Ele evita dar opinião sobre a maneira como o presidente Lula conduz suas manifestações contra o alto patamar da Selic, mas afirma que a queda dos juros poderia ter sido maior.
Baseado em seu longo histórico varejista, Klein avalia que, passado um ano e meio do estouro do escândalo contábil da Americanas, o resultado que ficou foi uma imagem fragilizada do varejo nas negociações com os bancos. “A imagem que ficou para o mercado foi a de que o varejo todo é ruim”, afirma.
Já no mercado automotivo, o empresário vê a chegada dos carros chineses com cautela. Diz que sua empresa de concessionárias, a CB Autos, que em 2023 expandiu sua rede para 12 unidades no estado de São Paulo e representa marcas como Jaguar, Land Rover, Mercedes-Benz e Honda, está estudando parcerias para a revenda de uma marca do gigante asiático, mas levanta preocupações com o atendimento de seus clientes no pós-venda.
“O consumidor brasileiro quer carros novos, quer carros bons, elétricos ou não elétricos, híbridos, novas marcas. Mas ele também quer ter a segurança de que, se houver qualquer problema no carro, não tenha que esperar 60 dias para importar a peça para consertar o carro”, diz.
Outro assunto que envolveu o nome do empresário nos últimos meses, a disputa pela herança de seu pai —o fundador das Casas Bahia– já foi vencida, diz Michael Klein. Ele afirma que o irmão Saul, que o acusa de ter falsificado assinaturas do pai em documentos, já perdeu e pode seguir entrando na Justiça contra quem quiser. Em maio, o inquérito foi arquivado por decisão da 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de SP.
A sua empresa, Grupo CB, vinha investindo em um novo modelo de galpões logísticos, localizados dentro de São Paulo. Qual foi o resultado? Terminamos um galpão em Itaquera, dentro da capital paulista, de aproximadamente 10 mil metros quadrados. Dividimos em 8 boxes. Vieram muitas empresas de logística, a metade já está alugada. Estar na capital ajuda porque, hoje, o consumidor compra pela internet e quer receber no mesmo dia.
Como avalia o avanço das plataformas asiáticas no Brasil? E o debate da isenção do imposto de importação para as compras de até US$ 50? [No fim de junho, o governo publicou medida provisória para iniciar a chamada taxa da blusinha a partir de agosto]. Eu só acho que o governo, Receita e outros órgãos têm que dar igualdade de condições e não só beneficiar os sites estrangeiros que vêm para cá. Se uma empresa tem seu marketplace aqui e paga X de impostos, não pode abrir exceção para um site estrangeiro trazer produto isento. Tem de ter equilíbrio de tributação.
Competição é ótimo, mas tem que ter regra igual para os dois. Não pode privilegiar um em detrimento de quem está gerando emprego. As empresas nacionais, ou estrangeiras baseadas aqui, estão gerando emprego, salário e riqueza para a população de modo geral.
Ainda nesse tema das plataformas chinesas, a Magalu anunciou uma parceria em que vai vender os seus eletrodomésticos na plataforma do AliExpress. Que efeito isso traz para o setor? Simplesmente vai ser mais um canal de vendas. Se você abre em outras plataformas, tem outros clientes que não vão em uma plataforma só. Eu acho válido esse tipo de parceria porque é mais um canal de vendas. É a mesma coisa que você abrir mais uma filial, uma loja online. É uma plataforma a mais. Eu não vejo isso como algo ruim para o mercado.
O sr. está fora da gestão da Casas Bahia, mas segue como principal acionista. Como tem avaliado a situação da empresa, que pediu recuperação extrajudicial recentemente? Quais são as perspectivas? Sim, minha família e eu somos apenas acionistas da Casas Bahia. Tenho acompanhado que a prioridade da rede é a recuperação dos resultados. E, claro, torço e acredito na execução desse projeto.
Passado um ano e meio do estouro do caso Americanas, o que ficou de reflexo para o varejo em geral? Eu acho que, até hoje, continua nos bancos uma imagem de que o varejo todo é frágil. A imagem do varejo ficou deteriorada de modo geral. Embora eles estejam resolvendo, pagando, pondo dinheiro, parece que estão procurando regularizar, mas a imagem que ficou para o mercado foi a de que o varejo todo é ruim. Deixou isso para todos os outros. O mercado estava fluindo, mas, com esse evento, rompeu.
E o que tem achado da trajetória dos juros? Sem entrar em lado político nenhum, tá. Eu sou apolítico, e a empresa é apolítica. Mas eu acho que nós, o governo brasileiro, o país, sermos considerados como as maiores taxas de juros do mundo, é muito ruim. A gente ainda poderia ter reduzido mais as taxas de juros, alguma coisa num patamar mais aceitável. Receber troféu de custo do dinheiro mais caro do mundo é desestimulante para as indústrias que querem ampliar.
É uma visão que concorda com a do presidente, e qual é a sua avaliação sobre a maneira como ele conduz essas conversas? Não posso dar opinião sobre como ele vai conduzir. Você me perguntou sobre a taxa de juros, e eu acho que ela ainda está muito alta.
Um Banco Central lulista daqui a alguns meses deve ajudar a baixar esses juros? Não sabemos. O Banco Central é independente. É igual nos Estados Unidos, o FED, que regula a taxa de juros, não depende de quem é o presidente. A pessoa tem que pensar país, independentemente de governo. A gente receber prêmio de taxa mais cara do mundo, juro real mais caro… Acho que a gente teria mais margem para dar uma redução.
Como tem visto a economia em geral, com as observações do presidente, as observações sobre gasto tributário, a dificuldade com meta fiscal? Olhando para trás, nesse ano e meio de governo, em que ponto estamos? A gente está vendo que, pelo menos nos dados que são divulgados, o governo desse ano e meio aumentou a arrecadação. As empresas estão pagando mais impostos. A gente está percebendo, vamos dizer: não vai mais poder abater isenção de juros do capital próprio, vai ter que pagar o imposto sobre o capital, a própria valorização do dólar perante o real. É o real que está se desvalorizando. Foi a moeda que mais desvalorizou.
A gente está sentindo que os produtos que vêm para cá importados estão ficando mais caros. O custo é todo mais caro, porque o dólar sobe, o euro sobe, e o real, por problemas de governo, fiscais, alguma coisa, não consegue manter o equilíbrio.
Alguma coisa tem que entrar num acordo entre governo federal, Banco Central, para chegar numa maneira para a gente não ficar com taxa de juros tão alta, porque a arrecadação está subindo. Está todo mundo recolhendo mais, está custando. E se alguém está pagando mais imposto, está repassando o custo para os produtos. Como vai o mercado de automóveis, em que a sua empresa também atua com redes de concessionárias?
O braço de auto é mais lento, porque, basicamente, está todo tomado no Brasil, as revendas e as marcas. Estão entrando marcas novas chinesas, e eles também vão procurar mais espaço e ter mais lojas.
Então, se existe um potencial de consumo de automóveis no país, entrando mais players chineses, vai dividir um pouco mais. A fatia de cada um no bolo vai ser um pouco menor daqui para a frente, porque já entraram umas 4 ou 5 marcas e já tem previsão de entrar novas marcas também. O pessoal está vendo que está dando certo, então, estão importando, trazendo carros de diversas marcas. E como isso se reflete na sua empresa de concessionárias? Isso é para o país inteiro. Mas para nós, provavelmente, não digo já, mas a médio prazo, pode ser que a gente também vá aderir a uma nova marca que possa me interessar, que ainda não esteja aqui no país.
Vocês já estão estudando? A gente já vai estudar. Mas queremos procurar chineses que já tenham contrato para comprar fábrica e montar fábrica aqui no país, até para dar garantia de pós-venda.
Nós fomos procurados por um grupo chinês. [Eles disseram]: ‘Nós queremos, primeiro, vender e depois, se der certo, vamos fazer a fábrica’. Eu falei: ‘Não. Então, faz a fábrica, e depois, na hora em que você for montar uma rede, você nos chama para a gente participar da rede’.
O consumidor brasileiro quer carros novos, quer carros bons, elétricos ou não elétricos, híbridos, novas marcas. Mas ele também quer ter a segurança de que, se houver qualquer problema no carro, não tenha que esperar 60 dias para importar a peça para consertar o carro.
O carro é máquina. Se deu algum problema, ele precisa de uma rede de concessionários, e a rede precisa ter o respaldo de um fabricante que vá ter as peças do carro aqui.
Existem duas maneiras de ter as peças aqui. Ou o chinês vem e aluga um galpão e traz todas as peças, pela Lei Ferrari, que vai precisar para os próximos dez anos —se ele mantiver o estoque de peças aqui e der a segurança para quem vai comprar o carro, ele também dá certo. Ou ele fala: ‘Eu não quero ser só importador, eu quero produzir carros aqui, eu importo as peças, monto os carros aqui e vendo para o consumidor com garantia nacional’.
Então, hoje, o que está acontecendo: estão vindo os carros, eles vêm da China, do Japão, aí, se precisa de uma peça que quebrou, tem que esperar a importação da peça. Para importar, ele tem que mandar fazer no país de origem e embarcar num avião ou navio, para depois chegar na mão do consumidor. Isso vai demorar 60 dias, ninguém quer comprar um carro para ficar parado em uma oficina mecânica.
Como está o assunto da briga com o seu irmão Saul Klein sobre a herança, um tema que ficou muito exposto publicamente? Recentemente foi publicado que ele iria à Justiça contra os sobrinhos? Saiu a decisão final do arquivamento. Ele perdeu. Pode ir contra quem ele quiser. Não quero criticar nenhum jornal. O que eu acho errado é o seguinte: se ele entra com uma petição, seis horas depois já está na mão dos jornalistas. E os jornalistas não dizem o encerramento. Vocês só querem saber quando surgiu um escândalo. Não dizem como acabou. Tem a sentença, ele apelou para o tribunal, que encerrou o caso.
O arquivamento foi noticiado. Mas vocês não dão a mesma ênfase. Quando sai a petição, fazem uma página inteira. O arquivamento são as quatro linhas finais. Vocês dão ênfase ao início do processo.
RAIO-X | MICHAEL KLEIN, 73
Filho do fundador da Casas Bahia, Samuel Klein, Michael começou a carreira na empresa, em 1969, e assumiu o comando posteriormente. Em 2010, concluiu a associação com o Ponto Frio, que deu origem à Via Varejo, e criou o Grupo CB em 2011, iniciando atividades em outros mercados, como galpões comerciais e centros de distribuição. Deixou a presidência do conselho de administração da Via Varejo em 2020
Por Joana Cunha |
Fonte: Folha de S.Paulo
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