Investidores elevam taxas embutindo o custo da recriação da CPMF
FONTE: CORREIO BRASILIENSE
Apesar de as discussões sobre a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) ainda estarem no terreno político, o mercado financeiro já passou a precificar a volta do tributo extinto há dois anos. Tanto que as taxas de juros dispararam ontem na Bolsa de Mercadorias e de Futuros (BM&FBovespa). Nos contratos com vencimento em janeiro de 2012, que aparecem entre os mais negociados, as projeções para os juros saltaram de 11,40% para 11,47% ao ano. Nos contratos com resgate previsto para 2013, a alta foi de 11,73% para 11,88%.
“Pode parecer precipitado, mas os investidores não querem perder dinheiro. Têm que se precaver”, ressaltou um operador de um grande banco estrangeiro. O ideal, segundo ele, seria que o governo enterrasse esse assunto, pois o país não suporta mais impostos. “Mas não há como descuidar. Como precisa de recursos para fechar as contas a partir de 2011, o governo dará todo o incentivo ao Congresso e aos governadores para levar o assunto adiante”, assinalou.
Mesmo com todas as dúvidas sobre a CPMF, os consumidores podem se preparar. Além da possibilidade de terem de arcar com o novo tributo, poderão pagar mais caro nos crediários. A explicação é simples: bancos e financeiras usam o mercado futuro como parâmetro para formar as taxas cobradas nos empréstimos e financiamentos às empresas e às pessoas físicas. “Será um baque”, ressaltou um técnico do Ministério da Fazenda. “Veremos uma inversão da curva, pois os juros ao setor produtivo e aos consumidores vinham caindo consideravelmente, a ponto de fecharem setembro nos menores níveis desde 1994”, acrescentou.
A recriação da CPMF tem o apoio da presidente eleita Dilma Rousseff. Mesmo empurrando a discussão sobre o assunto para os governadores, que estariam necessitando de mais dinheiro para investir na saúde, é sabido que a futura administração terá muitos problemas para fechar o caixa, devido ao excesso de gastos nos últimos dois anos com o intuito de inflar a candidatura da petista ao Palácio do Planalto.
“Como precisa dar um choque de credibilidade junto ao mercado, Dilma assumirá o compromisso de fazer o superavit primário (economia para o pagamento de juros) de 3,3% do Produto
Interno Bruto no seu primeiro ano de governo”, ressaltou o técnico da Fazenda. “Ou seja, em vez de fazer um ajuste fiscal de verdade, a presidente eleita apoiará a recriação da CPMF contando com uma parte das receitas para manter o equilíbrio fiscal”, emendou.
Segundo Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, no início da semana, depois de decidido o resultado das eleições presidenciais, o mercado passou a reduzir as projeções de juros. Mas bastou Dilma aventar a possibilidade de volta da CPMF para que os investidores passassem a embutir “um prêmio” nas taxas negociadas no mercado futuro. Esse “prêmio”, por sinal, também será exigido pelo mercado na compra de títulos públicos ofertados semanalmente pelo Tesouro Nacional. Será o preço da indefinição.
Diante da alta dos juros, o setor produtivo deu início a um movimento anti-CPMF. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, disse que a entidade é “totalmente contrária” à proposta. “Isso não resolve o problema da saúde. Acho que antes de pensar em novas receitas, temos de pensar em melhoria da gestão”, frisou.
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