Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Ai Se Eu Te Pego..... - As Lições de Marketing de Michel Teló

Se as pessoas se engajaram com o cantor, certamente existe algo interessante para ser observado nesse fenômeno. Mas o que é, de fato?

De Chico Buarque a Gaby Amarantos, de Geisy Arruda a Marisa Monte, de Bidu Sayão a Banda Calypso, passando por Saci Pererê, maracatu, carimbó e frevo, não há como negar que temos um vasto e rico código cultural. E marcas tiram proveito disso, estabelecendo uma simbiose mútua entre a imagem que o artista empresta para a marca e vice-versa. Assim como cowboy do mundo de Marlboro, Michel Teló representa, na capa da revista Época, um fenômeno como "Segura o Tchan", "Stefhany Absoluta" ou celebridades tipo Big Brother, sejam eles efêmeros ou não. Na Europa, hoje, Michel Teló também é sinônimo de Brasil, quer você queira ou não.

O fato em si não está na pessoa, mas no conceito que ela representa. Michel Teló não é mais uma pessoa, mas uma marca, plena de seus atributos, muito bem definidos, no imaginário popular. Ivete Sangalo, Xuxa, Luan Santana, Sandy & Junior... Todos são marcas. Assim como o ex-presidente Lula é uma marca dotada dos mais fortes atributos, que mantém, até hoje, bastante elevados os seus índices de consideração, preferência, recompra e fidelidade. E porque não dizer como o Brasil, que é uma marca que vem conquistando lugares bem mais ensolarados e de prestígio?

Michel Teló não faz pré-teste da sua música, mas é bastante comum fazermos pré-testes de filmes antes de serem veiculados na TV. A ideia é avaliar o material e saber se o consumidor vai gostar ou não. Não quero julgar a eficácia do pré-teste, mas acredito que mais do que uma peça publicitária criativa, as marcas precisam se apropriar de elementos que sejam relevantes para a audiência, e não necessariamente divertidos ou engraçados. Assim, uma ação publicitária será mais ou menos engajadora se os elementos que fizerem parte daquela comunicação forem mais ou menos pertinentes à realidade cultural das pessoas. Desse modo, apropriar-se de um código cultural é a chave para uma comunicação de marca bem-sucedida. E muita gente acaba fazendo isso por acaso, assim como provavelmente Michel Teló e Luisa Marilac fizeram (Pohannn!).

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Imagem: divulgação


Mas, de fato, isso não é tarefa fácil ou tampouco deselegante, como diria Sandra Annenberg, especialmente para criativos acostumados ao glamour de Cannes e salas bem refrigeradas com paredes recobertas de pôsteres coloridos em endereços estilosos. Tudo muito bem distante do café da manhã regado a carne de bode do Recife ou do calor úmido dos trópicos amazonenses. O Brasil, meu caro leitor, é muito vasto para termos a pretensão de falar a mesma língua para todos os nossos povos. Por isso, defendo que marcas precisam de autonomia para adequar sua comunicação em função de sua cultura regional, porque relacionamentos são feitos localmente, por mais que a Globo pense o contrário!

Dizer que Michel Teló não faz parte e não representa também, neste momento, a cultura brasileira, é ser tão puritano quanto os católicos que queimaram bruxas há anos. Seja Gretchen, Legião Urbana ou Michel Teló, todos fazem parte do nosso código cultural. Ignorar isso é atestar a própria ignorância, bairrismo, regionalismo ou, pra ser mais direto, isso é puro preconceito! Posso não gostar de Michel Teló, mas confesso que tenho ouvido incansavelmente o "ai, se eu te pego" por aí. Então, aproveite o bom momento da música para tirar algum proveito dela. Afinal de contas, lá no fundo, bem que você gostaria que sua marca ou o presidente da sua empresa estivessem estampando a capa da revista Época, não é verdade? Muita gente que está criticando a atitude da revista Época age instintivamente por puro despeito, porque não se pode negar que Michel Teló desfruta, hoje, de uma posição muito privilegiada e invejada em termos de saúde de marca, algo que milhões em comunicação, por anos, não conseguiram resolver para um grande punhado de marcas.

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Capa da revista Época de 2 de janeiro (Imagem: reprodução) 


Se as pessoas se engajaram com o Michel Teló, certamente existe algo interessante para ser observado nesse fenômeno. Para se ter uma noção do sucesso, dias depois do cantor lançar a versão em Inglês "Oh, If I Catch You" do seu mais novo hit, a música passou a ocupar o topo das paradas do iTunes em muitos países europeus, ultrapassando artistas como Coldplay e Adele. Outro fato importante é que a música também se engajou com um código cultural muito forte no mundo: o futebol! Não me refiro somente ao vídeo do Neymar fazendo a dancinha no vestiário (que está bombando no YouTube), mas também aos jogadores brasileiros, na Europa, que começaram a imitar a mesma coreografia depois dos seus gols. A marca Michel Teló emprestou um código cultural para lançar um sucesso sertanejo, que emprestou outro código cultural – o futebol – para se alastrar entre marcas fortes – os jogadores – que dão e emprestam sua imagem mutuamente. É uma cadeia alimentar mercadológica perfeita.

Talvez você esteja se perguntando agora: o que devo fazer para ter sucesso na minha comunicação, assim como o Michel Teló fez com o seu "Ai, se eu te pego"? E devolvo esta pergunta com outras quatro e gostaria que você fizesse o exercício de, todas as vezes que pensar em propaganda, aplicar este questionário simples, já que não podemos pensar em sucesso "por acaso":

1. Nesta mensagem que quero comunicar, compartilho um interesse real com as pessoas?

2. A proposta tem relevância cultural?

3. Estou sendo útil para as pessoas?

4. Estou atuando no meu core business?

Se as respostas forem todas afirmativas, vá em frente. As chances das pessoas se engajarem, de fato, com a comunicação que você propõe, tendem a ser bem altas. Se no seu score final já consta apenas um não, volte ao briefing e acredite: a grande ideia está explícita no comportamento do seu consumidor, bem na frente do seu nariz e ela é mais simples do que você imaginava. Ai, se ela te pega!

Fonte:|http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/as-licoes-de-m...

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Comentário de Tadeu Bastos Gonçalves em 10 janeiro 2012 às 22:54

Bento, o pessoal da Fiat deve estar tudo louco então, colocaram todo portfólio de veículos no primeiro programa, hoje, com 70% de IBOPE. Voc^r por certo não viu, mas eles conseguiram inclusive mostrar o tamanho da "Wagon" colocando 16 pessoas lá dentro...devem estar lá ainda.

Precisamos aprender com a língua portuguesa, existe a culta, a coloquial, a popular, o economês, o internetês, o policialês... e todos cabem nela...

Comentário de Eduardo Ferreira Blatt em 10 janeiro 2012 às 20:03

Creio que a ideia deste artigo, é fazermos pensar que o que irá diferenciar nossa marca, nem sempre está na ação que seria primeiramente obvia.

Comentário de Jonas Vieira em 6 janeiro 2012 às 12:54
Pelo amor de Deus e do bom senso... MARKETEIROS de plantão.
Querer traçar paralelos entre o sucesso xulo do Teló como uma estratégia de MKT é forçar a barra.
Se Michel e seus empresários fossem aplicar estas 4 perguntas que vcs sugerem antes de lançar a propaganda ou de lançar o produto....certamente ele ficaria rebolando no grupo gaúcho do qual ele fazia parte.
E quanto a Revista Época, deveria ser pelo menos um pouco mais sensata na manchete, já que em seu conteúdo não o é. Dizer que "ele traduz os Valores culturais de todas as classes... " só demonstra que o mundo da Época é tão minimalesco quanto o conteúdo da letra do Teló.
Comentário de vanda guerra maffra em 6 janeiro 2012 às 12:09

Puritanismo ou breguisse à parte, vamos  lembrar aqui de uma frase do escritor Guimarães  Rosa que foi adido cultural do Brasil em outros paises -

¨Quem quer internacionalizar, deve  primeiro regionalizar.¨

O sucesso do Teló ter atravessado as fronteiras mostra que o mundo está de olho no Brasil.

Por isto, um bom design brasileiro de bom gosto e original , com um marketing  bem feito é o

caminho para atravessarmos fronteiras e vencer tb aqui dentro.

Sempre que um produto brasieiro faz sucesso lá fora é porque ele é original do Brasil e acaba sendo sucesso aqui também. Vejam as sandálias Havaianas como exemplo . Até fazer sucesso na Europa e nos EEUU aqui eram chinelos.

Comentário de Ricardo Rossi em 5 janeiro 2012 às 17:34

É lamentável que este caso seja exemplo para um marketing bem sucedido. Afinal o que é um marketing bem sucedido? É apenas o número que ele representa, sem se importar com a mensagem e o conteúdo? No nosso atual momento, onde é um vale tudo, consideramos apenas com os números do sucesso instantâneo, sem observar o apelativo para se chegar a isto. Hoje muito tem vergonha de mostrar suas verdadeiras posições. Neste final de ano, estive de férias em Cartagena e lá, assim como em outros lugares, esta música tocava sem parar. Quando falávamos que somos brasileiros, até as crianças cantavam a música e faziam a dança insinuando um coito. Eu não tenho vergonha de falar que senti vergonha. Se quisermos ensinar aos nossos filhos que tudo o que vale nesta vida é apenas um coito, vamos em frente. Não vamos falar em limites. Talvez o próximo sucesso instantâneo seja uma jovem que, enquanto canta, simule um ato de sexo com o microfone. E porque vai fazer muito sucesso, diremos que é um marketing bem sucedido. Não vamos confundir senso comum com bom senso. O primeiro é a massificação de uma idéia, sem questionar a mesma para não contrariar o meio. O segundo é análise e interpretação de um pensamento.

No início do século passado, inflamada pelos jornais de oposição ao governo do presidente Rodrigues Alves, a população do Rio de Janeiro criou um senso comum de que a vacina contra a varíola violava as pessoas. Quando o governo instituiu a obrigatoriedade desta vacina o povo saiu às ruas, Oswaldo Cruz quase foi linchado e Rodrigues Alves por pouco não foi destituído. Depois se chegou ao bom senso dos benefícios da vacina e milhares de vidas foram salvas. Os jornais fizeram um marketing bem sucedido. Afinal quase todos entraram nesta onda de violação da vacina. Mas isto matou de varíola quase uma geração inteira de cariocas. Não percamos o bom senso em prol de um sucesso instantâneo.

Comentário de Tadeu Bastos Gonçalves em 5 janeiro 2012 às 17:08

Agindo assim, você está parecendo o Pereirão...só falta o dinheiro.

Comentário de Tadeu Bastos Gonçalves em 5 janeiro 2012 às 15:36

No campo musical se iguala ao não saudoso "deixa a vida me levar", que virou hino comemorativo na copa de 2.002. Já a "pegada" (sem trocadilho) de marketing foi uma sacada genial de um gênio no assunto. Parabéns pelo artigo.

Comentário de LEILA MARIA DOS SANTOS em 5 janeiro 2012 às 12:35

Nunca gostei dessa música: é repetitiva, apelativa, vulgar. Mas sou obrigada a concordar que representa a nossa cultura de massa e portanto nos estereotipa - como quase tudo referente ao Brasil. Parabéns pelo artigo! Gostei e concordo!

Comentário de Ivan Postigo em 5 janeiro 2012 às 9:37

Há uma diferença entre onda e tendência.

Na onda muitos cantores e músicas nao têm perenidade. A maioria vira comodity e termina com  Cd e DVd nos cestões das grandes redes a R$ 3,00, com poucos sucessos, às vezes apenas um.

Não onda, sucesso rápido e passageiro, que engana olhos e mentes. Teló hoje "Te logo "amanhã.  Na tendência, um baque. Sucessos repetidos e eternizados, um Bach.

Marcas precisam ser feitas para durar e a juventude depende da fonte em que se bebe.

 

Comentário de José Carlos Jeske em 4 janeiro 2012 às 19:08

Com certeza essa reportagem chama a atenção das empresas também.. para PEGAR A SUA MARCA no mercado!!

Parabéns

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