De transportador a operador logístico: um longo caminho a percorrer
Neste cenário, é comum a transportadora, enxergando uma oportunidade de negócio existente, buscar tornar-se um operador logístico para então poder atuar de forma direta junto aos clientes, já que ao realizar a operação de transporte efetua uma parte muito importante do processo logístico.
Este processo de migração de transportadora para operador logístico pode parecer muito simples, mas existe um longo caminho a percorrer. Muitas transportadoras já reúnem grande parte dos requisitos para fazer esta migração de atividade. Mas, infelizmente, muitas agem com muita simplicidade na análise da questão e aí surge o risco de não ter sucesso em nenhuma das atividades.
Foto: Bruno Merlin/Navegantes Sucesso na integração de atividades depende de profundo planejamento
Refletindo um pouco sobre o tema, comecei a analisar as possíveis causas de insucesso deste processo de migração de uma transportadora para um operador logístico, e penso que os dirigentes de transportadoras que estão vivenciando este processo devem analisar os seguintes pontos:
• Tecnologia - Operadores logísticos necessitam de grande suporte de tecnologia, pois a agilidade, a acurácia e principalmente a visibilidade da informação são cruciais para o bom atendimento ao cliente;
• Recursos Humanos - Operadores logísticos demandam profissionais altamente qualificados em termos operacionais, comerciais e principalmente gerenciais. Neste sentido faz-se necessário uma política de atração, capacitação, retenção e motivação das pessoas bem arrojada;
• Projetos & Processos – A produtividade de uma operação logística é obtida através de estudo de fluxos, tempos e movimentos e melhorias constantes nos processos de cada operação existente que deve buscar sinergia com as novas operações que chegam. Logo é essencial ter uma equipe que cuide destes pontos.
• Know-How Logístico – Um erro muito comum é a transportadora achar que por já fazer a operação de transporte, já ter um armazém onde mercadorias circulam e até ficam guardadas, e em alguns casos já fazer etiquetagem em embalagens coletadas ela detém todo o know-how para se tornar um operador logístico. Operadores logísticos fazem e são responsáveis por muito mais do que estas atividades descritas. Logo é importante contar em seu quadro com profissionais que tenham know-how logístico.
• Negociações Comerciais – As negociações relacionadas a tarifas de fretes reúnem uma complexidade bem diferente de uma negociação de uma operação logística, onde devem ser consideradas diversas variáveis envolvidas. Vale destacar também que a negociação é realizada com tomadores de decisão de outra escala hierárquica do cliente, é mais longa e mais técnica exigindo assim um profissional mais qualificado;
• Apuração de custos – Em operações logísticas, é essencial conhecer bem detalhadamente os custos de cada etapa do processo operacional do cliente. Este detalhamento lhe proporcionará identificar se o seu preço está adequado, se existe possibilidade de redução, sinergia ou otimização de recursos;
• Retorno do Investimento – Normalmente, projetos logísticos demandam de um prazo maior para darem retorno. No entanto, as margens são maiores e os contratos estabelecidos com os clientes mais longos. Como grande parte das vezes a transportadora tem uma estratégia de curto prazo, quando se deparam com negócios que gerarão retorno de médio e longo prazo existe um certo impasse.
• Conhecimento tributário – Operações logísticas são regulamentadas por legislação própria e é imprescindível a existência de um profissional que entenda bem destas questões.
• Cultura Organizacional – Muitos processos de migração de transportadora para operador logístico fracassam, pois a cultura da empresa e a forma de condução de seus dirigentes continuam atreladas a forma antes utilizada para gerir os negócios focados somente em operações de transportes.
Como podemos verificar acima, existem alguns pontos que precisam acompanhar a decisão da transportadora caminhar para se tornar um operador logístico. Com certeza existem muitos outros a serem observados também. Mas o importante é que a transportadora ao pensar em tomar esta decisão não a faça apenas por impulso, modismo ou por querer avançar em outro mercado. Que esta decisão seja pensada, estruturada, planejada e principalmente consciente das mudanças que serão necessárias na forma de gestão destes novo negócio, pois de outra forma a chance deste processo de migração não lograr êxito tende a aumentar.
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