Os protestos violentos e saques causados no Egito pelo impasse entre manifestantes e o presidente Hosni Mubarak ameaçam ter repercussões econômicas na região e no mundo.
A economia do Egito é relativamente pequena — a quarta maior do Oriente Médio, com PIB ano passado de quase US$ 217 bilhões, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional. Mas o país tem um papel econômico bem maior por abrigar uma das rotas comerciais e de petróleo mais importantes do mundo, o Canal de Suez.
O Egito também é o maior comprador mundial de trigo e exporta um volume significativo de algodão. E também tem um dos mercados financeiros mais globalizados da região, o que faz com que as bolsas do país sejam uma aplicação popular entre os investidores voltados a mercados emergentes.
No curto prazo, a maior preocupação econômica mundial continua sendo a cotação do petróleo. O Egito não é um grande produtor da commodity. Mas um volume significativo de carregamentos de petróleo e derivados passa diariamente pelo Egito, vindo do Oriente Médio para os mercados europeu e americano.
Cerca de 1 milhão de barris diários de petróleo e refinados são transportados rumo ao norte pelo Canal de Suez, segundo estimativas do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Um oleoduto ligando o Mar Vermelho e o Mediterrâneo transporta mais 1,1 milhão de barris diários. Juntas, essas duas rotas movimentam cerca de 2% da produção mundial de petróleo.
Se o transporte de petróleo pelo Egito for interrompido, o suprimento europeu — e a cotação mundial — pode ser "extremamente afetado", disse Dalton Garis, professor associado de comportamento do mercado petrolífero no Instituto do Petróleo, um centro de pesquisas sobre energia sediado em Abu Dhabi.
Até agora, o fluxo de petróleo pelas duas rotas parece não ter sido afetado. Mas o toque de recolher do anoitecer ao amanhecer no país obrigou as empresas de transporte marítimo que operam no canal a alertar no fim de semana para possíveis atrasos e dificuldades em contatar agentes e pilotos, e também para obter peças de reposição. Se levado em conta o transporte de petróleo, cerca de 8% do comércio marítimo mundial passa pelo canal, segundo dados do governo do Egito.
"Os protestos não prejudicaram o tráfego de navios", disse ontem Abdul Ghani Mohamed Mahmoud, porta-voz da Autoridade do Canal de Suez. "Tudo está indo normalmente", acrescentou. Não foi possível localizar Autoridades da Arab Petroleum Pipeline Co., dona do oleoduto Suez-Mediterrâneo, para obter um comentário.
O contrato futuro do petróleo referencial dos EUA subiu mais de 4% na sexta-feira depois que dezenas de milhares de manifestantes enfrentaram a polícia e o Exército no Egito inteiro.
Em meados de 2009, os mercados de petróleo praticamente não se mexeram quando ocorreram gigantescos protestos governamentais no Irã, um dos maiores produtores mundiais de petróleo. A reação diferente do mercado desta vez ressalta um cenário mundial muito diferente de oferta e demanda apenas 18 meses depois. Depois de cair fortemente por causa da crise financeira e econômica, a demanda se recuperou recentemente. Isso deixou os mercados muito mais sensíveis a ameaças de problemas na oferta.
Além do papel do Egito como rota de transporte do petróleo, os temores de que a turbulência vai se espalhar para produtores maiores pode influenciar ainda mais o mercado.
A Argélia, importante produtora de petróleo e gás natural, tem enfrentado nas últimas semanas protestos antigoverno parecidos com os que tomaram conta do Egito. A mais recente onda de turbulência regional começou este mês na Tunísia e culminou na derrubada do autocrático líder do país, no poder há mais de duas décadas, e também causou tumulto no Iêmen. A Arábia Saudita e os outros países do Golfo Pérsico, ricos em petróleo, conseguiram até agora evitar as manifestações, mas líderes árabes deram a entender durante o fim de semana que temem que os protestos se espalhem.
O rei da Arábia Saudita criticou no sábado os manifestantes egípcios e expressou apoio a Mubarak. Num comunicado divulgado ontem, a agência estatal de notícias Saudi Press Agency informou que o rei Abudllah bin Abdulaziz al-Saud conversou com o presidente dos EUA, Barack Obama, pelo telefone e lhe disse que "a estabilidade e o bem-estar e a segurança desse povo irmão não pode ser barganhada".
Embora a produção egípcia de petróleo não seja muito grande, o país se tornou rapidamente um exportador considerável de gás natural. Parte dele segue por gasodutos para seus vizinhos no Oriente Médio. Mas a maioria das exportações de gás do Egito é transportada atualmente na forma de gás liquefeito supercondensado em navios-tanque com rumo aos EUA e aos mercados asiáticos.
Até agora, as operações de extração de petróleo e gás aparentemente não foram afetadas pelos protestos. O diretor-presidente da produtora regional de gás Dana Gas PJSC, Ahmad al Arbeed, disse ontem que a empresa está operando normalmente.
Mas as petrolíferas internacionais fecharam seus escritórios no Cairo. Tanto a BP PLC quanto a Royal Dutch Shell PLC fecharam seus escritórios ontem, disseram chefes de segurança das petrolíferas. Um chefe de segurança da Shell disse que parte dos funcionários expatriados já deixou o país.
Os outros mercados de commodities também podem ser extremamente influenciados pelos acontecimentos no Egito. O país é o maior comprador mundial de trigo e um dos principais exportadores de algodão.
O contrato futuro do trigo caiu mais de 2% na sexta-feira em Chicago, em parte por causa dos temores de que uma possível derrubada do regime no Cairo possa prejudicar a capacidade egípcia de pagar pelo trigo. O comprador oficial de trigo do governo disse ontem que não planeja mudar seus pedidos.
"Vamos comprar o volume habitual", disse Nomani Nasr Nomani, vice-presidente da Autoridade Geral de Suprimento de Commmodities. Nomani disse que as remessas de trigo estão sendo descarregadas normalmente nos maiores portos do Egito, como o de Alexandria e o Porto Said.
Enquanto isso, os exportadores de algodão podem ser prejudicados nos próximos dias pela falta de segurança e o toque de recolher no país. A cotação mundial de algodão já atingiu o maior nível dos últimos 140 anos.
E os investidores das bolsas mundiais também estão se preparando para sentir o efeito. Embora o mercado acionário do Egito seja menor que muitos outros do Oriente Médio, é um dos mais abertos da região a investidores estrangeiros. Ele é acompanhado de perto por investidores internacionais e integra o índice MSCI de mercados emergentes. A bolsa saudita, embora muito mais capitalizada, ainda é considerada um novo mercado.
A bolsa egípcia está fechada desde que começaram os protestos.
"Se acompanham os índices padrão, os investidores em mercados emergentes terão exposição [ao Egito] e vão ser prejudicados", disse Eiji Aono, diretor de análise de mercado da NCB Capital, uma firma de investimentos sediada em Riad.
(Colaboraram Shereen el Gazzar, Tahani Karrar-Lewsley e Nikhil Lohade, de Dubai)
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