Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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As apostas das teles para a monetização do 5G

Segurança e transparência na coleta de dados de um lado, e integração de soluções de IA, GenAI, IoT e Machine Learning, de outro, são caminhos para a rentabilização das redes.

Aplicações de inteligência artificial são caminho para monetização da redes 5G (crédito: Josep Lago/AFP via Getty Images)

A chegada das redes 5G trouxe consigo previsões auspiciosas de transformação da experiência do consumidor, o que poderia impulsionar a receita das teles. No entanto, as previsões não se confirmaram como desejado. A implementação mais lenta do que o esperado ao redor do mundo, além da falta de disposição dos consumidores em assinarem serviço mais caro sem a real percepção de valor, impactaram os resultados. Tanto que o debate sobre a 6G, abordado no MWC do ano passado, foi bem mais discreto este ano.

No início da implantação da conexão 5G, a KPMG projetou que a geração de receitas da tecnologia no período de 2020 a 2023 ultrapassaria a marca de US$ 500 bilhões. No entanto, a estimativa não se confirmou e o mercado movimentou US$ 400 bilhões. “Não antecipamos o cenário complexo de integração de tecnologia, com o número grande de stakeholders que deve envolver. O gap no crescimento vem daí”, afirma Diogo Sousa, partner e EMA telco lead da KPMG, que aponta para questões como investimentos no desenvolvimento de padrões abertos (as redes universais de APIs), políticas de privacidade de dados e cibersegurança, além de avanços incipientes de aplicações de IA e ML.

Novas previsões de crescimento

Apesar do gap, a consultoria segue confiante no potencial da tecnologia. “As bases foram estabelecidas para crescer. A nova projeção é a de que o mercado de 5G gere receita de US$ 1 trilhão até 2030”, afirma. Mas, para isso, as teles devem abraçar a transição telco to techco. Ou seja, têm que se consolidar como empresas de tecnologia.

Esse caminho, segundo o partner da KPMG, envolve oito desafios: implementar de forma rápida redes baseadas em nuvem; ter arquiteturas digitais abertas para melhorar a eficiência dos investimentos; otimizar redes para dimensionar capacidade e demanda; oferecer serviço simplificado em tempo real; integrar aplicações que necessitam de serviços específicos da rede; colocar a experiência do cliente no centro do desenvolvimento de produtos; utilizar APIs para potencializar a orquestração da rede e usar IA para enriquecer a experiência do cliente.

Tendências para monetização da rede

Já o estudo Global Mobile Trends 2024, apresentado pela GSMA Intelligence no Mobile World Congress, indicou o multicast e a internet das coisas (IoT) de baixo custo como tendências para o desenvolvimento do 5G. O conceito de multicast via celular, considerado a melhor tecnologia do 5G Advanced (5GA) no ano passado, já é um case neste ano, sendo prioridade para 52% das operadoras. A perspectiva é a de que o multicast faça dobrar os serviços de streaming e gerar receitas. E a IoT de baixo custo é apontada como valor fundamental do 5G e prioridade para 23% das teles. Mesmo que não façam parte do planejamento inicial do 5G, esses serviços conversam com a transmissão eficiente de dados, o que é interesse do segmento business-to-business (B2B).

A segurança e a transparência no uso e na coleta de dados dos consumidores são aspectos primordiais para a monetização das redes 5G. Tema que também foi central nos palcos do MWC. As teles atravessaram as últimas décadas em batalhas para remunerar suas redes: do investimento e depois perda das redes fixas, que deram lugar às móveis; das tentativas de obter receita de plataformas sociais e empresas como Netflix e YouTube, que trafegam os maiores volumes globais de dados sobre suas redes sem pagar por isso; da perda das chamadas de voz para aplicativos e, posteriormente, das chamadas de vídeos para apps como WhatsApp. Historicamente, teles têm perdido terreno por conta de evoluções tecnológicas. Por isso, têm que buscar receita alternativa. Seja via dados dos assinantes, IA ou antecipação das necessidades dos clientes corporativos.

“Precisamos que os consumidores compartilhem os dados, sempre com segurança e transparência. Temos limitações quando comparamos com as redes sociais. A relação de confiança entre clientes e bancos é um modelo”, explica Emma Keedwell, head of innovation da Vodafone Business do Reino Unido. “Se não tiver transparência, o case não é válido”, resume Matt Dugan, vice-presidente de data platforms da AT&T.

Aplicações de IA e GenAI

As aplicações de IA e, em especial, de GenAI, são outra trilha de crescimento de receita. Essa jornada deve começar dentro de casa, segundo Hans Neff, CTO group director da ZTE. “A AI pode ser usada para ver a necessidade do cliente em tempo real para oferecer a capacidade de rede que necessita, por exemplo”.

A abordagem ao mercado também é um ponto de atenção. “Historicamente, tínhamos a solução e íamos atrás do problema. Agora, temos que ir ao mercado e entender os problemas dos clientes antes”, ressalta Jodi Marie Baxter, vice-presidente de 5G & conectividade IoT da Telus. “Teoricamente, podemos usar GenAI para todos os problemas, o que não significa, necessariamente, que funciona para todos”, complementa Neff, da ZTE.

A United Airlines, por exemplo, já tem 50 aplicações de GenAI. Mas Clare Dussman, director of digital trust da companhia, faz um alerta sobre o grande apetite de marcas para monetizar seus dados: “Com a GenAI, temos o risco de as pessoas serem impactadas antes de a solução oferecer benefício”. Outro aprendizado, segundo Baxter, da Telus, é ter o cuidado de não criar vieses, assim como ocorre com os algoritmos, que são construídos por pessoas e suas respectivas crenças e culturas. “A IA é tão inteligente quanto as perguntas que formulamos”, alerta.

Transformação da criatividade

A junção da capacidade da IA, da intuição e da criatividade humanas abre um universo de possibilidades. “A IA transformará a forma como vemos a criatividade. A criação tem alto custo e não permite a adaptação para cada pessoa. A IA mudará isso”, projeta Tzvika Besor, senior AI product manager da Monday.com, que lidera projeto para desenvolver agente de IA conversacional para agilizar o processo de integração de novas contas.

“Essa ferramenta não trata apenas de automação; trata-se de entender as necessidades únicas de cada cliente e criar soluções personalizadas que realmente façam a diferença. Por exemplo, pode criar um fluxo no qual os funcionários recebem apenas e-mails que são relevantes para cada um”, explica Besor.

Na opinião de Aitor Abonjo, director de CRM da Flink, a IA ajuda os times a economizarem tempo e dinheiro em todas as etapas de processo, desde a concepção da ideia até a análise de dados de marketing. Abonjo lidera as equipes de retenção, marketing insights e marketing tech da agência. “A IA torna os produtos melhores para os clientes, deixa o conteúdo mais inteligente, conecta dados e junta peças como o tom de voz do chatbot, recomendação e base de dados”, explica.

De acordo com Besor, da Monday.com, o mundo está no ponto de transição entre ter uma tecnologia incrível e ter a habilidade para usar a ferramenta onde realmente funciona. Como desafio para o futuro, o executivo indica eliminar esse gap de implementação. “As ferramentas de IA facilitam o trabalho ao realizar tarefas chatas e deixar mais tempo para aspectos da criação de conteúdo que apenas humanos podem fazer para humanos”, afirma a senior UX content design manager da Back Market, Melissa Kruse.

Mudança regulatória

Mas, tudo isso, seja para ampliar receitas das teles, elaborar um mundo que tarefas mecânicas sejam feitas por máquinas ou fazer do artificial algo tão humano que não se possa distinguir do humano têm implicações éticas e regulamentares. Por isso mesmo, pedidos de mudanças em marcos legais são tópicos comuns em eventos como este.

Nesta edição do MWC 2024, o tema uniu CEOS de teles da Europa e até mesmo o comissário europeu para mercados internos, Thierry Breton. Em comum, a preocupação é que o continente fique para trás em termos de inovação tecnológica e investimentos em infraestrutura digital.

Jose Maria Alvarez-Pallete

José María Álvarez-Pallete, CEO da Telefónica: “necessidade de mudança urgente da regulamentação do setor” (crédito: Joan Cros/NurPhoto via Getty Images)

José María Álvarez-Pallete, chairman & CEO da Telefónica, Margherita Della Valle, CEO do Vodafone Group, Christel Heydemann, CEO da Orange, e Tim Höttges, CEO da Deutsche Telekom, pediram “rápida e radical mudança regulatória para garantir que as teles continuem capazes de atender clientes, investir em redes e inovação”. As teles pedem flexibilização ou mudanças em áreas como alocação de espectro e consolidação de mercado. De acordo com Höttges, da Deutsche Telekom, mais de 60% das operadoras europeias não faturam o suficiente para cobrir os custos de capital.

O chairman & CEO da Telefónica ressaltou que as operadoras europeias precisam preencher um gap de investimentos da ordem de 200 milhões de euros. “Algo está errado e precisamos consertar”, afirmou. “Estamos prontos para fazer nossa parte. Mas, se precisamos fazer mais, também precisamos de novo marco regulatório”, argumentou Margherita, da Vodafone. A executiva fez referência à necessidade de consolidar o mercado, além das questões referentes ao espectro.

Christel citou a recém-aprovação da Comissão Europeia para a fusão da operação espanhola da Orange com a Masmovil como sinalização na direção correta. No entanto, questionou se a indústria se moverá rápido o suficiente para acompanhar a velocidade de tecnologias como a IA. “Estamos perdendo a confiança do mercado de capitais, que nos dá o dinheiro para construir infraestrutura, e agora é o momento para esse tipo de posicionamento, que temos ouvido no último ano, se tornar realidade na legislação”, defendeu o CEO da Deutsche Telekom.

O comissário europeu Breton se posicionou a favor de mudança radical no modelo de licenciamento do espectro móvel. “No que diz respeito ao 6G, não podemos nos dar ao luxo de enfrentar atrasos no processo de licenciamento do espectro com enormes disparidades no calendário entre os estados-membros. Não podemos tolerar o mesmo resultado do 5G, onde o processo, após oito anos, ainda não está completo”, ressaltou, ao afirmar que as redes na Europa não estão à altura dos requisitos de desempenho. O que remete ao baixo retorno sobre os investimentos (ROI) do 5G e tem a ver, justamente, com a monetização das redes.

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