Fonte:|oconfeccionista.com.br|
Em seus quase três anos de existência, o Arranjo Produtivo Local do Polo Tecnológico da Indústria Têxtil e de Confecção de Americana e região, no interior de São Paulo, já mostra resultados significativos. Em 2008, as 200 empresas participantes do APL computaram aumento de 23% no volume de vendas em relação ao ano anterior, o correspondente a um acréscimo de R$ 25 milhões. Desses, R$ 14 milhões foram provenientes das confecções, que registraram aumento de 35% no faturamento no ano. As tecelagens, por sua vez, registraram aumento de vendas entre 12% e 15%.
A expectativa é de crescimento nas adesões ao APL. “É muito importante que os empresários se qualifiquem para poderem acompanhar as tendências de mercado e gerir melhor o seu negócio”, enfatiza Marcelo Galesi Barbosa, analista do Sebrae-SP/ Piracicaba e Gestor do Convênio APL de Americana e região.
O Polo Tec Têxtil movimenta R$ 300 milhões por ano e é formado por um conjunto de 700 empresas têxteis e 1,4 mil confecções que reúnem 35 mil trabalhadores nos vários segmentos da cadeia têxtil. Participam do APL empresas das cidades de Americana, Sumaré, Santa Barbara D’Oeste, Hortolândia e Nova Odessa.
Competitividade – Criado em 2006, o APL de Americana tem como objetivo ampliar a competitividade e fortalecer as micro e pequenas empresas da cadeia têxtil e de confecção filiadas ao Polo Tec Têxtil – e tem sido fundamental para que as empresas participantes estruturem melhor seus negócios e melhorem as vendas. “O APL é um aglomerado de empresas do mesmo setor, do mesmo segmento, que movem a economia de um município”, explica Marcelo Galesi, do Sebrae.
Mas não é só. Os APL (existem pelo menos mais quatro da área têxtil só no Estado de São Paulo) proporcionam ganhos de eficiência que os agentes produtivos individualmente não encontrariam. Possibilitam às indústrias buscarem novos mercados, desenvolverem produtos com inovação tecnológica, acumularem massa crítica para negociarem com fornecedores e bancos e tornarem-se mais fortes para superarem momentos de crise econômica.
Essas conquistas são viabilizadas graças à somatória de esforços de vários parceiros dispostos a incentivar a indústria local, entre eles Fiesp/Ciesp (nas áreas de cooperação técnica, tecnológica e comercial); Governo do Estado, por meio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT); Sebrae; Senai; Sesi; Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi); Caixa Econômica Federal e prefeituras municipais. O Sebrae atua na capacitação das empresas do setor por meio de cursos e consultorias, visando à abertura de novos mercados, inclusive para a exportação, e participa desse programa com aportes de R$ 1,5 milhão.
Capacitação empresarial – O primeiro passo do cronograma de ações para a implantação do APL do Polo Têxtil de Americana foi uma visita dos consultores da entidade às confecções, com o intuito de detectar falhas administrativas e operacionais para, a partir daí, sugerirem soluções. “Isso porque o empresário tem grande dificuldade em se organizar, formar seu preço, fazer um fluxo de caixa e, com isso, conseguir aumentar sua venda sem que tenha prejuízo”, afirma Galesi.
Feito esse diagnóstico, foram criados programas e cursos de aperfeiçoamento, a fim de levar o empresariado a conhecer seu potencial, promover mudanças na empresa, identificar oportunidades, elaborar planos de negócios e desenvolver estratégias, além de abrir as portas para novos mercados, tecnologias e design de produtos. “Um desses programas é o de Qualidade Total, que visa reduzir custos e aumentar a produtividade das empresas”, ilustra o analista.
Os resultados desses esforços se traduzem em aumento do faturamento, redução de custos, desenvolvimento de novos produtos e ampliação de mercado. “Muitas das indústrias que integram o APL já exportam seus produtos”, comemora Galesi.
Cadeia têxtil – Para Helton Jorge Filho, presidente da diretoria executiva do Polo Tec Têxtil de Americana, os empresários filiados ao APL passaram a desenvolver uma nova visão de mercado após terem frequentado os cursos oferecidos pelo Sebrae-SP e se beneficiado das outras parcerias. “Eles aprenderam a delegar responsabilidades e a enxergar a empresa de fora para dentro. Descobriram a importância de poder sair e prospectar novos negócios”, explica. Outro ponto importante foi a mudança cultural na forma de essas empresas atuarem. “Os empresários passaram a trabalhar mais cooperativamente e a olhar o concorrente como uma ferramenta importante no desenvolvimento do seu próprio negócio”.
Segundo Jorge Filho, o APL de Americana distingue-se de outros do setor têxtil pelo fato de abranger todas as etapas da cadeia produtiva. “Por isso, sua força de atuação tem de ser muito maior, pois temos de atender a todas as demandas, individualmente”.
Além das parcerias existentes entre a iniciativa pública e a privada, há vários projetos em andamento, a exemplo de um programa com a Universidade de São Paulo para fomentar o desenvolvimento de novos produtos e materiais têxteis. “Trata-se realmente de parcerias, pois não precisamos aportar recursos para fazer o ensaio de novos materiais, o que ficaria em torno de R$ 20 mil, cada”, afirma o diretor do Polo.
Resultados compensadores – Dono da confecção Autoritah, localizada em Americana, e filiado ao APL, Helton Jorge Filho revelou que as vendas da empresa cresceram próximo a 30% desde o início do programa, e que quase toda a mão-de-obra foi capacitada. Além disso, a produção aumentou sem que fosse preciso aumentar o número de funcionários, devido à otimização do processo. “Antes do APL, tínhamos uma visão muito estreita sobre até onde a nossa empresa poderia chegar. Nesse tempo de filiação e de atividades, adquirimos uma visão globalizada do nosso mercado e percebemos que podemos expandir as vendas”, explica Jorge Filho, acrescentando que a qualidade do produto também foi bastante aprimorada. Além disso, técnicos da USP estão auxiliando no desenvolvimento de três projetos. Um deles é o de comércio eletrônico, pela internet. “Os outros são de customização da produção e aumento dos pontos-de-venda por meio de franchising”, conclui.
Competitividade – “O APL é uma luz no fim do túnel”, afirma Valdir Antônio Pradela, sócio proprietário da Pra D’Ela, confecção de Americana que há dez anos produz moda feminina. Com 15 funcionários, a empresa também trabalha com mão- de- obra terceirizada e produz seis mil peças/mês, vendidas para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, o Paraná, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Conta com uma loja, a Mel e Canela, no shopping atacadista Via Direta, de Americana.
Valdir Pradela revela que após os cursos de capacitação sua confecção apresentou um crescimento de 30% anuais na produção, com maior rentabilidade e redução de custos, com menos perda de material e trabalho de reprocesso. “Minha competitividade aumentou, e agora oferecemos produtos de maior qualidade”, assegura.
Agregando Valor – Com o APL, Valdecir Martins, dono da Mar Negro Confecções, também de Americana, descobriu que a união faz a força. “Em grupo, o poder de negociação de empresas pequenas com os fornecedores fica maior. Além disso, o APL nos permite participar de feiras do setor têxtil e abrir novos mercados, o que antes era impossível”.
A Mar Negro iniciou suas atividades há 18 anos, produzindo bermudas do tipo surfe. Como se trata de um produto sazonal, com pico de vendas do verão, Valdecir Martins resolveu partir para a linha fitness, confeccionando roupas próprias para uso em academias de ginástica. Hoje, produz 60 mil peças/mês e até 80 mil na temporada de verão.
Após ter feito os cursos de capacitação, Martins percebeu que deveria ter sua própria estamparia e adquiriu, recentemente, maquinário para isso. “Hoje compro meu fio, mando tecer e estampo do jeito que quero, com padrões exclusivos. Isso dá um diferencial e aumenta a qualidade do meu produto, agregando-lhe valor”, garante. Além desses ganhos, a Mar Negro computou redução de custos da ordem de 20% a 30% no processo de confecção. Esse percentual deverá aumentar ainda mais, pois o plano é tecer a malha das roupas, o que implicará na construção de mais dois salões, num total de 750 m2 adicionais. “Isso permitirá o aumento do volume de peças produzidas e a conquista de novos mercados”, finaliza Martins.
Cooperativas de costura
Um dos principais problemas das indústrias de confecção do Polo Tec Têxtil de Americana é encontrar mão-de-obra qualificada e especializada na região. Há um déficit de 1.000 costureiras/ano. Por isso, o APL criado e mantido pelo polo tem como um dos seus principais projetos a formação de Incubadoras de Cooperativas de Costura na região, viabilizado em parceria com o Sebrae-SP e prefeituras locais.
O principal objetivo é incrementar a economia solidária por meio do processo de capacitação de costureiras, transformando as cooperativas de costura em empreendimentos com geração de emprego e renda, além de suprir as necessidades das empresas de confecção do Polo Têxtil.
Já foram implantadas três incubadoras desse tipo em Sumaré, Hortolândia e Nova Odessa. Outras devem ser instaladas nos municípios de Santa Bárbara D´Oeste e Americana.
As costureiras estão sendo treinadas em várias modalidades, da costura básica à avançada, overloque, corte e modelagem, customização de peças e regulagem e manutenção das máquinas de costura. O programa de treinamento está a cargo do Senai, com cursos de costura básica, avançado e específico, visando o aperfeiçoamento da mão-de-obra, além de cursos de corte, modelagem, regulagem e manutenção das máquinas. O Sesi é responsável pelo desenvolvimento de todo o programa de educação, incluindo uma tele sala montada dentro da incubadora. As Prefeituras, por sua vez, cedem o local de instalação da cooperativa e as máquinas de costura.
As cooperativas de costura se instalam em barracões cedidos pelas prefeituras ou associações de bairro. O objetivo é fazer com que, após um período de assessoria e sustentação por parte das entidades conveniadas ao APL (Senai, Sesi e Sebrae), se transformem numa cooperativa juridicamente constituída, uma entidade autônoma e autossustentável.
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