Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O termo mais pop da economia nos últimos 20 anos pode estar com os dias contados.

Após mais de duas décadas de integração crescente e codependência financeira entre as maiores economias do globo, a história da economia mundial pode estar diante de um ponto de virada em seu enredo. Isto porque a globalização, o termo mais pop das últimas duas décadas, utilizado indistintamente para justificar projetos, sucessos ou fracassos, pode estar com os dias contados – estaríamos entrando, portanto, no período da “desglobalização”.

porto350É nisso que acredita Marcos Troyjo, economista, cientista social e diretor do BRICLab, um fórum especial de estudos da Universidade Columbia, em Nova York, direcionado ao bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo Troyjo, o termo “desglobalização” já existia, mas dizendo coisas diferentes do que ele quer dizer. Ele palestrou durante o V Ciclo de Decisões, uma série de fóruns promovida pela Câmara Americana de Comércio Brasil – Estados Unidos – Amcham, em Porto Alegre.

Após o fim da Guerra Fria e, consequentemente, da polarização econômica mundial entre Estados Unidos e União Soviética, o mundo entrou em um profundo processo de globalização. A integração entre os países impulsionou o desenvolvimento financeiro de forma conjunta. O mundo estava diante de novas potências econômicas e países emergentes. Blocos econômicos foram formados, como a União Europeia (1993) e o Mercosul (1991).

Entre a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a crise financeira de 2008, que eclodiu quando da falência do banco americano Lehman Brothers, o mundo viveu o período que Troyjo classifica como globalização profunda ou intensa. A Ásia, capitaneada pelo Japão, e a União Europeia, acentuaram essa movimentação. “De 2008 pra cá, vemos os Estados Unidos em crise existencial, o Ocidente sendo criticado por outras comunidades e o crescimento de alguns movimentos internos, como Occupy Wall Street. A ascensão da Ásia continua, mas agora liderada pela China. Mas o que chama a atenção é a desintegração de economia regional”, analisa Troyjo.

Ele lembra especialmente da União Europeia, com uma possível saída da Grécia – cenário que agravaria a situação de países como Espanha e Itália. “O modelo de organização regional está em crise. Aqui também: o Mercosul hoje funciona muito mais em função de afinidade política”, observa. É este contexto, segundo o economista, que sugere o risco de desglobalização. “[O momento] está significando menos comércio internacional, mais protecionismo, fluxo mais obstaculizado, mais dificuldade no trânsito fronteiriço entre bens e mercadorias. Ou seja, menos visão globalizada de como o mundo deve funcionar. É um momento de individualismo que vai contra o ideal de globalização”, aponta.

Embora tenha se apropriado do termo para explicar sua visão sobre o momento atual da economia, Troyjo ressalta que não é um conceito que ele defenda. “Acho que ficou mais globalizado, mas precisamos reconhecer que há muitas forças contrárias à globalização. Os críticos estão rindo à toa”, observa.

O efeito causado por uma possível desglobalização é ilustrado pelo economista como o ato de assistir a um jogo de futebol no estádio. “Tem várias fileiras, que se estendem desde aquelas próximas do campo até perto das câmeras, lá em cima. Às vezes, o sujeito da primeira fila fica em pé pra ver melhor, então o de trás é obrigado a se levantar também. Se o primeiro ficar em pé, todos ficarão e ninguém vai ver melhor por causa disso. Da mesma forma, o país que fechar mercado vai fazer com que a economia como um todo tenha um subdesempenho”, compara.

Diversos exemplos mostram a inversão do movimento das economias. China, Brasil e Estados Unidos, por exemplo, já impõem um mínimo de produção local para empresas que queiram vender algo em seus territórios. “Nos Estados Unidos, a Embraer perdeu contratos. E o Brasil também adota essa postura: quem quiser vender embarcação para Petrobras precisa oferecer 65% de produção local. Os países voltaram a se organizar em torno de si. A asa de um avião da Embraer tem 40 países diferentes: Noruega, Estados Unidos, Brasil, França... É um produto made in the world que será cada vez mais local, voltando ao made in Brazil”, projeta.

Quem sobreviverá?
Assim como no término da Guerra Fria, o mundo deve assistir o surgimento de novas potências. O que balizará a ascensão, desta vez, não será o poder de relacionamento com outras economias, mas a capitalização e o poder das reservas cambiais.

A China surge com força, já que possui US$ 3,5 trilhões de reserva, poupando praticamente 45% do PIB. Ou seja: mesmo que a economia esfrie, tem recurso para fazer o dinheiro circular. A reserva cambial potencializa o poder de criar políticas contracíclicas.Mas em termos de robustez macroeconômica o Brasil também não está mal. Aliás, talvez esteja diante do melhor cenário macroeconômico da sua história. No entanto, o sucesso depende também da microeconomia. Em um país onde as empresas padecem ante altas taxas tributárias, sobra pouco para investir em tecnologia e novos conhecimentos.

“A grande reforma para que o Brasil possa equiparar micro e macroeconomia não está sendo feita. Observa-se agora a desoneração da folha de trabalho, que representa um avanço, mas é uma questão mais complexa. Uma empresa que chega ao Brasil – de autopeças, por exemplo – gastará, no primeiro ano, muito mais em contadores e advogados do que com engenheiros, soldadores, técnicos, torneiros”, lamenta Troyjo.

Curiosamente, o processo de desglobalização pode não ser tão sentido no Brasil, que segundo Troyjo já é uma das economias mais fechadas do mundo – talvez perdendo apenas para Cuba e Coreia do Norte. “Do descobrimento até 1999, se excluirmos a exportação de commodities e os ciclos do ouro e da prata, jamais o país teve mais de 20% do PIB como resultado de importação e exportação”, argumenta.

Fonte:http://www.amanha.com.br/home-2/3855-cuidado-risco-de-desglobalizacao

Autor:Por Pedro Pereira.

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 4 novembro 2012 às 8:19

Uma empresa que chega ao Brasil – de autopeças, por exemplo – gastará, no primeiro ano, muito mais em contadores e advogados do que com engenheiros, soldadores, técnicos, torneiros”, lamenta Troyjo.(Transcrito do texto acima)

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