Fonte:|valoronline.com.br|
A morte do empresário Eduardo Abdelnur, na terça-feira, deixa a tecelagem Toalhas São Carlos, da qual era um dos sócios, numa situação ainda mais complicada. A fabricante têxtil, especializada em cama, mesa e banho, tinha entrado com pedido de recuperação judicial em São Carlos, onde está localizada, há cerca de dois meses. Em novembro, diante das dificuldades, a empresa demitiu quase 200 funcionários.
Segundo informações, a empresa, com várias décadas de atividades, dependia fortemente da exportação de toalhas de algodão - o modelo jacquard era um dos seus principais produtos. A situação se agravou com a valorização do real e a triplicação dos preços do algodão, a principal matéria-prima da São Carlos. Com isso, a fabricante viu seu faturamento reduzir drasticamente - no ano passado foram R$ 75,4 milhões.
A São Carlos já passa a ser vista como a primeira vítima, no setor têxtil, do processo de desindustrialização, decorrente da perda de competitividade com o câmbio desfavorável às exportações e altamente vantajoso à entrada de produtos importados, principalmente chineses.
Abdelnur, de 46 anos, era considerado "arrojado, inteligente e dinâmico" por seus pares do setor. Deprimido com a situação da companhia, os indícios indicam, até o momento, que ele decidiu se suicidar. "Foi a primeira vítima física desta situação cambial e da penetração chinesa no mercado brasileiro" afirmou um especialista do setor. "E pode não ser a única", acrescentou.
O empresário era diretor do departamento regional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), bem como um dos diretores do Centro das Indústrias no Estado de São Paulo (Ciesp). Era grande amigo do presidente da entidade, Paulo Skaf, com quem participou do processo eletivo das duas entidades industriais. Skaf disse que, em respeito à família, preferia não se pronunciar sobre a morte de Abdelnur, informou sua assessoria.
Para alguns empresários do setor, o caso da São Carlos parece ser isolado. Apesar das perdas consecutivas de presença no mercado externo, reflexo da valorização cambial, o setor brasileiro, com o consumo aquecido, atravessa um ano de otimismo em relação a 2009. Segundo o IBGE, de janeiro a junho deste ano, o índice de produção industrial cresceu 11,34% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Esse crescimento tem se baseado em grande parte no mercado doméstico. Com a queda de competitividade, prejudicada pelo dólar, e o enfraquecimento da demanda externa nos mercados tradicionais, em função da crise, as empresas trouxeram a mercadoria de volta para o país.
Segundo dados Associação Brasileira de Indústria Têxtil (Abit), compilados da Secex, as importações de confecções e artigos acabados de cama, mesa e banho tiveram aumento de 39% na comparação com o mesmo período de 2009. Na mesma época, as exportações subiram 2,3%. O setor de cama, mesa e banho - onde atua a São Carlos -, que chegava a exportar de 30% a 50% das suas receitas, sofreu mais que os outros.
O aumento dos preços do algodão, que vive altas históricas, chegando recentemente a R$ 2,80 a libra-peso (ou R$ 6,16 o quilo) no mercado, trouxe um ingrediente adicional ao cenário. "É a única grande nuvem negra que paira sobre o setor", diz Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Blumenau (Sintex). O segmento se prepara para enfrentar a pressão de preços da matéria-prima até 2012.
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem (Sintrafite), Vivian Bertoldi, que representa 35 mil trabalhadores em Blumenau, Gaspar e Indaial, no Vale do Itajaí catarinense, diz que o ano tem sido aquecido na região e que há falta de mão de obra para algumas funções. Segundo ela, a categoria conquistou reajuste de 6%, com 1,68% de ganho real, no ano.
A situação da São Carlos agravou-se em 2009 com a falência da empresa alemã Quelle, de varejo e catálogos, cliente da companhia. A indústria paulista tinha embarcado grande quantidade de mercadoria quando a varejista quebrou. Sem conseguir desembarcar nem receber pelos produtos, a situação envolveu diretamente o empresário, que fez viagens a Alemanha em busca de uma saída. A empresa enfrentava ainda dificuldades para manter as vendas para a Argentina no começo deste ano. Com a recuperação judicial, Abdelnur não suportou. "Nos últimos meses, ele vivia calado e estava muito deprimido", segundo relatos de uma fonte.
Para a Polícia Civil de São Carlos, que investiga o caso, a principal hipótese é a de que Abdelnur tenha mesmo cometido suicídio. De acordo com o Adriano Alexandrino, titular da 4ª Delegacia de Polícia da cidade, o empresário chegou à sede da empresa às 7h33 da terça-feira. Às 10h, participaria de uma reunião de rotina, mas até 10h10 não havia chegado ao local. Um funcionário foi procurá-lo e o encontrou, já morto, em sua sala. Em seguida, um dos seus irmãos, que tentava reanimá-lo, foi alertado por outra pessoa de que havia uma arma no local e mandou que se "desse um fim" a ela.
Nos depoimentos informais colhidos pela polícia, o irmão afirmou que jogou a arma em um dos tanques da empresa, que continha um milhão de litros de água. A busca será feita hoje pela manhã, quando a polícia fará uma diligência ao local após o esvaziamento do tanque, que demorou mais de 40 horas.
Segundo o delegado Alexandrino, há indícios que sustentam a hipótese de suicídio. Na lixeira da sala de Abdelnur foi encontrado um bilhete rasgado, reconstituído pela polícia, que continha uma mensagem assinada pelo empresário com "expressões compatíveis com suicídio". A polícia também recebeu e-mails do psiquiatra de Abdelnur, endereçados a outro de seus irmãos, demonstrando preocupação diante da ausência do empresário na última consulta agendada. O médico havia prescrito medicamentos para o tratamento de um grave transtorno mental, diagnosticado como "síndrome de ruína", mas o empresário não retornou ao consultório.
A origem da empresa se deu no início do século passado, quando o patriarca da família, o libanês Miguel Abdelnur desembarcou em Santos em 1914. Ele decide investir no comércio de tecidos, mascateando entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estabelecidos em Pelotas (RS), os negócios prosperavam: transformaram-se numa loja de tecidos e armarinhos. Nos idos dos anos 40, já em São Carlos, a família monta uma pequena indústria têxtil de meias, que prosperou timidamente. A pequena fábrica, após alguns anos, passou a produzir também brins. Em 1946, tornou-se uma tecelagem especializada em toalhas.
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O GOVERNO NÃO DEVERIA, MAS TERÁ QUE RESTRINGIR A ENTRADA DE CONFECÇÕES DO ORIENTE A FERRO E FOGO. MAS OS MAIORES CULPADOS SÃO OS LOJISTAS " brasileiros " QUE ESTÃO CHUPANDO ESTA SITUAÇÃO ATÉ O CAROÇO. UMA VERGONHA!!!
QUANTO AO TITULAR DA TOALHAS SÃO CARLOS, FOI PRINCIPALMENTE A QUELLE QUE DEU ESTE DESFECHO TRÁGICO NA VIDA DELE.
QUEM ENTENDE ALGUMA COISINHA DA INDÚSTRIA TEXTIL BRASILEIRA NO CONGRESSO NACIONAL??? TALVEZ O TIRIRICA!!!!
O governo deveria restringir a entrada de produtos chineses.
Isto nos levará a bancarrota.
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