A bolsa brasileira, medida pelo índice Bovespa, teve o segundo pior desempenho no mundo, com perdas de 30% em dólar. Em moeda local, o Ibovespa caiu mais de 15%, retornando ao patamar de 2009.
Ou seja, mesmo em termos nominais, as principais ações brasileiras se encontram no mesmo nível de 4 anos atrás. Quando se acrescenta a inflação ou o custo de oportunidade (a renda fixa dos títulos públicos), nota-se que a perda de valor de nossas empresas é expressiva.
Muitos podem ignorar a notícia, como se fosse algo concernente somente aos investidores estrangeiros ou “especuladores”. No Brasil, ainda predomina a mentalidade de que a bolsa de valores é como um cassino, e a especulação é algo ruim. Não compreendem direito o papel de um mercado de capitais sólido e bem desenvolvido, e a importância da valorização das empresas listadas na bolsa.
Antes de mergulhar no assunto, vale um alerta: claro que o desempenho de um ano isolado qualquer não diz muita coisa. Podemos ter uma alta expressiva simplesmente porque o índice vem de uma base muito aviltada, após uma grave crise (casos da Venezuela e da Argentina, e do Brasil mesmo em 2003). É precipitado tomar o desempenho de um único ano como indicativo muito relevante, até porque os investidores também erram.
Dito isso, não há como negar que uma tendência nos mercados financeiros representa um sinal importante. Se os mercados não são perfeitos como indicadores antecedentes, costumam ser o melhor instrumento de previsão. Afinal, são o resultado de milhões de agentes autônomos interagindo, cada um expressando sua pequena parcela de conhecimento.
Nenhuma mente brilhante consegue substituir esse instrumento poderoso, e por isso é tão difícil “bater os mercados” ao longo de muito tempo. Raros gestores conseguem esta façanha, e como recompensa, se tornam bilionários. A grande maioria tenta e morre na praia.
O valor presente de uma empresa é o fluxo de caixa que ela vai gerar na perpetuidade, trazido ao presente por uma taxa de desconto. Não pretendo entrar em detalhes aqui, mas basta o leitor mais leigo saber que esse processo é uma constante tentativa de antecipar os fluxos de caixa dessas empresas.
Quando um índice cai 15%, isso quer dizer, portanto, que a média das empresas listadas e pertencentes ao índice perdeu 15% desse valor presente, após milhares de investidores exercerem suas análises próprias. Quem discorda da resultante dessas interações todas pode simplesmente exercer a própria análise comprando o índice, que estaria “barato” com o mercado errado.
Aqueles que têm sido mais otimistas com o Brasil e com a gestão Dilma têm, como consequência, comprado ações que caem ano após ano. O caso especial da Petrobras é sintomático: a empresa estatal já perdeu a metade do valor nos últimos anos! Isso não é fruto de especuladores malvados ou “neoliberais” (sinônimos na cabeça da esquerda), e sim de milhares de investidores se dando conta de que a gestão atual destrói muito valor na companhia.
E por que isso tudo importa? Simplesmente porque, em qualquer país mais desenvolvido, o mercado de capitais tende a ser uma das principais fontes de financiamento para novos investimentos. A valorização das empresas é relevante porque elas costumam usar esse valor para emitir novas ações e levantar mais capital, ou usar as ações existentes para comprar outras empresas.
Além disso, como ficou claro, o desempenho da bolsa de valores é um sintoma da saúde da própria economia, ainda que ambas nem sempre andem pari passu. Uma bolsa que perde a cada ano valor expressa o crescente pessimismo de todos os agentes independentes com o futuro dessa economia.
Qualquer governo, de esquerda ou não, deveria levar esse sinal a sério, e refletir sobre o que tem feito de errado. Só não esperem isso do PT. Como a presidente Dilma deixou claro no pronunciamento oficial de fim de ano, a campanha eleitoral vem em primeiro lugar, e uma autocrítica está fora de cogitação.
Com isso em mente, dificilmente essa trajetória de baixa será revertida. Quem quiser fazer uma aposta contrária, boa sorte. Mas saiba que está colocando a esperança acima do julgamento isento. Caveat emptor!
http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/economia/bolsa-br...
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A bolsa brasileira, medida pelo índice Bovespa, teve o segundo pior desempenho no mundo, com perdas de 30% em dólar.
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