Poucas horas após a chuva encharcar o solo do oeste baiano, na última quinta-feira, produtores rurais da região celebravam, ao som de tambores japoneses e de música gaúcha, a recuperação da safra agrícola da região depois de três anos seguidos de perdas. A retomada do crescimento é puxada pelo algodão, que segundo dirigentes do setor vai ter uma safra 2013/14 "excelente". Para o milho, o ano será "muito bom" e para a soja, principal cultura da região, "apenas razoável".
Passado o período mais crítico para a produção local, ocasionado pela seca, os agricultores voltam a se concentrar nos problemas de sempre. Armazenamento, pragas e transporte seguem corroendo as margens de lucro. Membros da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) estão pagando do próprio bolso a manutenção de rodovias estaduais que atendem a região e brigam pela liberação do uso do benzoato de emamectina, defensivo que promete controlar com maior eficiência a Helicoverpa armigera, lagarta que causou muitos prejuízos na última safra.
Os produtores do oeste baiano conseguiram importar 70 toneladas de benzoato de emamectina, mas o produto não pode ser utilizado. A maior parte da carga, 44 toneladas, está armazenada, sub judice, em um galpão no município de Luís Eduardo Magalhães, um dos mais importantes da região. Outra parte do defensivo ficou no porto de Santos. "Hoje, infelizmente, não há perspectiva para a liberação do produto. Para a atual safra, nem está sendo considerado", afirmou ao Valor o vice-presidente da Aiba, Odacil Ranzi.
De acordo com ele, experiências feitas na Austrália atestam a eficiência do benzoato no combate à helicoverpa, cujos estragos surpreenderam os agricultores do oeste baiano na safra passada, a 2012/13. Com a proibição, explica Ranzi, são necessárias até duas vezes mais aplicações dos defensivos atualmente permitidos, o que no ano passado representou um custo adicional de cerca de R$ 600 milhões para os produtores locais. Somadas as perdas resultantes da ação da lagarta, o rombo passa de R$ 1 bilhão, segundo a entidade.
O presidente da Aiba, Julio Busato, esteve em Brasília recentemente para discutir a questão, mas saiu sem respostas. Dúvidas sobre o impacto do uso do defensivo sobre o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores emperram a liberação do benzoato nas lavouras baianas desde maio de 2013. O imbróglio está parado na primeira instância da Justiça estadual em Barreiras, outro importante município da região oeste.
Se, por um lado, a volta das chuvas ajudou a melhorar a produtividade, por outro agrava o problema do escoamento da produção. A situação precária tanto das estradas vicinais que atendem as fazendas como das rodovias estaduais que passam pela região vem obrigando os produtores a investir recursos próprios na recuperação das vias.
Atendida pela BA-225, a região conhecida como Coaceiral, que fica na cidade de Formosa do Rio Preto, tem 165 mil hectares de área plantada. O frete para lá, no entanto, custa cerca de 30% mais que a média da região, por conta das condições da rodovia. Diante disso, os produtores organizaram um mutirão para cobrir de cascalho um trecho de 60 km da estrada. "A situação é tal que usamos uma patrola [máquina niveladora] em uma via asfaltada; acho que é inédito", ironiza o diretor-executivo da Aiba, Ivanir Maia.
Os produtores também estão bancando a recuperação da BA-462 e de várias estradas vicinais. A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) possui hoje todo o maquinário de uma autêntica construtora de rodovias. Um projeto de parceria público privada está sendo preparado para o asfaltamento de pelo menos três estradas da região. Pelo modelo, ainda em análise de viabilidade, o governo baiano entraria com 50% do investimento, as prefeituras com 25% e os produtores com os 25% restantes.
Enquanto isso, a região olha desconfiada para a problemática Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), projeto inscrito no Programa de Aceleração do Crescimento e que promete levar os grãos e o minério do interior para o litoral da Bahia ao custo aproximado de R$ 5 bilhões. No entanto, uma série de questionamentos ambientais trava a estrada de ferro, cujas obras andam a passos lentos. "Não contamos com isso ao menos para os próximos quatro anos", admite Ranzi, da Aiba.
Descontados os contratempos, a expectativa é que a safra de soja do oeste atinja 3,4 milhões de toneladas na safra 2013/14, alta de 44% em relação ao ano anterior. A produtividade vai saltar de 35 para 44 sacas por hectare, ainda abaixo do recorde atingindo pela região na safra 2010/11, de 56 sacas por hectare. No atual patamar, explica Ranzi, a produção da oleaginosa - que ocupará 1,3 milhão de hectares - vai empatar com os custos de produção, ou seja, sem margem de ganho.
O melhor desempenho é esperado para o algodão, cuja produtividade deve retornar aos níveis recordes de 270 arrobas por hectare. Caso as chuvas continuem caindo na região, como prevê a meteorologia, o crescimento da produtividade em relação à safra passada será de 18%. Após um período de desânimo dos produtores, sobretudo por conta dos preços do produto, a área plantada também vem se recuperando. Na atual safra, atingiu 305 mil hectares.
A produtividade do milho avançou 11,5%, devendo chegar a 145 sacas por hectare na safra 2013/14. A área plantada avançou 6,5%, para 265 mil hectares. Diante das perspectivas mais animadoras, os produtores da região esperam ver resultados mais vistosos na 10ª edição da Bahia Farm Show, terceira maior feira agrícola do país, marcada para o final de maio, em Luís Eduardo Magalhães. A expectativa dos organizadores é de que seja atingida a marca de R$ 1 bilhão em negócios fechados na feira, quase 40% a mais do que no ano passado.
Fonte: Valor Econômico
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