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A Maioria dos Muçulmanos em Todo o Mundo Deseja a Liberdade em Vez de Propaganda

Capa da revista francesa "Charlie Hebdo", que traz cartuns satirizando Maomé

  • Capa da revista francesa "Charlie Hebdo", que traz cartuns satirizando Maomé

A decisão da revista satírica francesa “Charlie Hebdo” de publicar caricaturas de Maomé na quarta-feira (19) ameaça inflamar a atmosfera já tensa no mundo muçulmano. Mas comentaristas alemães argumentam que a Primavera Árabe provou que os muçulmanos preferem ter liberdade do que um aumento do radicalismo.

Com o lançamento do vídeo anti-islâmico nos EUA no início deste mês, a atmosfera entre o 1 bilhão de muçulmanos do mundo já estava tensa o bastante. Ao ver a fogueira, entretanto, a revista satírica francesa “Charlie Hebdo” decidiu colocar mais lenha, em vez de jogar água, na quarta-feira.

Filme norte-americano revolta islâmicos

Manifestantes entram em confronto com a polícia egípcia durante manifestação em frente à embaixada norte-americana no Cairo. O presidente do Egito, Mohamed Mursi, afirmou que apoia manifestações, exceto ataques a embaixadas e consulados. Nos últimos dias, o lançamento do filme americano "O Julgamento de Maomé", considerado anti-islâmico pelos manifestantes muçulmanos, gerou protestos no Oriente Médio Mais Mohamed Abd El Ghany/Reuters

Seguindo um método já desgastado para garantir alguns dias nos holofotes internacionais, a revista publicou várias caricaturas pouco lisonjeiras do profeta Maomé. Algumas das imagens mostram o profeta nu ou em poses semi-pornográficas, uma forma segura de se tornar alvo da fúria muçulmana. De fato, o governo francês agiu com rapidez e criticou a decisão da revista de publicar as caricaturas e ordenou o fechamento das embaixadas e outras entidades francesas em 20 países muçulmanos na última  sexta-feira (21).

Os EUA também expressaram preocupação com a possível resposta muçulmana às caricaturas, principalmente por serem publicadas após o incendiário filme amador “A Inocência dos Muçulmanos”. Alguns protestos contra o filme culminaram em violência, resultando em 30 mortes em protestos no mundo todo, inclusive de quatro norte-americanos no Consulado dos EUA em Benghazi, Líbia.

“Sabemos que essas imagens serão profundamente ofensivas para muitos e têm o potencial de ser incendiárias”, falou o porta-voz da Casa Branca Jay Carney aos repórteres na quarta-feira (19), referindo-se às charges da “Charlie Hebdo”. “Mas falamos repetidas vezes sobre a importância de sustentar a liberdade de expressão que é sagrada em nossa constituição. Em outras palavras, não questionamos o direito de algo assim ser publicado, só questionamos o bom- senso por trás da decisão de publicar.” 

“Um desenho nunca matou ninguém”

O governo francês também tentou andar na mesma corda-bamba na quarta-feira (19), ainda mais difícil por conta das recentes tentativas de melhorar as relações com a significativa população muçulmana do país. O ministro de Exterior francês Laurent Fabius enfatizou que a liberdade de expressão é inviolável, mas acrescentou: “é pertinente, inteligente, neste contexto, jogar lenha na fogueira? A resposta é não.”

Stéphane Charbonnier, editor-chefe da “Charlie Hebdo”, insiste que a provocação não era sua intenção. “A acusação de que estamos colocando lenha na fogueira na atual situação de fato me deixa irritado”, diz Charbonnier. “Depois do lançamento deste filme absurdo e grotesco sobre Maomé nos EUA, outros jornais responderam aos protestos com manchetes. Nós estamos fazendo a mesma coisa, mas com desenhos. E um desenho nunca matou ninguém.”

Não é a primeira vez que a “Charlie Hebdo” se torna um alvo por publicar caricaturas de Maomé. No ano passado, quando uma edição que continha uma charge de Maomé chegou às bancas, a redação da revista foi alvo de um ataque incendiário. Ninguém ficou ferido no incêndio, mas os escritórios da publicação foram destruídos.

A revista francesa não é a única revista satírica com os olhos voltados para o radicalismo islâmico este mês. A revista satírica alemã “Titanic” anunciou  que também pretende publicar uma “edição islâmica” no final deste mês. A revista foi parar nas manchetes recentemente por conta de uma capa que mostrava o papa Bento 16 urinando e defecando nas calças sob o título: “Encontrados vazamentos [de informação] no Vaticano!” O Vaticano processou para bloquear as vendas da edição mas no final voltou atrás. Os editorialistas alemães falaram das caricaturas da “Charile Hebdo” na última  quinta-feira (20).

O jornal "Frankfurter Allgemeine Zeitung", de centro-direita escreveu:

“A natureza emocional da discussão obscurece a visão do que está de fato acontecendo no mundo muçulmano. O ultraje no final dos anos 80 com a publicação do livro “Versos Satânicos” de Salman Rushdie ou mesmo em relação à publicação das caricaturas de Maomé na Dinamarca em 2005 foi incomparavelmente maior e mais intenso do que a fúria vista atualmente. Certamente, a maioria dos muçulmanos desaprova o vídeo deplorável, mas também desaprova a violência que tomou conta de algumas cidades. Mais do que qualquer coisa, entretanto, deve-se observar que os protestos recentes são minúsculos em comparação com os milhões que tomaram as ruas durante o pico da Primavera Árabe em favor de uma nova ordem política e respeito aos direitos humanos.”

“Aqueles que tomaram as ruas contra o filme sobre Maomé pertencem aos perdedores. O secretário geral do grupo militante Líbio Hezbollah, Hassan Nasrallah, por exemplo, chamou para protestos só depois que o papa havia deixado seu país. Ele não queria um conflito religioso, ele estava mais interessado em política. Enquanto apoiador do regime de Assad na Síria, ele perdeu sua aura de 'guerrilheiro de resistência' e agora está tentando atrair apoio com propaganda anti-americana. Em outros países, é a mesma história... Não é de surpreender que não haja protestos significativos na Turquia. Afinal, a economia turca está em boa forma.”

O jornal "Die Tageszeitung", de tendência esquerdista, escreveu:

“Pode-se especular bastante sobre as motivações que levam cristãos evangélicos e revistas satíricas francesas a usar o Islã como alvo de sua malícia e escárnio. Eles podiam simplesmente ser ignorados, mas os fanáticos que se manifestam em frente de embaixadas ocidentais de Cartum a Karachi fazem aos seus críticos o favor de corresponder ao clichê que é pintado deles. Entretanto, os protestos não representam os muçulmanos como um todo.”

“Militantes jihadistas, islamistas radicais e regimes islamistas no Irã e Sudão buscam usar a ira contra os insultos contra o Islã nos países ocidentais para seus próprios propósitos e para marginalizar ainda mais os poderes muçulmanos moderados. Mas o mundo árabe mudou desde a Primavera Árabe. A maioria das pessoas quer liberdade, pão e trabalho em vez de propaganda radical.”

O "Financial Times Deutschland" escreveu:

“Com a publicação das caricaturas de Maomé, a revista satírica francesa 'Charlie Hebdo' fez o que uma revista satírica deve fazer: sátira. A missão da revista é explorar os limites da política, do gosto e da sociedade e, quando necessário, transgredir esses limites... Esses limites estão muito presentes no que diz respeito ao Islã. O fato de que esta transgressão vêm do lado centro-esquerdista da do espectro político em vez dos populistas de direita, como acontece normalmente, torna-a ainda mais importante.”

“Desde que o Islã se tornou totalmente polarizado – instigados pelo Irã e Arábia Saudita – o medo em relaçãoa os fundamentalistas religiosos cresceu no Ocidente. São os fanáticos que cometem atos de violência, não meras caricaturas. Assim, as pessoas no Ocidente se tornaram temerosas de falar, desenhar ou, no caso do controverso filme sobre Maomé, disponibilizar a coisa errada.”

“Em todo caso, pouquíssimas pessoas viram o filme – apenas o trailer está amplamente disponível. E em alguns países muçulmanos, o acesso ao trailer na internet está bloqueado. Entretanto, fanáticos que estão lutando por poder e seguidores – ou estão ansiosos para distrair a atenção de seus próprios delitos – foram às ruas. E se não fosse por causa de algum filme obscuro ou caricaturas, outra desculpa teria sido encontrada. O filme e as caricaturas só fornecem uma oportunidade para a violência, mas não são sua causa.”

 

Tradutor: Charles Hawley

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