Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Aos 208 anos, DuPont volta a se reinventar

Fonte:|valoronline.com.br|
Divulgação
A cada ano, US$ 1,4 bilhão é injetado nos mais de 70 centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da companhia americana espalhados pelo
mundo

No laboratório de energia alternativa da DuPont em Wilmington, nos EUA, o cientista nos recebe ansioso para falar. "Vocês serão as primeiras pessoas do mundo a ver este projeto fora da DuPont". Craig Binetti,
presidente da Divisão de Biociências Aplicadas da empresa, está diante
de um filme plástico transparente e retangular que permitirá a
substituição do vidro nas placas fotovoltaicas utilizadas para gerar
energia solar. Além de reduzir o preço desse tipo de energia, hoje um
fator limitante para o ganho de escala, a flexibilidade da película dará
novos usos à placa solar. Será possível, por exemplo, aplicá-la em asas
de aviões, livrando o céu de energia suja.

O filme plástico chegará ao mercado até meados desta década, junto com mais uma centena de produtos de tecnologia de ponta nos quais a DuPont apostou e investiu nos últimos anos.

A corrida mundial pela inovação está provocando uma reviravolta estrutural nesta gigante americana. Com 58 mil funcionários em mais de 70 países, a DuPont avança em sua terceira onda de negócios,
afastando-se do estigma de empresa meramente química para se tornar a
"empresa de ciência mais dinâmica do mundo". A mudança de slogan é
sintomática: o centenário "Produtos melhores para uma vida melhor...
através da química" virou "Os milagres da ciência", um antagonismo que
já causou furor entre os cientistas da empresa.

Concebida como uma indústria de pólvora, a companhia criada pelo imigrante francês Eleuthère Irénée du Pont fez nome com o desenvolvimento de produtos revolucionários. O Teflon das panelas, o
Kevlar da roupa do Batman e o nylon são os mais conhecidos do público -
este último tendo sido utilizado em paraquedas, cordas e outros
suprimentos militares na Segunda Guerra, muito além das meias femininas.
Agora, o desafio está em antever os próximos 40 anos.

"O que tornará a nossa ciência mais aplicável que a dos outros? As megatendências", diz Ellen Kullman, presidenta do conselho e principal executiva da DuPont, que concedeu entrevista a um grupo de jornalistas
na Estação Experimental da empresa para falar sobre essas mudanças. É
deste enorme campus científico, com mais de 50 prédios e dois mil
funcionários, que saem as grandes descobertas da empresa. "A DuPont está
se refazendo. Somos uma companhia de ciência guiada pelo mercado", diz
Ellen.

A cada ano, US$ 1,4 bilhão é injetado em seus mais de 70 centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) espalhados pelo mundo. Cerca de 75%
desse dinheiro é canalizado para onde vai o futuro: aumento da produção
de alimentos, redução da dependência de combustíveis fósseis, proteção à
vida e ao meio ambiente e o crescimento dos mercados emergentes. Ganha
quem inovar e chegar primeiro.

Projeções das Nações Unidas mostram aumento populacional de 34% até 2050, quando o mundo atingirá a cifra desafiadora de 9 bilhões de habitantes. "E a maior parte dessa alta não será nos EUA ou na Europa.
Será nos países emergentes", diz Ellen.

A guinada já é sentida hoje pela DuPont. América Latina e Ásia responderam por 31% do total de US$ 8 bilhões em vendas do grupo no ano passado. Em 2012 o bloco dos emergentes deverá ampliar a participação
para 35%, consumindo US$ 12 bilhões em produtos e serviços da empresa.

O problema é que mais gente no planeta exigirá mais alimentos - precisamente 70% a mais, segundo a agência da ONU para Agricultura e Alimento (FAO). Como se sabe, já não existe tanta terra disponível para
plantar. "Há uma tremenda necessidade global de alimentos e uma tremenda
oportunidade para atender essa demanda", afirma Paul Schickler,
presidente da Pionner Hi-Breed, o braço de sementes adquirido pela
DuPont em 1997.

A importância dada a esse negócio está nos números. Metade dos investimentos em P&D da DuPont - US$ 700 milhões - segue para a unidade de agricultura e nutrição. No pipeline, duas promessas: o milho
transgênico resistente ao estresse hídrico, com lançamento previsto até
2015, e a soja com Ômega 3.

Outra expectativa é em relação ao etanol celulósico e o biobutanol - a chamada segunda geração de biocombustíveis - feito a partir da cana no Brasil, do milho, nos EUA, e trigo na Europa.

"O desafio é muito grande para uma única empresa. Por isso, fazemos parcerias com propósito", diz Mark Vergnano, vice-presidente executivo da DuPont. "Precisamos desenvolver inovações mais rápido que os outros".

E eles estão correndo. Entre 2005 e 2009, a DuPont lançou no mercado nada menos que 1.451 novos produtos. No ano passado, esses produtos geraram à multinacional US$ 10 bilhões, ou um quarto do faturamento
global.

Os executivos dizem ter aprendido com a experiência: investir em P&D é crucial em períodos de crise. A empresa sentiu o baque da última crise financeira mundial em segmentos pontuais como o de proteção
à saúde - tecidos com aplicações balísticas e resistentes ao fogo, por
exemplo. O segmento, que tem como forte cliente o Exército americano, já
enfrentava a "calmaria" após as guerras no Afeganistão e Iraque.

O faturamento global caiu de US$ 30,5 bilhões em 2008 para US$ 26 bilhões no ano seguinte. O alívio ficou por conta dos mercados emergentes, onde a expansão da receita tem se mantido a uma taxa de mais
de 15% ao ano.

Isso explica por que esses países foram poupados da guilhotina na crise. Entre 2008 e 2009, a DuPont contratou 250 funcionários na Índia. No Brasil, a demissão de 100 funcionários da divisão de tintas
automotivas foi revertida para 375 contratações. China absorve por ano
800 pessoas. "Contratar depende das condições locais", diz Ellen.


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