Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Delmiro Gouveia - Olhos de Lince, Vôos de Águia

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, cearense de nascimento, fez-se comerciante em Pernambuco e visionário em Alagoas. Iniciou sua vida laboral autônoma, ainda no frescor dos seus vinte anos de idade, no interior de Pernambuco, atraído pelo comércio da compra e venda de pele de caprinos e de ovinos. Logo obteve sucesso, assenhoreou-se desse novel ramo de comércio, trabalhando, por comissão, para o sueco Herman Lundgrer (que, posteriormente, fundaria as famosas Casas Pernambucanas) e para outras empresas do ramo.

Delmiro Gouveia não se fez limitado a essa condição, negociava por conta própria, sempre que o negócio garantisse lucro, o que lhe possibilitou recursos para fundar sua própria empresa, nos idos de 1896, treze anos após seu ingresso nesse ramo, tornando-se um concorrente temido.

Novamente, treze anos depois, sob inspiração do que vira na Feira de Chicago (EUA), inaugurou, no Recife, um moderno centro de comércio e de lazer: o “Derby”, considerado o primeiro “shopping center” do Brasil. Foi ele deliberadamente incendiado; segundo alguns, por motivos políticos somados a outros não tão políticos, pois Delmiro Gouveia, vencido por uma paixão irrefreável e indefensável, raptara uma menor de 16 anos, filha natural do então governador do Estado de Pernambuco…

Tangido pela repercussão negativa do seu desatino, temendo por sua vida, transferiu-se para Alagoas, estabelecendo-se no povoado de Pedra, no alto sertão do São Francisco, onde desenvolveu e centralizou seu bem sucedido comércio de pele; sem dúvida, favorecido por essa localização fronteiriça com Sergipe, Bahia e Pernambuco… Construiu sua residência, guarnecida de currais, açude e de alguns galpões, onde desenvolveria a atividade de beneficiamento de peles. Esse curtume assegurar-lhe-ia maior lucro nas operações de venda.

Delmiro Gouveia, apelando para os ideais nacionalistas, então em voga, sensibilizou o governo alagoano, conseguindo a concessão de incentivos e estímulos fiscais para a atividade em que se iniciaria. Obteve, ainda, posses de terras devolutas e isenção de tributos para a produção de sua futura fábrica, além da permissão para captar energia elétrica da cachoeira de Paulo Afonso. Estabeleceu, por extensão, parceria com o governo estadual, construindo um leque viário, ligando Pedra a diversas localidades, viabilizando o fluxo de matéria-prima a ser industrializada, bem como a comercialização do seu produto manufaturado.

Construiu, então, a primeira hidrelétrica do Brasil, inaugurada em janeiro de 1913, com o aproveitamento da queda de Angiquinho e com a potência de 1.500 HP. Irrequieto e visionário, edificaria ali uma fábrica de linhas de costura, sob a razão social “Companhia Agro Fabril Mercantil”, pioneira no Brasil, visto que toda a linha de costura era importada da Inglaterra. Quebrando esse monopólio, Delmiro Gouveia abria um novo flanco em suas guerras empresariais e particulares… O fato é que as linhas “Estrela”, de sua fabricação, ganharam o mercado, desalojando as “Linhas Correntes”, produzidas no exterior pela “Machine Cotton”.

A saga de Delmiro Gouveia foi o início criativo da revolução industrial brasileira, o começo de uma atividade produtiva sem par em nosso país. Um despertar para o futuro, com a utilização de força energética construtiva e limpa.

Escravo de suas paixões avassaladoras, Delmiro Gouveia era um romântico atraído pela passionalidade. Foi empreendedor fantástico e vitorioso, tanto quanto um homem determinado e obsessivo pelo êxito do que lograva empreender. Seu projeto de Pedra é exemplo para todos nós. Seu assassínio, ainda não bem esclarecido, converteu-se na venda, pelos seus herdeiros, da Agro Fabril Mercantil ao grupo “Machine Cotton” que a desmontou, inutilizando sua maquinaria, livrando-se da concorrência, para garantir o monopólio que antes exercera.

Teria sido essa a causa de seu martírio, ou foi ele conseqüência da inquietude de suas incontroladas paixões?

Sobre o autor

Murillo Rocha Mendes

(Membro da Academia Alagoana de Cultura)

Fonte:|http://www.ojornalweb.com/2011/10/11/olhos-de-lince-voos-de-aguia-m...

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