Introdução sobre o WikiLeaks
Como você descobriria que um presidente da França usa a popularidade de sua bela esposa, uma ex-modelo, para aumentar as chances
dos interesses franceses em outros países?
Ou que o governo brasileiro
"disfarçou" a prisão de terroristas e que a diplomacia brasileira
durante o governo Lula foi vista como "antiamaericana"? Há algumas
opções: você poderia ser um
espião,
um diplomata norte-americano no Brasil, ou, simplesmente, esperar que
um site especializado em revelar documentos secretos publicasse essas
informações. Esse site existe e chama-se
WikiLeaks.
WikiLeaks
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O WikiLeaks é uma organização internacional sem fins lucrativos cuja
proposta é divulgar e comentar documentos que tragam informações
consideradas sensíveis e que atestem a má conduta de governos e grandes
corporações. O WikiLeaks trabalha com documentos oficiais que de alguma
forma foram "vazados" e chegaram às mãos de seus integrantes.
O
site tem estado no centro de polêmicas internacionais por conta de suas
revelações, como a feita em abril de 2010 quando um vídeo secreto, feito
pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, mostrou o desastrado ataque de
um helicóptero militar norte-americano no Iraque em 2007 que resultou
na morte de vários civis, inclusive dois correspondentes da agência
Reuters. Mas esse foi apenas um dos várias escândalos provocados pelo
WikiLeaks e que deixaram muita gente poderosa em situação
constrangedora. Na próxima página, conheça um pouco da história e do
modo de operar desses autoproclamados defensores radicais da verdade e
da transparência.
Mistério e teorias da conspiração
Um dos mistérios que cerca o WikiLeaks é sobre as pessoas que o fazem.
Julian Assange é um dos poucos fundadores e diretores conhecidos da
organização. Segundo a BBC, Assange nasceu na Austrália em 1971 e na
adolescência já tinha demonstrado seu talento para a matemática. Em
1995, sua habilidade como hacker foi descoberta pelas autoridades
australianas e ele foi condenado a pagar uma multa de vários milhares de
dólares, mas escapou da prisão. Passou então os três anos seguintes
investigando junto com a pesquisadora Suelette Dreyfuss o lado
subversivo da internet. A pesquisa resultou no livro "Underground".
Assange cursou física e matemática na Universidade de Melbourne antes de
se tornar um radical defensor da transparência nas informações. Mas sua
trajetória inclui também uma acusação de estupro, feita por um promotor
sueco após sua passagem pelo país em agosto de 2010. O diretor do
WikiLeaks alega que a acusação faz parte de uma campanha internacional
para desacreditá-lo e, consequentemente, também o site. O caso está na
Suprema Corte sueca.
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WikiLeaks: origem e modo de operar
WikiLeaks
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O WikiLeaks surgiu para o público em janeiro de 2007, quando seus
fundadores anunciaram a iniciativa da organização, sem fins lucrativos,
de divulgar informações obtidas através de documentos confidenciais
vazados de grandes corporações e governos que interessassem à opinião
pública mundial. No começo muitos dos documentos disponibilizados foram
fornecidos por pessoas interessadas em denunciar (por motivo de justiça
ou vingança) seus ex-empregadores, mas os mais importantes estavam
relacionados a histórias de interesse público. No começo, a base de
operações da organização estava na Suécia.
O site surgiu com o
intuito principal de expor os regimes opressivos na Ásia, nos ex-países
que formavam a União Soviética, no Oriente Médio e na África, mas também
esperava ser uma forma de apoiar "as pessoas de todas as regiões que
desejassem revelar comportamentos antiéticos de seus governantes e
corporações". Atualmente o WikiLeaks estabeleceu como política editorial
dedicar-se unicamente a documentos de interesse ético, político,
diplomático ou histórico.
O que se sabe do funcionamento do
WikiLeaks mostra que sua forma de operar é composta basicamente por
quatro etapas. Alguém com acesso aos documentos secretos os entrega a um
integrante ou colaborador do WikiLeaks. A organização não registra
informações que levem à identificação de quem entregou os documentos
vazados. O WikiLeaks afirma que quando possível faz uma verificação para
estabelecer a confiabilidade da pessoa que vazou o material. Depois, os
documentos são analisados pela equipe da organização para que seja
atestada a autenticidade do material. Segundo o diretor Julian Assange,
nessa etapa, cinco especialistas checam a veracidade das informações
contidas nos documentos. Finalmente, os documentos são disponibilizados
no site, junto com um resumo de seus conteúdos. A organização pode
também distribuir a documentação a alguns dos mais respeitados veículos
de comunicação para uma divulgação simultânea das informações.
Os
defensores do WikiLeaks afirmam que ele protege as fontes de
informações, os jornalistas e os ativistas que querem divulgar material
considerado confidencial mas que seria de interesse público. Já seus
críticos, acusam o site de ameaçar a segurança nacional dos países
atingidos pelo vazamento e de colocar em risco também a vida de pessoas
cujas identidades devem ser mantidas em segredo.
Para garantir a segurança e o anonimato de suas fontes, Assange afirma que a organização tem
criptografado
tudo, espalhado suas instalações por vários países, como a Islândia e a
Bélgica, e as comunicações têm sido feitas a partir do redirecionamento
das ligações por diversos locais, de forma a evitar o rastreamento.
Segundo ele, muitas vezes o dado vazado chega ao WikiLeaks pelo correio,
endereçado a uma caixa postal, sem identificação da fonte. Em todos os
casos, todo material, exceto os documentos, é imediatamente destruído
para eliminar qualquer pista que possa levar a quem os vazou. Leia na
próxima página quais foram alguns dos documentos secretos publicados
pelo WikiLeaks entre 2007 e 2010.
Verificando a veracidade
Segundo o WikiLeaks, todas as histórias e documentos recebidos são
detalhadamente checados. Para atestar sua veracidade, cada documento
recebido é minuciosamente examinados por especialistas e submetido a uma
etapa de verificação na qual o WikiLeaks procura saber quem teria
motivo para falsificar aquele tipo de documento e por qual razão. A
organização afirma que usa as técnicas tradicionais do jornalismo
investigativo junto com as mais modernas tecnologias. Geralmente, é
feita uma análise forense do documento e verificado o custo, os meios e
os motivos para uma eventual falsificação. A organização busca comprovar
a autenticidade dele também a partir de elementos externos. Por
exemplo, no caso do vídeo que mostrou o ataque do helicóptero militar
norte-americano no Iraque, em 2007, que causou vítimas civis, a
organização afirma que enviou uma equipe de jornalistas ao Iraque para
entrevistar as vítimas e as testemunhas do ataque. Essa equipe teria
obtido registros nos hospitais, atestados de óbitos e outras evidências
que ratificaram a veracidade do material que o WikiLeaks havia recebido.
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WikiLeaks: denúncias e constrangimentos
A proposta do WikiLeaks é de promover a transparência radical nas informações para mostrar à população "como o mundo funciona", segundo
Assange. A organização afirma que é um grupo mundial independente
formado por pessoas com uma longa trajetória de dedicação à defesa de
uma imprensa livre e da transparência derivada disso. Desse grupo,
segundo o site, participariam jornalistas com reconhecida credibilidade,
programadores, engenheiros de rede e matemáticos, entre outros
profissionais.
Veja a seguir alguns dos fatos revelados pelos documentos secretos disponibilizados pelo WikiLeaks entre 2007 e 2010:
- Climagate: na véspera da conferência sobre o clima patrocinada pela ONU e
realizada em Copenhague (Dinamarca) em 2009, milhares de e-mails
trocados entre cientistas, que defendem a tese do aquecimento global
causado pelo homem, com a Unidade de Pesquisa do Clima, da Universidade
de East Anglia, na Inglaterra, um dos mais respeitados centros de
pesquisa sobre mudanças climáticas no mundo, vazaram e foram divulgados
pelo WikiLeaks. O teor de muitos e-mails colocava em dúvida a ética de
alguns cientistas na condução das pesquisas e no compartilhamento dos
dados. O escândalo ficou conhecido como "climagate".
- Segredos da Cientologia: em março de 2008, o WikiLeaks divulgou uma série de documentos considerados as "bíblias secretas" da Igreja da Cientologia, seita fundada pelo escritor L. Ron Hubbard e que conta com muita gente
famosa entre seus seguidores. Os documentos mostram como os seguidores
da seita
podem alcançar os oito diferentes níveis da Cientologia, nos quais
"muitos fenômenos" podem acontecer. Normalmente, para alcançar cada um
desses níveis o seguidor da seita tem de desembolsar muito dinheiro.
- Diplomacia-espiã: em novembro de 2010, o WikiLeaks começou a divulgar junto com cinco dos
mais importantes jornais do mundo - entre eles o "El País", da Espanha,
e o "The Guardian", da Inglaterra - cerca de 250 mil comunicados
oficiais entre as embaixadas e consulados dos Estados Unidos ao redor do
mundo e Washington, enviados entre 1966 e 2010. As comunicações
revelaram a visão norte-americana sobre líderes e ações governamentais
em diversos países. Entre as milhares de informações contidas nesses
telegramas e relatórios diplomáticos, está registrado que o governo
chinês contrata e usa hackers para fazer invasão de sistemas de
computadores de governos e empresas ocidentais e de inimigos políticos,
que os diplomatas americanos desconfiam que há uma ligação entre o
premiê russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro italiano Sílvio
Berlusconi, que incluiria lucrativos contratos de energia, e que o rei
Abdullah, da Arábia Saudita, solicitou várias vezes para que os Estados
Unidos atacasse o Irã.
- Guerra no Afeganistão: em julho de 2010, o WikiLeaks divulgou milhares de documentos sobre as
ações militares das tropas internacionais no Afeganistão. Em cerca de 90
mil documentos elaborados entre 2004 e 2009 são revelados detalhes da
guerra travada pelas tropas dos Estados Unidos e dos países da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra o Taleban.
Segundo esses documentos, o serviço de espionagem do Paquistão estaria
ajudando o Taleban e também colaborando com a Al-Qaeda. O material
mostra queixas dos afegãos sobre a corrupção no governo local e registra
erros em ações militares que resultaram na morte de civis e causaram a
perda de confiança da população nas tropas estrangeiras.
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