Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Devagar. É assim que muita gente prefere viver

Esqueça a pressa. Tendência da vez, o movimento ‘slow’ quer ensinar que o tempo das coisas precisa ser respeitado.

Reclamar da correria e dizer que anda trabalhando demais são hábitos banais no dia a dia frenético das grandes cidades. Companhia constante de quem quer dar conta de tudo, a pressa obriga as pessoas a deixarem de lado prazeres básicos como fazer uma refeição completa com tranquilidade ou ter uma conversa compenetrada com alguém. A boa notícia é que pessoas do mundo inteiro estão repensando esse modelo. A cultura “time is money”, que há tantas décadas nos obriga a correr de um lado para o outro, pode estar com os dias contados.

A discussão surgiu nos anos 80, na Itália, quando um grupo de amigos indignados com a abertura de uma rede de fast food em plena Piazza di Spagna, em Roma, passou a se reunir para questionar o que estaria levando a sociedade a comer algo pouco saudável e prazeroso para não perder tempo. Nascia o ‘Slow food’, primeiro movimento de reação à ditadura do "quanto mais rápido, melhor".

FOTO: PANTHER MEDIA/CRAYONSTOCK

 OPTAR PELO "SLOW" É SE APROPRIAR DE SUAS ESCOLHAS

 

Para o psicanalista e mestre em filosofia pela USP Pedro de Santi, passamos a reavaliar esses hábitos depois da constatação de que nos tornamos insaciáveis. “Estamos presos a uma cultura que nos deixa extremamente ansiosos pelo próximo momento, a ponto de sermos incapazes de aproveitar o que está acontecendo agora”, diz. “A vontade de desacelerar vem da angústia de perceber que já não conseguimos sentir prazer”.

Sim, o diagnóstico é sério, mas antes de pedir socorro é preciso entender o que nos trouxe até aqui e os motivos de corrermos tanto. A relação um tanto neurótica com o tempo é um deles. Por medo de perdê-lo, vivemos angustiados preenchendo cada espaço livre com alguma atividade. “Essa exigência começou no ambiente de trabalho, mas se expandiu para outros aspectos da vida. Mesmo quando estamos longe de chefes ou prazos ainda é comum nos sentirmos preocupados com a ideia de desperdiçar a vida”, afirma Carl Honoré, jornalista e autor de livros como ‘Devagar’ e ‘Solução Gradual’ (Ed. Record). Isso explica porque às vezes é tão difícil passar o fim de semana inteiro dentro de casa, apenas descansando, sem sentir uma pontada de culpa.

Outro fator importante para explicar nossa pressa é a imensa quantidade de novas oportunidades com que somos bombardeados. “Recebemos tantas informações, queremos atender a tantas solicitações, que não há espaço para apreciar, pausar e sentir”, afirma Monja Coen, mestre zen budista.

A tecnologia, com suas inúmeras ferramentas para otimizar o tempo das tarefas, ajuda a piorar as coisas, pois reduz nossa paciência com a espera. É só perceber como é difícil aguardar alguns segundos em frente ao computador enquanto um vídeo carrega, ou deixar de olhar o celular ao ficar sozinho por alguns instantes na mesa de um restaurante.

Mudança de hábito

O irônico é que muita gente já percebeu que esse modo de vida apressado não traz lá tantas vantagens. Além do stress a que vivemos submetidos, já se mostrou fracassada, por exemplo, a tese que associava produtividade a um ritmo acelerado e cheio de pressão. "Pessoas que trabalham sempre de olho no relógio se tornam muito menos criativas. Em vez de se destacarem com ideias novas, seguem o fluxo apostando no que já é seguro e garantido”, explica Honoré. É por isso que empresas modernas e inovadoras buscam caminhos para que seus funcionários desacelerem. Algumas deixam os horários mais flexíveis, outras criam espaços de descanso e lazer onde é possível relaxar, jogar ping pong ou até tirar um cochilo no meio do expediente. Até mesmo governos de grandes cidades ao redor do mundo têm apostado em uma mudança de ritmo. O incentivo à bicicleta ou o fechamento de avenidas para carros, como aconteceu com a Avenida Paulista, em São Paulo, são bons exemplos.

FOTO: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

 FALTA ESPAÇO PARA PAUSAR E SENTIR

 

É bom que se diga que ser ‘slow’ não tem a ver com fazer tudo devagar, mas se reapropriar das escolhas, sem decidir de forma automática. “É basicamente raciocinar sobre o que queremos para nós. Saber, por exemplo, de onde vem o alimento que comemos, como ele é feito, se tem sabor e se é produzido de maneira justa, respeitando o produtor e o ambiente”, define Georges Schnyder, porta-voz do ‘Slow food’ no Brasil. "Trata-se de priorizar qualidade em vez de quantidade. Fazer tudo da melhor maneira possível e não da maneira mais rápida possível”, diz Honoré

Inspirados nessa máxima, outros movimentos têm ganhado força. É o caso do Slow fashion, por exemplo. Depois da explosão de redes ‘Fast fashion’ que oferecem as tendências do momento em grande escala e preços baixos, o artesanal, feito por poucos e em pouca quantidade, nunca esteve tão na moda. Bruna Botti, dona da marca de sapatos Botti é defensora desse novo modelo de negócio. Suas consumidoras procuram produtos atemporais, que não ficam datados depois de algumas estações. Para satisfazer essa demanda ela investe em qualidade, faz poucos pares de cada modelo e não liga muito para tendências na hora de criar. “Acho que as pessoas estão cansadas de tantas imposições sobre o que é legal ou não usar. Deixou de ser interessante vestir o que todo mundo usa”.

Outro aspecto importante quando falamos de moda - e que permeia todo o conceito do movimento slow - é a responsabilidade com o ambiente e o social. As marcas slow se preocupam em valorizar a mão de obra, o que muitas vezes resulta em preços mais caros. Na Botti, por exemplo, um par de sapatos custa a partir de R$ 400. “O preço reflete um custo real, que incorpora recursos sustentáveis e salários justos. Os artesãos fazem cada um dos sapatos à mão, em um processo que dura cerca de um mês para ficar pronto. Deve ser encarado como um investimento, pois é feito para durar muitos anos”, defende Bruna.

Schnyder diz que preços mais altos não são regra, principalmente quando se trata de comida. Ele recebe suas frutas e verduras em casa, pois as compra diretamente do produtor, e garante que o preço é o mesmo do supermercado. "A cadeia tem menos intermediários, o que barateia os custos”, explica. Para ele, qualquer um pode ter acesso a produtos orgânicos, com mais qualidade. “O que acontece é que a própria indústria usa esses rótulos para valorizar o produto e cobrar mais caro. Por essas e outras que não basta comprar orgânicos da gôndola do supermercado. É preciso ser mais ativo, saber exatamente de onde vem e como é feito aquele alimento e estabelecer um contato direto com o produtor”.

De Santi afirma que estamos saindo do registro do prazer imediato para criar consciência da consequência de cada ação. “O homem moderno está percebendo que vive cercado de outras pessoas e precisa se responsabilizar por suas escolhas”. Honoré concorda: “As pessoas estão começando a entender que são necessárias mudanças drásticas na sociedade. As recentes crises econômicas estão aí para alertar que incentivar a aceleração do crescimento, do lucro e do consumo vai nos levar a um colapso.” Mais do que um estilo de vida, trata-se de uma decisão política. “É o movimento que mais traz soluções para o mundo, pois nenhum outro tem essa força transformadora que é fazer cada um decidir sobre a sociedade que quer”, diz Schnyder.

O objetivo é viver integralmente e, para isso, é preciso deixar a zona de conforto. Há um certo comodismo em não se apropriar das escolhas ou simplesmente ignorar certas questões. A pergunta é: será que o preço que estamos pagando por essa cegueira não é muito caro para continuar agindo assim?

Quem já decidiu pela marcha lenta pode respirar aliviado: não é preciso pedir demissão ou se mudar para a praia para levar a vida com mais tranquilidade. “Você pode ser ‘slow’ em qualquer lugar. É como mudar um chip dentro da sua cabeça e passar a usar seu tempo com o que realmente importa”, afirma Honoré.

FOTO: PLASTIC BOY STUDIO/FLICKR CREATIVE COMMONS

 PROGRAME ALGUMAS HORAS PARA NÃO FAZER ABSOLUTAMENTE NADA

 

Aqui estão algumas dicas de Honoré

RESPIRAÇÃO

Use alguns minutos do dia para respirar fundo. É fácil, de graça, e ajuda a re-oxigenar o corpo, o que deixa os batimentos cardíacos mais lentos e a pressão estabilizada.

HÁBITOS

Faça uma análise sincera sobre seus hábitos e descubra se não está acelerando demais em alguma coisa sem necessidade.

OCIOSIDADE

Programe algumas horas para não fazer absolutamente nada e cumpra o combinado como se fosse qualquer outro compromisso.

FORA DA REDE

Aprenda a desconectar. Escolha um momento do dia e desligue todos os gadgets por pelo menos 30 minutos.

RELAXE

Escolha uma atividade que ajude sua mente a desacelerar. Pode ser uma leitura, uma aula de ioga, cozinhar, pintar etc.

Avalie aqui a sua situação


Durante uma viagem, você: 

Faz de tudo para conseguir conhecer todos os parques, museus e restaurantes que planejou.

Foge do roteiro turista, mas não abre mão de ir ao bar descolado que um amigo indicou, além, é claro, da exposição imperdível que está rolando na cidade.

Anda pelas ruas até esbarrar em um restaurante charmoso que, para sua surpresa, serve uma comida divina. Depois passa horas conversando com a dona do local. 

Em um dia muito ocupado, como você lida com a hora do almoço? 

Almoço? Que almoço? De repente são cinco da tarde e você percebe que ainda não comeu. 

Pede um delivery ou come qualquer coisinha rápida para não perder tempo. 

Para o que estiver fazendo e usa a hora do almoço para comer direito e pensar em outros assuntos.

https://www.nexojornal.com.br/reportagem/2016/02/26/Devagar.-%C3%89...



 

 


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