtos nas prateleiras de renomadas lojas ao redor do mundo. Opinar
sobre esse trabalho também sempre foi uma tarefa igualmente restrita a
nomes importantes como Anna Wintour, editora da Vogue americana – uma das poucas a ter real influência sobre as peças que são desfiladas nas semanas de moda.

Mas os tempos estão mudando e, agora, tem gente querendo mudar esse cenário e colocar a indústria ao alcance de todo mundo. Como? Com a ajuda da internet. Ela, que já trouxe mudanças para grande parte da
economia, promete revolucionar os processos no mundo fashion também.

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Katie Eary usa peças da sua coleção feita em parceria com o site Catwalk Genius
Katie Eary usa peças da sua coleção feita em parceria com o site Catwalk Genius

A primeira transformação proposta é permitir que qualquer um participe do processo de produção têxtil. Não é preciso muito, apenas um bom croqui. Sites divulgam os desenhos e os internautas – tal qual a
senhora Wintour – votam nos que mais gostaram. Os preferidos do público
são confeccionados e vendidos online. Este processo é conhecido como
crowdsourcing – ou seja, terceirizar uma função para indivíduos na
internet.

Outra mudança que pode surgir é o modo como os estilistas recebem apoio financeiro. Em vez de serem bancados por grifes ou lojas, eles agora podem contar com pequenos investimentos de um grande número de
pessoas – uma prática conhecida como crowdfunding.

O principal exemplo é o site Catwalk Genius, que publica fotos de peças-piloto pertencentes a novos designers e anuncia quanto será preciso angariar para que a coleção seja produzida.
Quer vestir? Invista! A pinta é de figurão da moda, mas a verdade é que o
dinheiro a ser aplicado na brincadeira é baixo, a partir de 11 libras
(cerca de 30 reais). E, em troca, os clientes recebem parte dos lucros
com as vendas das roupas. Até agora, eles tiveram apenas uma colaboração
de sucesso com a estilista Katie Eary, de 25 anos, que juntou 5 mil
libras e trouxe uma certa credibilidade ao site.

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Vestido da brasileira Fernanda Carneiro, à venda no FashionStake
Vestido da brasileira Fernanda Carneiro, à venda no FashionStake

Já o FashionStake abre uma pré-venda das coleções de seus estilistas com preços até 60% mais baratos. Se as roupas atingirem um número suficiente de pedidos,
elas entram em produção – tudo graças ao capital arrecadado. “Nossa
missão é conectar designers e consumidores de uma forma que nunca foi
feita antes”, conta Vivian Weng, criadora do FashionStake. “Vamos levar o
poder de decisão para as massas, dar voz a elas. Elas determinarão o
destino dos nossos produtos.” Entre os 21 estilistas participantes, está
Fernanda Carneiro, brasileira radicada nos Estados Unidos, que tem uma
coleção de 19 vestidos.





Para quem quer fazer e participar do mundo da moda, mas ainda não recebeu convites para adentrar no mundo exclusivíssimo das grades grifes, esses sites oferecem um verdadeiro “país das maravilhas”. Na
página Garmz, o
shorts de seda preto com um laço na cintura do austríaco Simon
Winkelmüller recebeu tanto feedback positivo que foi escolhido para ser
produzido. “Esse site cobre um vazio do mercado, pois novatos não têm
muitos recursos para fazer seu trabalho”, diz Simon. “Aqui na Áustria,
por exemplo, não há tradição em moda. Então, temos que tentar divulgar
nosso trabalho de maneiras diferentes.”

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Shorts de seda recebeu muitos votos e foi escolhido para entrar em produção
Shorts de seda recebeu muitos votos e foi escolhido para entrar em produção

O movimento chacoalha o status quo fashion e, por isso, não faz apenas amigos. Suzy Menkes, editora do International Herald Tribune desde 1988 e uma das mais importantes jornalistas de moda, já afirmou odiar crowdsourcing. “Não sou contra essa prática”, temporiza, em
entrevista ao MODASPOT. “Mas na nossa indústria, as grandes invenções
são aquelas que as pessoas nem sabiam que queriam até alguém mostrar a
elas. Um exemplo são as calças compridas para mulheres.”

Suzy afirma não achar uma boa ideia os estilistas contarem com a opinião alheia. “Você acha que o público aprovaria a primeira coleção de Comme des Garçons, com todos aqueles tricôs furados?”, diz.
“Criatividade deve ser alimentada e cultivada.”

Por outro lado, a criatividade sempre foi uma via de mão dupla. Estilistas procuram inspiração na moda de rua, tentando descobrir o que pessoas comuns querem adicionar aos seus guarda-roupas. Grifes investem
pesado em pesquisas de tendência, prática chamada de cool hunting, onde
profissionais circulam pelos mais importantes centros de moda do mundo,
fotografam fashionistas e tentam descobrir o que eles andam inventando
por conta própria.

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Um dos croquis enviados ao Garmz
Um dos croquis enviados ao Garmz

“Esses sites estão abraçando o futuro e mostram uma visão democrática do que significa consumir roupas no mundo de hoje”, afirma Dal Choda, professor de marketing de moda da universidade Central Saint Martin’s,
em Londres. Mas, para ele, as experiências de crowdsourcing e
crowdfunding são apenas uma pequena parte da que a indústria oferece.
“Moda não é só sobre comprar e ter a bolsa do momento. É também sobre
inspiração”, diz. “E a internet oferece, no lugar dela, conveniência e
informação.”





Conheça os sites

Catwalk Genius, inaugurado em janeiro de 2009.

Como funciona? Basta os estilistas criarem um perfil no site e postarem fotos dos seus mock-ups. Aí, é contar com o interesse do público, que pode fazer baixos investimentos (a partir de
30 reais) nas coleções. Depois de angariada todo o dinheiro necessário,
as peças vão para a produção. Os investidores ganham parte dos lucros,
entre outras regalias.

Palavra dos criadores: “Todo o lucro é dividido entre os apoiadores, estilistas e o site. Claro que isso depende das vendas. A colaboração que fizemos com a designer Katie Eary renderá até
12 libras para cada 10 libras investidas”, diz Helen Brown.

Balanço: a colaboração com Katie Eary foi a única que deu certo – os demais estilistas que participam do site ainda não conseguiram conquistar clientes. A culpa talvez não seja dos designers –
e sim do layout confuso da página. É difícil enxergar detalhes das
roupas, por exemplo.

Garmz, criado em julho de 2010.

Como funciona? Não precisa ter peça-piloto para participar. As pessoas podem postar apenas seus croquis. Depois, basta esperar o voto popular. O preferido do público será produzido – sem
custo qualquer ao designer – e colocado à venda no site. A primeira peça
pode ser comprada por 48 euros (cerca de 130 reais). O estilista ganha
5% dos lucro de cada peça.

Palavra dos criadores: “O interesse por mídias sociais está crescendo e abrindo novas possibilidades de trabalhar com a moda. Nossa esperança é a de que novos estilistas terão mais
oportunidades de fazer carreira na indústria graças à internet.”

Balanço final: é mais acessível que os outros sites, pois exige apenas um croqui. Tem peças com boas propostas, inclusive para homens, um diferencial. O lucro revertido ao estilista não é lá
muito alto – talvez a plataforma sirva mais como um plano de marketing
do que loja em si.

Fashion Stake, inaugurado em setembro de 2010.

Como funciona? Estilistas do mundo inteiro são selecionados por formulários que enviam ao site ou por olheiros. Fotos das coleções são postadas para o público conhecer e comprar
antecipadamente com desconto. O dinheiro angariado nesse processo
financia a produção das peças

Palavra dos criadores: “Ao lançarmos o FashionStake percebemos a necessidade que os clientes têm de fazer parte de uma experiência mais pessoal. Sites de e-commerce tradicionais são muito
simplistas: você entra na página, compra o que quer e pronto. Cada vez
mais, vemos sites que tentam construir um relacionamento com seus
clientes”, diz Vivian Weng.

Balanço final: o processo de seleção dos estilistas é rigoroso e pede que os interessados já tenham alguma experiência profissional e de mercado. Ou seja, não basta apenas ter uma ideia na
cabeça e uma agulha na mão. Ruim para os designers que querem encontrar
seu lugar ao sol. Por outro lado, a triagem criteriosa é refletida nas
roupas e acessórios expostos: são bonitos, criativos e interessantes.


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Comentário de Aline Simas em 12 dezembro 2010 às 11:10

Muito interessante este post!!! abrir espaço para as idéias do mundo só tem a acrescentar p o negócio!

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