Renata Vilela: "Caí na rua e estraçalhei meu jeans nos dois joelhos. Em casa, peguei uma lixa de unha e um estilete e fui terminar de customizar a calça"
A moda tem lá suas contradições. Tudo volta, muda, ganha outros sentidos e surpreende. Quem nunca pagou língua ao dizer que não usaria tal peça que, mais tarde, entrou no guarda-roupa? Isso é mais comum do que se imagina. O mundo de possibilidades que o mercado fashion cria a cada estação faz com que o consumidor se abra a novas experiências, que podem trazer ao dia a dia mais atitude, modernidade e, claro, elevar a autoestima.
Item clássico na história do vestuário, o jeans, que há décadas vem passando por inúmeras mudanças, ainda impressiona com as novas e muitas vezes até estranhas releituras. A mais atual, chamada em inglês de destroyed, veio a calhar para quem não tem medo de se aventurar no que antes era usado apenas por quem buscava aparência agressiva e tinha um comportamento um tanto quanto rebelde.
Na década de 1970, as calças jeans eram peça-chave para homens e mulheres que se jogavam no estilo boca de sino, com cinturas altíssimas e belas lavagens. Naquela época, o destroyed já era usado, porém por uma minoria. Com seus costumes sempre impactantes, os punks rasgavam suas calças para contestar visualmente os padrões impostos pela sociedade. Moral da história: eles deixaram marcas na moda, como jaquetas de couro, coturnos, correntes, o conhecido corte de cabelo moicano, e foram os percussores da tendência do jeans rasgado, que ganhou espaço no topo das tendências.
Guilherme Toledo, engenheiro de produção: "O estilo vem de uma história de protesto e rebeldia e me atrai não só pela beleza, mas pela memória"
Para Guilherme Toledo, essa é uma ótima alternativa para quem quer sair do comum. "Se pudesse usar só jeans, eu usaria e, com essa customização, consigo variar mais. A calça rasgada vem de uma história de protesto e rebeldia e me atrai não só pela beleza, mas pela memória", diz. Com 29 anos, o engenheiro de produção, que tem três diferentes modelos da peça, sente que algumas pessoas ainda têm restrições ao vê-lo usando-as "É comum notar olhares que passam certa estranheza, é como se eu não estivesse adequado àquele lugar. Mesmo assim, eu me sinto muito bem, tanto com modelos mais rasgados quanto com os mais discretos", diz Toledo.
Assim que a peça apareceu na vitrine de uma loja de BH, o publicitário Lucas Paez, mesmo desapegado da moda, entrou imediatamente para matar a curiosidade. "E foi só experimentar para aderir ao estilo", diz Lucas. "Uso o que gosto, independentemente do tempo de validade. Os lançamentos vêm e vão, mas percebo que, ultimamente, muitas novidades chegam para ficar e acrescentar algo ao visual de quem, como eu, não se prende a regras." Aos 32 anos e trabalhando no ramo de moda, ele tem a liberdade de incluir a tendência em sua rotina. "Exceto em ocasiões formais, como reuniões ou visitas a novos clientes, sinto total segurança em vestir o destroyed. Outro dia, saindo de casa, minha mãe me perguntou: ‘Você vai sair todo rasgado? Isso não está bom.’ Eu respondi: Com certeza!", conta.
A relações públicas Daniele Benunes já se acostumou a escutar piadas: "Meus amigos dizem que vão me ajudar a comprar uma roupa nova, porque a minha está rasgada"
O mundo feminino também não fica de fora e vem usando e abusando do jeans destroçado. Para elas, o estilo traz, além de calças, shorts, saias, coletes, jaquetas e até camisas. Graduada em relações públicas, Daniele Benunes, de 25 anos, quis inserir o modelo rasgado ao seu estilo antes mesmo de ser encontrado no mercado nacional. Quando viu uma das primeiras peças de uma marca estrangeira, começou uma busca incessante. "Achei superfashion e fiquei louca por uma. Nessa época, as marcas brasileiras ainda não vendiam", diz
A jovem, que sempre se sentiu atraída pelo diferente, chegou até a rasgar um jeans por conta própria. "Queria muito um short bem detonado e, como não encontrava nas lojas, resolvi eu mesma fazê-lo. Por fim, deu tudo certo, mas tive muito trabalho. Atualmente, uso tanto que até já me acostumei a escutar piadas. Meus amigos dizem que vão me ajudar a comprar uma roupa nova, porque a minha está rasgada", conta.
Para Renata Vilela, a desmistificação do destroyed é motivo de comemoração: "Oba! Minhas calças rasgadas agora são bem-vistas", diverte-se a maquiadora e cabeleireira de 24 anos. "Fiquei animada ao ver os diferentes estilos que surgiriam para compor a proposta, mas ao mesmo tempo tive certo receio do uso excessivo e até cansativo", diz. Estilosa de carteirinha, Renata tem um estilo próprio, que, segundo ela, varia de acordo com o seu humor.
O publicitário Lucas Paez não pensou duas vezes para aderir ao estilo: "Uso o que gosto, independentemente do tempo de validade"
E, pelo que parece, o jeans rasgado foi quem a escolheu. Seu primeiro surgiu depois de um tombo. "Um belo dia, eu estava caminhando pela rua, quando caí e estraçalhei minha calça jeans nos dois joelhos. Ao chegar em casa e cuidar dos ferimentos, peguei uma lixa de unha e um estilete e fui terminar de customizar a calça toda", diz.
Não importa a idade nem o tipo físico. Como o jeans comum, o destroyed é bem democrático e existem vários tipos para todos os gostos: o tecido pode estar realmente todo destruído ou apenas com leves escoriações. Tanto em homens quanto em mulheres, ele enfeita, moderniza, rejuvenesce e traz novas possibilidades para um look descolado. Experimente!
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