Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Passados os efeitos da crise financeira global é hora das empresas se protegerem em relação aos riscos de inadimplência e insolvência. Afinal, hoje o País cresce e o cenário é positivo. E nesse momento que os segurados têm de ser alertados
O seguro de crédito não cresce. Seja interno ou à exportação, o ramo obtém números cada vez menores no território brasileiro. A falta de cultura para a contratação deste seguro é uma das explicações. A modalidade ainda é recente no Brasil. Tem apenas 10 anos e seus principais clientes são empresas multinacionais, que trazem em seu DNA a contratação desta proteção por já usufruir o benefício em seu país de origem. Enquanto na Europa as empresas transferiram o serviço de cobrança para as seguradoras, no Brasil a alta inflação fez com que as organizações criassem um departamento de crédito muito forte, inviabilizando o desenvolvimento do seguro no mercado nacional.
A crise financeira global também atrapalhou o desenvolvimento do seguro de crédito no País. Como o principal risco coberto é o de inadimplência, o segmento teve uma retração muito forte a partir de 2008. Foi um momento de muitos sinistros por conta da dificuldade das empresas honrarem seus compromissos. É um movimento natural. Diante do aumento das indenizações, as seguradoras foram obrigadas a reestruturar seu portfólio e suas políticas de aceitação de risco. Ao invés de expandirem seus negócios, preferiram reduzir sua atratividade comercial no seguro de crédito. Muitas empresas, inclusive, não conseguiram renovar suas apólices.
No entanto, é justamente num cenário de crise que a procura por este tipo de proteção aumenta. Em vão. Isso porque quando o problema já existe, dificilmente o cliente consegue contratar o seguro. Com este cenário, as seguradoras tiveram de preservar sua capacidade de subscrever riscos para as apólices existentes.
Hoje, a realidade é outra. Há um consenso entre os especialistas de que os efeitos da crise já passaram. Entre os executivos do setor de seguros, as expectativas são positivas, sustentadas pelos fundamentos sólidos da economia nacional."O Brasil goza de fundamentos próprios e com uma conjuntura muito propícia de crescimento e baixa inadimplência nos próximos anos. Isso faz com que as seguradoras tenham mais apetite para a subscrição de risco", contextualiza Daniel Nobre, diretor Comercial da CesceBrasil.
Porém, o interesse pelo seguro de crédito é anticíclico. Ou seja, quando a economia vai bem, está crescendo e o índice de inadimplência é baixo, o segurado não vê tanto o benefício em contratar a proteção. As seguradoras estão com apetite para subscrever risco, porém, as empresas, quando avaliam o cenário econômico, não identificam o custo-benefício do produto. O que os segurados não sabem, seja por uma resistência cultural ou por desconhecimento, é que este é o melhor momento para contratar seguros de crédito. "O Brasil não tem tradição de contratar este tipo de proteção. Muitas vezes, o contratante desconhece ou não percebe como ele pode alavancar seus negócios se souber usar o seguro de crédito de maneira inteligente", assegura Marcos D'Agostini, da corretora Trade Solutions Brasil.
Por ser um produto que exige especialização por parte dos corretores, poucos profissionais investem neste ramo, contribuindo para seu desenvolvimento tímido. Outro ponto que atrapalha a sua comercialização é a não formação de carteira neste segmento. Os contratos são de 12 meses e têm de ser batalhados ano a ano. Essa conquista é ainda mais difícil quando se tratam de empresas brasileiras.
Como as multinacionais já têm costume de recorrer ao seguro de crédito, as nacionais são vistas como o grande filão do setor. Na Coface, por exemplo, 50% da carteira correspondem a grupos nacionais.
Porém, a companhia quer aumentar este número para 70%. Para atingir esta marca, a seguradora está apostando no canal corretor. "Estamos treinando vários profissionais e realizando diversas ações para divulgar o seguro de crédito no Brasil. E mais uma modalidade que pode incrementar a carteira dos corretores", ressalva o presidente da Coface, Joel Paillot.
Segundo ele, a expectativa para 2011 é boa. No ano passado, apesar dos números terem sido menores que em 2009, o executivo explica que deve ser considerado o período em que a atividade comercial das seguradoras ficou ativa. "Até maio de 2010, o seguro de crédito ficou parado. Ou seja, os R$ 150 milhões arrecadados no ano passado equivalem a sete meses de operação do setor. Se analisarmos sob esta ótica, o mercado cresceu", analisa.
Na corretora Lockton, a percepção também é positiva. A demanda por seguro de crédito aumentou ao longo do primeiro semestre deste ano, sendo que muitas empresas passaram a avaliar a possibilidade de aderir ao seguro de crédito tanto interno como externo. "Passada a crise financeira global, as organizações voltaram a cotar o preço deste tipo de proteção para analisarem se é viável incluí-lo no valor dos produtos comercializados", ratifica Edite Ritchie, diretora Comercial da Lockton.
Atividade exportadora
O cenário para o seguro de crédito externo é bem mais preocupante do que o interno. Isso porque há várias situações que tornam a percepção de riscos mais gravosos no mercado internacional. Com os recentes acontecimentos globais, os exportadores no Brasil têm tido problemas em vários países. Um deles são os Estados Unidos. Embora a crise tenha passado, a economia norte-americana ainda está muito deprimida, prejudicando o exportador brasileiro que tem a região como um dos melhores mercados. Na Europa, região que até então estava incólume a este tipo de problema, países como Portugal,.Espanha, Itália, Irlanda e Grécia estão com problemas para renegociar suas dívidas externas.
Outra região "problemática" é o Oriente Médio. As revoluções causam um forte efeito dominó, gerando incerteza quanto a movimentos políticos. "Esses eventos alavancaram a demanda para a cobertura em regiões onde o risco político é mais elevado tanto por parte das empresas como das instituições bancária si confirma Edite, da Lockton.
Enquanto isso, no Japão o desastre natural afetou fortemente a capacidade produtiva do país, deprimindo a demanda agregada mundial, tal como aconteceu com os EUA. Há também muitas dúvidas sobre a China em relação à sustentabilidade do seu crescimento. "Existem muitos fatores no mercado internacional que favorecem a abordagem ao seguro de crédito à exportação, até porque este tipo de proteção cobre riscos econômicos e políticos", lembra Nobre, da CesceBrasil.
Além desses, há o risco comercial e o legal, que 6.quando o exportador tem dificuldade de fazer a cobrança num país que ele não conhece a legislação o que, segundo fontes entrevistadas pela Apólice, favorece mais a venda deste tipo de proteção.
Soluções locais
O seguro de crédito, interno ou à exportação, atende a empresas de variados tamanhos e setores. Mas, geralmente, quem as contrata são multinacionais. Segmentos como cerâmica, sapato, além de fabricantes de diversos produtos são clientes potenciais. "Uma das primeiras áreas a aderir ao seguro de crédito no Brasil foi a têxtil, após obter muitas experiências negativas", conta Rogério Vergara, diretor Executivo do Grupo BB Mapre.
Segundo ele, o que falta para o produto se desenvolver no País é o segurado parar de ver a proteção como um custo. Também falta um trabalho de divulgação por parte das seguradoras. "Caso isso aconteça, o volume de prêmios do seguro de crédito pode ser facilmente multiplicado por dez, alcançando o patamar de R$ 1 bilhão em prêmios num prazo de 5 anos", projeta.
Uma solução viável, na visão do presidente da Coface, é a união das seguradoras que operam com a carteira de crédito no mercado nacional para a realização de ações de divulgação do produto. Por ora, a seguradora tem agido de maneira individual, investindo na expansão geográfica da companhia e no lançamento de novos produtos. Recentemente, o grupo criou o Single Risk e Customized Credit Opinion (CCO). O primeiro cobre o risco de crédito em uma venda ou projeto a ser entregue. O limite coberto é de até US$ 50 milhões, sendo que o percentual de cobertura atinge até 90% do valor do contrato. Além de não ser cancelável, a apólice oferece proteção de longo prazo para operações que apresentam riscos comerciais. Já no CCO, os analistas de underwriting da Coface avaliam os riscos de crédito para o cliente para auxiliá-lo a tomar decisões mais seguras em suas transações comerciais, um serviço bastante utilizado na Europa.
D'Agostini, da Trade Solutions Brasil, lembra que no continente europeu este produto é mais que um seguro. "É uma gestão de crédito e parte fundamental da administração financeira de uma empresa. No Brasil, ele foi transplantado como tal,mas as seguradoras locais não estão equipadas para isso. Elas não têm as informações e não as conseguem de maneira pública, dependendo do cliente", critica ele.
Outro ponto crucial que atrapalha a comercialização do seguro de crédito no Brasil é a existência de limites canceláveis. Quando ocorre uma reversão da conjuntura econômica de um país e o risco se torna iminente, por exemplo, a cobertura é cancelada ou ajustada pela seguradora. A justificativa das companhias é a de que se o cliente não tivesse seguro, certamente tomaria a mesma atitude. "Se tem, continua vendendo porque o risco é da seguradora. A partir do momento que o risco se torna mais esperado e palpável, a companhia tem de fazer um ajuste na cobertura", justifica Nobre, da CesceBrasil.[2]
No entanto, ele garante que as seguradoras já estão mais flexíveis. Antes, por exemplo, uma empresa só conseguia contratar seguro para a totalidade das vendas da sua carteira. Hoje, as companhias já desenvolvem apólices mais personalizadas, com coberturas só para determinados clientes, distribuidores ou regiões. As seguradoras também deixaram de ser tão rígidas quanto às coberturas apenas de vendas recorrentes e passaram a cobrir eventos únicos. O que continua não sendo aceita é a seleção adversa do risco. "As seguradoras estão mais abertas e estruturadas. Porém, os grupos estrangeiros estão mais propensos a trabalhar com soluções personalizadas que os locais. E isso fica cada vez mais evidente por parte dos clientes. Eles procuram produtos diferenciados em relação aos riscos cobertos e a prazos", avalia Edite, da Lockton.

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