Piso salarial baixo, denúncias de trabalho escravo e o ápice com os escândalos da indústria confeccionista em Bangladesh - por que o ofício de costureira é tão desvalorizado?
Costureiras (1950), de Tarsila do Amaral. Foto: MAC Virtual |
Por mais que uma empresa de moda esteja relacionada com sua imagem através da publicidade aliada ao desejo do consumidor, o produto final é o que é efetivamente entregue.
Por que, então, quem fabrica o produto - quem o costura - ainda é tão desvalorizado?
O ofício de costureira, no Brasil, está em processo de extinção. Ser costureira é tido como uma atividade tipicamente feminina, e, mais do que isso, quase uma espécie de tradição, passada de mãe para filha. Assim, há o pouco interesse dos jovens em aprender essa profissão, e as costureiras atuais ou vão se aposentando, ou não sabem trabalhar com novos maquinários e tecnologias. Muitas, na verdade, fogem da confecção - o piso da categoria é pouquíssimo atrativo. Muitas novas empresas ficam abaixo da capacidade de produção por falta de profissionais.
De outro lado, o país também enfrenta a onda de trabalho ilegal praticado por confecções - este é importado, em geral da Bolívia. Escândalos como os da Inditex e da GEP são apenas alguns que se revelam em meio a grandes centros produtores como os bairros de Bom Retiro e Brás, em São Paulo. Isso não está restrito ao Brasil. A Argentina acusou a mesma Inditex de manter como fornecedores oficinas clandestinas de trabalho escravo em Buenos Aires.
Em maio, a queda do edifício de uma confecção em Bangladesh, matando mais de mil pessoas, chamou a atenção para as más condições de trabalho no país e a exploração da mão de obra barata pelas grandes redes varejistas de moda. O portal PortugalTêxtil denunciou a relação donos de confecção de Bangladesh/compradores exigindo preços cada vez menores.
No país, que tem em 80% de suas exportações produtos de vestuário, muitos donos de confecções são políticos ou têm relações estreitas com a política. Ou seja, além da impunidade, não há pressões para se melhorar o salário e as condições de trabalho dos funcionários dessa indústria. As grandes marcas aproveitam a concorrência intensa entre os confeccionistas de Bangladesh, exigindo salários cada vez menores. Por outro lado, o salário mais alto é tido como um problema para a nação, já que a saída dos grandes compradores do país causaria saída de capital estrangeiro e níveis de desemprego alarmantes.
Base da marca de moda, responsáveis pela confecção do produto, a costureira ganha mal e não é valorizada. Foto: R7 |
A marca é constituída dos valores imateriais da empresa que é, no final, o produto quem entrega. No mercado da moda, atualmente, há uma grande ênfase em construção de marca, e é vital alinhar produto e qualidade aos valores dessa marca. Afinal, é ele quem suporta esses valores. Para fazer isso, é necessário analisar se a empresa está de acordo com aquilo que quer mostrar como seus valores. O produto (seja ele máquina ou homem) deve ser mais valorizado no processo.
Treinar, atualizar, melhorar a remuneração, fazê-los participar do processo e compreender e vivenciar os valores da empresa são ações elementares - e investir em capital humano.
Vivian Berto
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Obrigada, Antonio Carlos!
Tadeu, com certeza, deve-se pensar na indústria da moda desde sua produção, preocupar-se com sua mão-de-obra.
Parabéns, pela reportagem e a excelente escolha do quadro representativo das costureiras, essas e esses guerreiras (os) e também por mencionar "nós" que nos esforçamos para criar, desenvolver, produzir e despertar desejos de consumo (em meio a todo esse cenário...sem comentários) - somos todos heróis!
Há dez anos vimos denunciando a falta de costureiras no Brasil. Em nosso site, postamos ano passado um artigo com o título: Profissão em Extinção, que em janeiro deste ano foi motivo de artigo de capa da revista Costura Perfeita. Uma parcela considerável do empresariado do setor ainda não entendeu este momento do nosso setor. Onde isto já ocorreu, as boas costureiras tem creche na empresa e salários com prêmios que chegam a pagar até R$ 1.500,00 por mês. Temos que fomentar treinamentos que entreguem às empresas profissionais capazes de produzir com qualidade e produtividade, não aqueles operadores que chegam mal sabendo ligar a máquina. Nossas instituições de fomento precisam mudar de rumo...
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