Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A geração mais nova, que nasceu e cresceu com o digital, está a ter cada vez mais influência na casa. Da tecnologia à forma como os espaços estão organizados, os alfas estão no centro das decisões dos pais e, com isso, estão a mudar a forma como o lar é percecionado e vivido.

A geração alfa está a crescer numa altura em que as expectativas relativamente ao ambiente da casa estão a mudar radicalmente. A maior diferença entre os alfas e as gerações anteriores é que têm estado online desde o dia que nasceram. Para esta geração de crianças, o acesso à tecnologia é mais importante que as posses materiais e até do que os animais de estimação.

Isso tem impacto na forma como veem o mundo, desde a sua atitude de mente aberta para as realidades digitais estendidas (XR) até às suas expectativas de cultura a pedido. Enquanto as gerações Y (millennials) e Z são muitas vezes descritos como “nativos digitais”, o que distingue a geração alfa é que a tecnologia foi padronizada e integrada na sua vida desde o primeiro dia. Enquanto as gerações mais velhas podem abordar a Inteligência Artificial (IA) com algumas dúvidas, para a alfa é apenas mais uma forma de tecnologia que fornece soluções em casa.

A casa da geração alfa terá mais probabilidade de ser num ambiente urbano do que para as gerações anteriores. As Nações Unidas preveem que mais 2,5 mil milhões de pessoas irão viver em cidades até 2050. Ao habitar espaços mais pequenos, vão crescer num ambiente que prescinde da propriedade em favor de empreendimentos com áreas comuns e recursos partilhados.

Além disso, os pais da geração alfa são sobretudo millennials, que evoluíram em termos de expectativas de carreira e redefiniram “qualidade de vida”. Muitas famílias da geração alfa não têm dinheiro para comprar uma casa e, por isso, cresceram a valorizar a liberdade em detrimento da propriedade. E tal como os seus pais, a geração alfa deverá ficar afastada da propriedade de casas devido à disparidade de preços.

A casa da família, anteriormente considerada o ambiente físico estável que se mantém como uma constante enquanto a criança cresce, não vai existir para esta geração. À medida que a IA, a impressão 3D e a realidade aumentada (AR) se tornam mais sofisticadas, estas tecnologias vão fornecer soluções que serão adotadas pela geração alfa.

Tem havido também um movimento na maior parte dos países em direção a uma noção mais aberta e flexível de estrutura familiar, com múltiplas famílias a coabitarem, pais do mesmo sexo, famílias monoparentais e crianças nascidas fora do casamento.

Pioneiros da tecnologia doméstica

De acordo com um estudo de 2017 da Ofcom, cada vez mais crianças entre os 5 e os 15 anos têm smartphones e tablets, com 41% a terem um smartphone e 44% a terem um tablet em 2018, e 55% das crianças entre os 3 e os 4 anos usam regularmente um tablet. Um terço dos pais britânicos acredita que a tecnologia é mais importante do que brinquedos, férias e animais de estimação para os seus filhos da geração alfa, segundo um estudo de 2018 da Hotwire Global. O estudo concluiu que isso está já a mudar o ambiente em casa, com a geração alfa a ser cada vez mais dominante no que diz respeito a compras de tecnologia para a casa.

Os pais da Europa e dos EUA concordam que a geração alfa está a aprender a usar tecnologia a um ritmo muito maior do que eles, segundo a pesquisa da Hotwire. «Uma grande percentagem dos pais, quando vão comprar um dispositivo tecnológico, não pensam apenas como os seus filhos o vão usar e perguntam também a opinião da criança antes da aquisição», afirma Emma Hazan, responsável pelo consumidor na Hotwire Global. «Os tablets estão a mudar e os miúdos têm muito mais poder na casa da família», revela.

A sobre-exposição a ecrãs é uma preocupação comum para os pais da geração alfa e isso está a encorajar as famílias a adotarem tecnologias em casa que não os exigem. Dispositivos de voz, especialmente, estão a ganhar terreno como meio principal de controlar dispositivos de IA e essa é uma forma través da qual a geração alfa será encorajada a interagir com interfaces digitais.

Bethany Koby, cofundadora da empresa de brinquedos tecnológicos Technology Will Save US, assegura à Wired que a voz como meio de interatividade vai impactar a vida doméstica da geração alfa. «Francamente, estou entusiasmada por o ecrã desaparecer», confessa, acrescentando que a tecnologia humanizada que se foca no reconhecimento de voz ou interfaces gestuais vai permitir à geração alfa interagir com o ambiente à sua volta mais do que fazem agora.

Moldados pela internet das coisas

Uma grande tendência que está a moldar a experiência com tecnologia da geração alfa é a inteligência artificial. A “internet dos brinquedos”, que se publicita a si própria junto da geração alfa, incorpora tecnologias como reconhecimento de imagem ou voz. Exemplos incluem os robôs caseiros da Anki e a Hello Barbie da Mattel. Além disso, a IA é um lugar comum em casa para esta geração, desde dispositivos como a Alexa da Amazon aos aspiradores robôs.

Uma equipa de investigadores do MIT Media Lab realizou recentemente um estudo piloto para explorar como as crianças interagem com os dispositivos de IA. Concluíram que a maioria de um grupo de crianças entre os 3 e os 10 anos consideram que os “agentes” de IA são «amigos e de confiança» – mais do que as gerações mais velhas.

Num artigo recente da Quartz, Cynthia Breazeal, professora do MIT que desenvolve robôs, argumenta que os “robôs sociais” representam a próxima fase da IA em casa e que esses robôs podem fornecer soluções para problemas que são únicos ao ambiente da geração alfa.

Cynthia Breazeal acredita que numa era onde há poucos pais que não trabalham fora de casa e cada vez mais famílias onde os dois progenitores trabalham a tempo inteiro, os robôs sociais podem ser a solução. «Crianças em todo o mundo estão a gastar cada vez mais tempo em frente de ecrãs, criando uma geração de cidadãos mundiais que cresceram com interações automatizadas e despersonalizadas como norma… Mas robôs humanistas podem ajudar a juntar-nos. Podem ser desenhados para entregar um tipo diferente de relação com as pessoas que não é apenas útil, mas emocionalmente positivo», explica.

Breazeal refere que não devem ser vistos como substitutos de humanos, mas como formas de enriquecer a vida familiar, adaptando os seus comportamentos a membros individuais. «Os robôs sociais podem servir como parceiros de uma prática personalizada para ajudar com os trabalhos de casa e reforçar o que as crianças aprenderam durante o dia na escola. Para além de ajudar a encontrar receitas e encomendar mercearia, podem até ser o sous-chef pessoal ou até ajudar uma pessoa a aprender a cozinhas», destaca.

Bem-estar em foco

A geração alfa está a crescer num ambiente onde o bem-estar e a consciência em relação à saúde mental estão enraizados. Espaços de tipo comunitário vão igualmente encorajar comunidades intencionais que são pensadas para manter os residentes ligados. Isso é importante para os pais millennials, que são a geração mais solitária, de acordo com o jornal Pscychological Medicine.

A Forgebank, uma empresa de desenvolvimento de coabitação sediada em Lancaster, no Reino Unido, cria casas com múltiplos pontos de encontro para membros da comunidade para encorajar a interação pessoal. Até agora fez desenvolvimentos imobiliários em Lancaster, Bristol, Stroud, Brighton e Dorset.

A sua missão é «assegurar que o ambiente da casa estimula a conectividade e o bem-estar. Estes bairros cooperativos são desenhados para encorajar tanto o contacto social como o espaço individual e são organizados, planeados e geridos pelos próprios residentes». Os residentes têm acesso a uma casa comum com comodidades partilhadas como uma sala de jantar, um espaço para as crianças brincar, oficinas de trabalhos manuais e lavandaria.

Outros conceitos incluem a Serenbe, uma «comunidade de bem-estar» de casas perto de Atlanta, na Geórgia, pensada para apoiar o bem-estar emocional e espiritual dos residentes. Integrada numa reserva natural juntamente com uma quinta orgânica, o foco está na criação de uma comunidade conectada e em ligação com a natureza.

A comunidade compreende 300 casas, assim como restaurantes, um mercado agrícola, hotel, spa, livraria e uma casa de brincar progressiva elogiada pelo The New York Times. «Crianças livres» são encorajadas a correr pela comunidade sozinhas.

A ideia da casa como um local que beneficia o bem-estar e a saúde mental das crianças está cada vez mais a ser desenvolvida pelos designers.

A Children Village, uma escola criada pelo gabinete de arquitetura Aleph Zero, foi a vencedora do 2018 RIBA International Prize. Através de materiais locais sustentáveis, do design e da utilização do espaço, a intenção era que o edifício criasse «transformação social, uma ferramenta que transcende a construção e cria uma ligação profunda entre os jovens e os ancestrais e o conhecimento».

Interiores minimalistas para brincar

O quarto das crianças foi, no passado, o único local onde se podia brincar em casa. Enquanto para gerações anteriores havia áreas “proibidas” na casa, como a sala de jantar, isso já não acontece com a geração alfa.

Os pais da geração alfa distinguem-se deliberadamente dos estilos de parentalidade mais rígida das gerações anteriores, preferindo afirmar-se como amigos dos filhos do que alguém a quem eles têm de obedecer.

Se há duas tendências que definiram o gosto em termos de interiores dos pais millennials da geração alfa é a paixão pelo minimalismo e um sentido de divertimento e irreverência. Os millennials foram a geração que nos deu bares de piscinas de bolas, museus dos gelados, cafés com cereais de pequeno-almoço e livros de colorir para adultos a chegar ao topo de vendas da Amazon.

Por isso, embora a geração alfa deva crescer num ambiente pequeno e minimalista, a casa é também um sítio onde brincar é encorajado como forma de estimular a criatividade individual, as descobertas e até o bem-estar mental – tanto para os pais como para as crianças.

Customizável e pouco permanente

Tecnologias como a inteligência artificial, a impressão 3D e a realidade aumentada estão a tornar-se comuns, à medida que a geração alfa cresce – e consequentemente vai tornar-se normal para este grupo. A geração alfa também espera o imediato e a customização, graças ao facto de estar rodeada da cultura a pedido desde que nasceu. Além disso, esta geração tem mais probabilidade de crescer em famílias nómadas orientadas para a tecnologia, com um sentido menos permanente e mais fluído de casa e estas tecnologias deverão responder a essas novas exigências da família da geração alfa.

Na Semana de Design de Milão de 2018, o Caracol Studio criou um parque de brincar impresso em 3D, com o objetivo de mostrar uma solução sustentável para fazer novos produtos. O material é obtido a partir de ácido polilático, que deriva de matérias-primas naturais como o milho e a cana de açúcar, por isso pode ser decomposto.


Caracol Design Studio

Os interiores da casa também vão tornar-se mais imediatos, importantes e customizáveis para a geração alfa, graças a desenvolvimentos na tecnologia de realidade virtual. Atualmente, a indústria de interiores começou a fazer experiências com a realidade aumentada em termos de tomada de decisões na decoração, dos grandes atores como a Ikea às start-ups como a Opendesk. Enquanto geração que dá prioridade à tecnologia face a posses materiais, a alfa pode dar origem a um novo tipo de casa que combina os mundos físico e virtual com a realidade estendida (XR).

Num artigo no Quartz, Ian Pearson imagina uma casa do futuro com posses mínimas e a “pele” da casa a estar na cloud. «Ao usar realidade virtual, seremos capazes de sobrepor arquitetura digital e design numa superfície, acrescentar depois alguns animais de estimação, plantas, extraterrestres, zombies ou o que quisermos na sala», escreve. A realidade aumentada pode ser usada para criar uma ligação mais emocional com a casa para a geração alfa, mesmo que essa casa não seja permanente.

https://www.portugaltextil.com/alfas-influenciam-casa/

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