Nove meses após a eclosão de uma das maiores crises corporativas no Brasil, a Americanas está próxima de chegar a um acordo definitivo com seus credores. Debruçados na tentativa de um consenso desde abril, a varejista e os bancos vinham discutindo o detalhamento sobre uma solução financeira para a empresa. Agora, chegaram a uma nova proposta, que busca uma saída para equacionar a grave crise financeira da varejista, agravada por uma fraude de mais de R$ 20 bilhões e dívidas declaradas de R$ 42,5 bilhões.
Na prática, o desenho da proposta é o mesmo, mas houve avanço em relação aos valores e condições previstas, em especial em relação à capitalização a ser feita pelo trio de acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Esse aporte do trio foi sempre defendido pelos bancos como um ponto de partida para um acordo e entendido como determinante para uma saída da empresa da crise, que está em recuperação judicial.
Na proposta prévia estava previsto um aporte de R$ 12 bilhões pelo trio, valor que já considerava R$ 2 bilhões do financiamento DIP (debtor in possession) já feito pelos sócios. Outros R$ 2 bilhões do valor total, contudo, só seriam feitos em caso de necessidade da empresa, ou seja, apenas em caso de declarada falta de liquidez. Essa proposta não tinha agradado aos bancos, desde o início. A visão dos credores era de que todo o valor deveria entrar no caixa da empresa, sem condicionantes.
Essa pressão surtiu efeito. Agora o acerto foi de que todo o valor (os R$ 12 bilhões) será injetado na empresa no curto prazo. Mas também levando em conta, no valor total, o empréstimo DIP, lembrando que R$ 1,5 bilhão já foi tomado pela empresa, que precisou de capital para seguir o curso de seu negócio.
Fora isso, ficou estabelecido o quanto da dívida dos bancos credores, de cerca de R$ 20 bilhões, será convertido em ações: R$ 12 bilhões. Isso significa que o endividamento será reduzido nesse valor e as instituições financeiras se tornarão acionistas relevantes da Americanas na conclusão desse processo.
Para o restante das dívidas, o que inclui as emissões no mercado de capitais, caso das debêntures, a proposta inclui uma nova emissão de papéis, de forma a refinanciar as dívidas concursais existentes. O valor dessa nova emissão será de R$ 1,875 bilhão, segundo a Americanas.
Por fim, o novo documento trouxe o valor da recompra antecipada de dívida, que será feita com um desconto em relação ao valor de face. Para essa tranche serão dedicados R$ 8,7 bilhões.
A nova proposta, segundo fontes que acompanham a negociação, se trata de um passo relevante para um desfecho das longas negociações com os bancos, processo que incluiu várias batalhas na Justiça.
Para que o acordo possa, enfim, ser fechado, e o plano de recuperação judicial seja encaminhado para votação em assembleia, o foco está agora na divulgação de demonstrativos financeiros, item que tem sido apontado como crucial para que a varejista e credores possam chegar a um acerto final. A promessa da varejista é de que os balanços auditados sejam entregues até o fim do mês, sendo que o trabalho de revisão dos demonstrativos está nas mãos do auditor BDO.
“A companhia segue empenhada nas negociações destes termos com seus credores financeiros, em busca de uma solução sustentada que permita a continuidade de suas atividades”, apontou a empresa, em fato relevante divulgado ao mercado. O banco de investimento Rothschild assessora a Americanas nas negociações com as instituições financeiras. Já os bancos credores estão representados pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto.
No dia a dia da empresa está em curso um ajuste do negócio. Segundo documentos que constam dos autos do processo de recuperação judicial, entre 19 de janeiro, quando foi feito o pedido de recuperação judicial, até o dia 17 de setembro, 88 lojas foram fechadas. Segundo os dados mais recentes, a rede tem 1.794 pontos de venda.
Por Fernanda Guimarães
Fonte: Valor Econômico
https://sbvc.com.br/americanas-esta-perto-de-acordo-com-bancos/
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