Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Produzir até que é fácil, se o adubo é bom, a semente excelente, as chuvas chegam na hora certa e o apoio financeiro é correto. Ou se os insumos estão disponíveis na porta da fábrica, as máquinas lubrificadas, o pessoal treinado e motivado. Exportar também não seria problema, pois o Brasil tem imagem positiva, mínimo de conflitos ideológicos com outras nações, o futebol e o samba ajudam a vender. O problema é que os brasileiros conseguem criar dificuldades cada vez maiores para si mesmos. E as mercadorias estão cada vez mais distantes dos navios, a considerar os saldos da balança comercial brasileira.

Seria bom debater aqui assuntos como a vantagem deste porto sobre aquele, de se usar uma rota comercial ou outra, como fatores diversos afetam essas escolhas... a logística é um tema fascinante para se observar! Porém, no Brasil pesam mais outros fatores que uma escolha de rotas e modais para transporte.

Foto: Danny Bueno

Aterrissagem forçada... 

Agora mesmo, debatem-se questões como a guerra cambial entre os países, a desvalorização do real já não servindo mais aos interesses do comércio exportador. Um dos ingredientes deste debate é a questão salário versus produtividade. O argumento: os salários têm se elevado no Brasil sem um ganho correspondente de produtividade, o que significa aumento de custos na produção nacional, por isso menos competitiva que a de nações concorrentes.

Foto: Danny Bueno

A foto diz tudo... 

É neste angu que desejo hoje enfiar minha colher. Em tese, o argumento é perfeito, mas não na prática, porque mascara diversos problemas que nada têm com a força de trabalho nacional. O mais evidente é o fato sobejamente conhecido de que pelo menos 20%, talvez o dobro, da produção nacional são perdidos por falta de transporte, armazenagem, segurança (roubos/desvios), acidentes ou demoras nos trâmites burocráticos (com os atrasos, perecível perece, metal enferruja, moda passa, cliente desiste...)

Ainda assim, o Brasil exporta – muito, mas bem pouco em comparação com o que poderia ser. Isso é possível justamente porque os trabalhadores nacionais têm a ginga necessária para driblar muitas das dificuldades, ginga que não têm os trabalhadores de outros países. Esse fator é considerado apenas pelo lado negativo, mas é o que salva muitas empresas da falência. Mesmo nos momentos de maior dificuldade econômica nacional, o mercado informal sempre prosperou e já deve ter salvo o país várias vezes da "falência" em que estaria se fosse considerado apenas a economia formal.

Foto: Danny Bueno

Para substituir a surrada imagem do caos nas estradas junto ao porto

Além de trabalhar muito mais que outros povos considerados trabalhadores, em horas/dia, e receber bem menos do que os de nações mais desenvolvidas (e grandes exportadoras), o brasileiro tem a seu favor a rica diversidade cultural (que lhe permite reunir elementos de diferentes culturas e criar produtos diferenciados), mente aberta para novidades, capacidade de adaptação ao que vem de fora e também de se adaptar para atender necessidades estrangeiras como a personalização de produtos para outros mercados. Exemplos disso são a facilidade e intensidade como o brasileiro adere às novidades eletrônicas (mesmo com preços abusivos), desde a automação bancária às complexidades da telefonia celular, das redes sociais etc. – em que o brasileiro se destaca apesar da alegada menor escolaridade, apesar de não ter o inglês como idioma materno etc.

Então - quando vem a cantilena de que é preciso comprimir os salários até que a produtividade aumente, para que o Brasil seja competitivo -, contraponho que precisamos mesmo é eliminar os fatores de desperdício que não só jogam no lixo boa parte dos esforços dos trabalhadores, como ainda penalizam a força laboral com a conta dos erros cometidos pelos ilustres e supostamente cultos donos do capital e do poder, estes sim responsáveis (mesmo que também sendo vítimas) pela falta de competitividade da produção nacional. O trabalhador é duplamente punido: fica com a pena (o Impostômetro que o diga) e a pecha injusta de incompetente.

Foto: Danny Bueno

Brasileiro trabalha bem mais, para compensar o que o governo não faz...

Quando o caos se estabelece no trânsito, quando o caminhão se arrebenta no buraco da estrada, quando a criminosa falta de um carimbo faz perder contratos de exportação, quando a politiqueira baixa impera ao sabor dos lobbies, quando manobras estranhas fazem o país perder fábulas em divisas, quando o capital nacional é usado para irrigar acordos espúrios com grupos estrangeiros, quando o país se deixa atrelar a interesses outros que não os nacionais, quando a impunidade e a criminalidade campeiam pela inação de deputados e juízes... não é a baixa produtividade do trabalhador que está em jogo. Ela pode melhorar (e muito), sim, mas está longe de ser o principal ingrediente desse bolo murcho em que se transformou o comércio exterior brasileiro.

Muito antes que o espaço possa ser reservado para uma carga de exportação nos porões de um navio, é necessário vendê-la, garantir sua qualidade e entrega no prazo, oferecer valor competitivo. Óbvio para o leitor, mas não tanto para autoridades que deveriam, no interesse do país, montar uma excelente "máquina" exportadora, bem lubrificada para que nada emperre e tire sua eficiência.

Ao contrário, no Brasil, parece que tudo conspira contra as exportações (exceto os fabulosos subsídios dados aos "exportadores", para compensar a tremenda carga de impostos sem retorno prático), e nem vou repetir exemplos mais do que conhecidos em apoio desta afirmação.

Fico hoje apenas com o Mercosul, e pergunto de imediato: que bloco econômico é esse, em que a preferência das importações é para produtos asiáticos, em vez de ser dada aos produzidos pelos próprios parceiros? Que mercado comum é esse em que fronteiras tão porosas para outros são hermeticamente fechadas para os próprios vizinhos?


Mercosul: bandeira ou apenas um pedaço de pano (chinês)?

Se pensarmos apenas no aspecto econômico, o Mercosul nada mais é do que um tremendo fiasco. As poucas conquistas obtidas poderiam ser alcançadas com meros acordos bilaterais, e na verdade estes têm sido mais eficazes que qualquer decisão em bloco.

Bem, dizem as autoridades, o Mercosul é um projeto de integração também no plano político, é preciso ter muuuuita paciência com los hermanitos. Só que a paciência se esgota, principalmente quando esperar significa perder outras oportunidades, perder o próprio bonde da história. E especialmente quando nada avança nas negociações, ano após ano, mesmo conquistas já obtidas no papel não são implementadas, viram letra morta.

É o caso de perguntar: a quem interessa um Mercosul de fachada, que faz os brasileiros desviarem sua atenção de outras possibilidades de intercâmbio bem mais eficazes? Se os vizinhos não querem, temos de ficar esperando que queiram? Se eles amarram a tromba e fazem beiçinho, devem os brasileiros fazer infinitos agrados, na esperança de que um dia eles resolvam sorrir para nós?

Se eles não querem ser parceiros, paciência, procuremos outros. Que o assunto Mercosul seja congelado, varrido para um canto da memória, até que eles parem de criancice, de brincar com assuntos sérios, e assumam uma postura madura. Podem ser grandes parceiros, mas não agindo ao sabor das vaidades e das empáfias de seus governantes.  Em vez de bloco, bloqueio. Então, 'tá, que seja, não vamos brigar, tratemos de buscar novas parcerias...  Mas sem timidez, sem o receio de atrapalhar os interesses de vizinhos que não se preocupam conosco.

Na verdade, de certa forma essa brincadeira nem atrapalha muito o comércio exterior brasileiro, tolhido por tantos outros problemas internos. Não atrapalha, porque os poucos que ainda acreditam no Mercosul estão sendo rapidamente convencidos a desistir, por conta das barreiras de todo o tipo que são levantadas de modo voluntarioso e nos momentos mais inesperados, forçando a quebra de contratos, a perda de mercadorias e o fechamento de empresas que acreditaram nas promessas de um mundo melhor.

O Brasil surgiu de uma colonização, mas a Independência de 1822 não livrou seu povo da sucessiva colonização mental, que faz o país subserviente de interesses externos. É este, decerto, um dos principais motivos pelos quais as mercadorias não chegam aos porões dos navios. Não temos de ficar com os restos do banquete, agradecendo se alguém se lembra de comprar do Brasil algumas toneladas de minério ou alguns barris de petróleo bruto, a preço vil, só para ter a desculpa de que é parceiro e nos vender manufaturados ou mesmo gasolina por valores infinitamente superiores.

Que política é essa, que economia é esta, em que o fruto do trabalho de quase 100 milhões de pessoas (a força produtiva brasileira) enriquece uns poucos no exterior, e os gestores ficam imaginando novas formas de complicar e dificultar o crescimento do país? Acaso não sabiam dez anos atrás o que precisava ser feito para azeitar a máquina exportadora atual? Com um mal disfarçado rombo nas contas externas de 100 bilhões de dólares neste ano (mil dólares, portanto, a cota de dívida para cada trabalhador, além de todos os impostos inúteis e de todas as outras perdas que sofre na vida diária), o que faz pensar que estejam hoje mais aptos a gerir os destinos nacionais pelos próximos dez, vinte, trinta anos?

Antes, o Brasil era a potência do futuro. O futuro chegou, virou passado, e o Brasil não só não realizou essa potência como ainda está entregando aos interesses estrangeiros todo o seu potencial.

Entregou as telecomunicações, a pretexto de modernizá-las, e hoje o brasileiro paga talvez as mais altas tarifas de telecomunicação do mundo, com serviços que talvez na África sejam melhores. Entregou na prática o controle do setor elétrico, e os apagões continuam. Agências reguladoras? Rá!

Agora, entrega o pré-sal, para tentar obter a autosusuficiência que o governo disse que já tínhamos anos atrás. Desde essa declaração (abril de 2006), o rombo na conta petróleo já é de 45 bilhões de dólares, e continua aumentando. Para reduzi-lo, vamos exportar mais petróleo bruto, para obter um pouco de gasolina, já que não temos refinarias para agregar valor. E ainda há quem tente argumentar que está tudo sob controle, não poderia ser diferente, pelo contrário, melhor impossível...

http://portogente.com.br/colunistas/carlos-pimentel/antes-do-navio-...

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 27 novembro 2013 às 20:14

Antes, o Brasil era a potência do futuro. O futuro chegou, virou passado, e o Brasil não só não realizou essa potência como ainda está entregando aos interesses estrangeiros todo o seu potencial.

Comentário de Romildo de Paula Leite em 27 novembro 2013 às 17:33

O mais evidente é o fato sobejamente conhecido de que pelo menos 20%, talvez o dobro, da produção nacional são perdidos por falta de transporte, armazenagem, segurança (roubos/desvios), acidentes ou demoras nos trâmites burocráticos (com os atrasos, perecível perece, metal enferruja, moda passa, cliente desiste...)

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