Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Lance Armstrong foi banido do esporte pela União Ciclística Internacional por acusação de doping. Ele perdeu seus sete títulos da Volta da França, assim como oito patrocínios nos últimos meses. Antes um exemplo para muitos, o atleta agora se vê em desonra. O público não tolera uma competição desleal nos esportes.

Infelizmente, o mesmo não ocorre quando se trata de economia. Muita gente acha natural que o governo crie privilégios e incentivos, beneficiando certos empresários. O governo Dilma parece ter adotado com gosto o manual nacional-desenvolvimentista de seleção dos campeões nacionais, como na era Geisel.

Algumas empresas agraciadas por critérios arbitrários recebem incentivos que destroem a essência do capitalismo, que é a livre concorrência. Barreiras protecionistas, cotas nacionais, empréstimos do BNDES com juros subsidiados, ligações espúrias com as estatais, enfim, há diversas formas de se manipular o mercado, análogas ao uso de doping nos esportes. Mas poucos reclamam.

O bilionário Eike Batista fala abertamente deste “capitalismo de compadres” como se fosse algo positivo. Em entrevista recente, o empresário disse que o governo deveria investir mais em suas empresas. Seu grupo EBX já recebeu mais de R$ 8 bilhões do BNDES em quatro anos. São taxas camaradas, que toda a torcida do Flamengo gostaria de ter acesso.

Em uma espécie de surto megalomaníaco ao estilo Lula, Eike Batista chegou a afirmar: “Alguém vai ter que fazer uma estátua para mim em algum lugar”. Não quero ser injusto aqui: Eike tem lá seus méritos. É corajoso em suas empreitadas, não tem vergonha de sua riqueza, algo importante em um país que considera o sucesso uma “ofensa pessoal”. Mas sua simbiose com o governo não permite que ele seja visto como um ícone do capitalismo. Ao menos não do modelo liberal.

Eike Batista representa o capitalismo de Estado, assim como seu colega da lista de bilionários da Forbes, Carlos Slim. São casos de inegável sucesso, mas com forte turbinada estatal. Típico da América Latina, cuja presença do estado na economia ainda é muito grande, criando incentivos perversos onde o lobby vale mais do que o mérito e o investimento em competitividade.

Outro caso escandaloso é o da JBS, que já recebeu mais de R$ 10 bilhões do BNDES, agora sócio da empresa. Em 2005, ela faturava menos de R$ 4 bilhões por ano. Em 2010, o faturamento já passava dos R$ 55 bilhões. A “Boibras” se tornou um gigante graças ao empurrão do governo. Em contrapartida, ela foi um dos maiores doadores corporativos para a campanha de reeleição de Lula em 2006.

Em um país como o Brasil qualquer empresário grande precisa manter boas relações com o governo

Esses grandes empresários latino-americanos não podem ser comparados a gente como Steve Jobs (Apple), Michael Dell (Dell), Larry Ellison (Oracle), Jeff Bezos (Amazon), Bill Gates (Microsoft), Larry Page (Google) e Mark Zuckerberg (Facebook). Estes empreendedores não contaram com o doping estatal. Não por acaso, são todos do setor de tecnologia, onde há menos intervencionismo. Seu sucesso foi decorrente apenas de trocas voluntárias com seus clientes.

Claro que o sistema faz toda diferença do mundo. Em um país como o Brasil, onde uma canetada da presidente pode selar o destino de um setor inteiro, qualquer empresário grande precisa manter boas relações com o governo. Além disso, se existe o BNDES, claro que todos vão fazer de tudo para entrar na lista de beneficiados. Faz parte do jogo. O que está errado são as regras do jogo por aqui.

Por isso acho injusto culpar somente os empresários que mamam nas tetas estatais. A culpa maior é do nosso modelo, com poder demais concentrado no estado. Se, por um lado, é preocupante ver Eike Batista transformado em ícone do capitalismo, também é exagerado demonizá-lo (ainda que ele mereça duras críticas). Não é fácil ser um grande empreendedor no Brasil sem as muletas estatais. Eles existem, e são verdadeiros heróis. Mas trata-se de algo raro.

O que precisamos, portanto, é alterar as regras do jogo. Precisamos de bem menos governo, e bem mais mercado livre. Acima de tudo, como defende Luigi Zingales em seu excelente livro “A Capitalism for the People”, nós precisamos criar um ambiente de pressão social contra privilégios estatais. É preciso recuperar os valores éticos que rejeitam a ideia de que o importante é vencer, custe o que custar.

Um atleta pego com doping cai em desgraça. Um empresário que depende das vantagens do estado deve ser visto como um concorrente desleal, não um exemplo a ser seguido. Precisamos de regras iguais para todos. Precisamos de um capitalismo sem doping.

Fonte: O Globo,

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Comentário de Edson Baron em 2 novembro 2012 às 11:37

Não vou defender a elevada carga tributária e a ineficiência estatal extrema que sufoca e oprime o empreendedor brasileiro, tornando-o voluntarioso mas pouco competitivo. Longe disso. Mas o texto peca por ser seletivo a "la Ricupero", quando menciona, por exemplo, empresários americanos bem sucedidos - absolutamente nada contra - mas não agricultores americanos condenadamente subsidiados.

Deveria apontar onde há capitalismo sem doping!? Não aponta! E não o faz porquê?

Porque o doping tem várias facetas e caminha obscuro com todos os seus meandros.

Essa crise iniciada em 2008 tem demonstrado, mais do que nunca, que capitalismo sem doping é uma utopia. O doping capitalista se manifesta cada um a seu jeito: dumping, subsídio, regulação hipócrita, descaminho, manipulação cambial, overdose de grana injetada no mercado, escravagismo, e etc. e tal.

Para combater o doping no esporte, as entidades desportivas têm que estar atentas o tempo todo para as "inovações"dos atletas espertalhões.

Para combater o "doping capitalista" a OMC deveria ser mais eficiente, rápida e independente. Não é!

Deveria capitanear o comércio justo, sem "anabolizantes" ou "estimulantes impróprios". Não age assim!

Acaba por restar o "Deus nos acuda" e o "Salve-se quem puder", e é isso que tem sido praticado por todos os países, indistintamente. E nessa bagunça total, o Brasil tem apenas utilizado um "redbullzinho": um estimulante limitado, mas não ilegal!

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