A BRASPERA. QUE SAUDADE: Jamais poderia imaginar que iria escrever isso. No Colégio Americano de Vitoria (ES) tornei-me amigo de um gurizinho pequeno, meio moreninho (para padrões da Irlanda) o qual tive que o proteger debaixo de minha asa por conta do “Bullying” da Garotada, por ele falar meio diferente – e eu gostar de brigas. Seu nome era George Ernest Frank McCrea.
George e eu nos tornamos amigos, morávamos ambos perto do Parque Moscoso, e descíamos a ladeira do viaduto em carrinhos de Rolimã. O George tinha uma irmã chamada Anita Adriana, bem Irlandezinha, que eu creio ter sido a minha primeira perspectiva de namorada, mas aos nove anos de idade eu era bem menor do que a Anita com sete. Mas culpei tudo no fato que ela usava óculos e dai arranjei uma boa desculpa para esconder o sentimento. O David era o irmão caçula, também bem Irlandezinho , guri espoletado e desassombrado.
A amizade nossa de guris se estendeu as famílias e chegamos a visitar e ser visitados Pela Dona Anita e o Sr. George MacCrea. A Dona Anita ela muito bonita e nascida no Chile e arranhava o português. Já o Mr. George McCrea, engenheiro formado em Dublin, na Irlanda e especializado em linho, tinha um português, mas difícil do que acomodacoes em cela do Carandiru. Ele veio ao Brasil para montar as maquinas da Braspérola, amava a fabrica, os funcionários e frequentemente punha a “mão na graxa” para montar os maquinários da MAC, creio eu, ingleses, e repassar a tecnologia de manutenção aos funcionários despreparados.
Mr. Geoge McCrea amava tanto a fabrica que se deslocou de Vitoria para Cariacica, que na época por la ainda tinha uns poucos índios já “civilizados” (para evitar dizer “derrubados”) e foi morar nas dependências da fabrica, num bonito apartamento que existia no segundo andar...
Bem o George Ernest Frank e eu seguimos com a amizade: Visitava nos fim de semana na Braspérola e corríamos em cima de seu teto de zinco forte, corrugado e pintado de branco. Mas do que obvio era uma façanha perigosa e não permitida, mas aos nove anos somos imperecíveis. A direita da Braspérola, ou ao sul do prédio da Braspérola, havia um riacho que era o nosso Amazonas. Roubávamos uma canoa que lá ficava, saímos pelo riacho pescando e capturando peixinhos de aquário tipo Leibniz e outros. Bem não vou mencionar o afundamento da canoa e outras coisas. Definitivamente não éramos Tarzans...
Um dia houve uma choradeira geral: George, Anita, David e eu: A família voltaria a Irlanda.
Eu dei o meu jogo de rolimãs favorito para ele e uma lanchazinha Pop-Pop que funcionava a álcool, e ele me deu os cobiçados carrinhos Ingleses, de ferro fundidos, facilmente encontrados no google como Dinky Toys. A saída deles foi triste. Guardei os carrinhos como se fosse um pedaço do amigo e hoje eles estão na casa da Andrea Elizabeth, minha filha, decorando uma estante acima da lareira...
Depois daquilo, nunca mais pude ver a Braspérola. Quando íamos de carro ao Rio, evitava a olhar a fabrica, com saudade do meu amigo. Para mim a ida dos McCreas foi o da Braspérola - da Braspérola de uma criança.
Também, ainda que deva existir, eu nunca mais vi um Diretor de Fabrica, com uma camisa imaculadamente engomada e passada, metendo a mão na graxa, pacientemente ensinando a os funcionários a operação das maquinas, e fazendo assim não por temor – mas por amor – vinte quatro horas por dia e sete dias por semana, se preciso fosse. Eu ainda acho, mesmo depois de velho, que a saída do George McCrea, foi o começo do final da firma.
E mesmo errado, emocionalmente, sempre pensarei assim...
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Depois daquilo, nunca mais pude ver a Braspérola. Quando íamos de carro ao Rio, evitava a olhar a fabrica, com saudade do meu amigo. Para mim a ida dos McCreas foi o da Braspérola - da Braspérola de uma criança.
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