Por Marta Watanabe
Reflexo dos novos hábitos de consumo do brasileiro, as importações de pequeno valor, que incluem as encomendas internacionais que chegam via e-commerce, somaram US$ 8,49 bilhões até setembro deste ano, mais que o dobro dos US$ 3,92 bilhões em igual período do ano passado. Em 12 meses, o valor dessas compras menores, contabilizadas pelo Banco Central (BC), chega a US$ 10,24 bilhões. Também com avanço, mas com valores absolutos mais baixos, as exportações de pequeno valor registradas pelo BC atingiram US$ 2,89 bilhões no acumulado de janeiro até setembro deste ano, quase o dobro do US$ 1,53 bilhão de iguais meses de 2021.
Ao lado das compras externas de criptoativos, as importações de pequeno valor devem, apontam economistas, fazer diferença maior este ano no ajuste que o Banco Central faz a partir dos valores de exportação e importação de bens apurados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex/ME). O resultado desse ajuste é o saldo de balança comercial a ser considerado para o balanço de pagamentos.2 de 2
Desde 2018 esse ajuste do BC tem sido de déficit, com redução portanto, dos saldos apurados pela Secex. Mesmo com o avanço das importações de criptomoedas e de encomendas de pequeno valor, porém, dizem economistas, o saldo da balança comercial deste ano após ajuste do BC ainda deverá ser robusto.
O BC considera como importações ou exportações de pequeno valor a comercialização de bens via facilitadoras de pagamentos, incluindo encomendas internacionais que chegam e saem do país pelos Correios ou por courier. Os valores para registro no balanço de pagamentos do BC é feito com base em informações de contratos de câmbio. Pelos Correios, a importação comum por pessoa física é limitada a US$ 3 mil por operação.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, projeta para 2022 superávit comercial entre US$ 50 bilhões e US$ 55 bilhões, pelo critério do BC. Ela lembra que até o ano passado, o impacto maior nesse ajuste feito pela autoridade monetária vinha das operações relacionadas ao Repetro, regime aduaneiro destinado para compra e venda de equipamentos para exportação de petróleo. Em 2021, as importações do Repetro registradas pelo Banco Central somaram US$ 15,06 bilhões de janeiro a setembro. Neste ano, também até setembro, foi US$ 1,8 bilhão de importações do Repetro.
Em 2022, destaca Rafaela, essa conciliação feita pelo Banco Central passou a ficar sob maior influência dos criptoativos e importações e exportações de pequeno valor, numa tendência que deve se manter não somente até o fim do ano como também para os próximos períodos.
As importações de pequeno valor, avalia a economista, refletem uma mudança de hábito do consumidor, que após a pandemia ficou mais à vontade para o varejo on-line com plataformas internacionais que, por meio da tecnologia, deram mais acesso a fornecedores de fora. “É como uma pequena abertura comercial ao consumidor brasileiro”, avalia, que aderiu a essas compras internacionais mesmo com câmbio não tão favorável, após desvalorização de cerca de 30% do real em relação ao dólar nos últimos dois anos.
“O Repetro vai ficando menos relevante enquanto novos temas estão surgindo [no ajuste da balança do BC]”, diz o economista Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e sócio da consultoria BRCG. “Há uma tendência consolidada de maior importância dos criptoativos e das importações e exportações de pequeno valor que fica progressivamente mais clara.”
As projeções de Ribeiro são de superávit comercial em 2022, pelo critério Secex, de US$ 57 bilhões. O ajuste do BC, estima, deve ficar em torno de um déficit de US$ 17 bilhões, levando a um superávit comercial pela autoridade monetária de cerca de US$ 40 bilhões. Nesse ajuste, a tendência das criptomoedas e das operações de pequeno valor veio para ficar, diz, numa mudança estrutural para a conta de conciliação feita habitualmente pelo Banco Central. “Ficou para trás o período em que o ajuste do BC se limitava a US$ 2 bilhões ou US$ 3 bilhões.”
Ribeiro lembra que a importação de criptoativos tende a pesar na conciliação do BC porque a exportação desses valores é praticamente nula. Pelos dados oficiais, a exportação de criptomoedas somou apenas US$ 113 milhões em 12 meses encerrados até setembro enquanto as importações desses ativos atingiu US$ 6,97 bilhões pelo mesmo critério. Já as importações de pequeno valor, explica Ribeiro, têm como contrapartida valores de exportações na mesma categoria que, embora menores, são suficientes para diluir o efeito dessas compras externas no ajuste do BC.
Pelos dados do Banco Central, em 12 meses até setembro o ajuste na balança comercial é de déficit de US$ 16,04 bilhões, sendo total de US$ 13,5 bilhões de saldo negativo correspondente ao efeito líquido – exportações menos importações – dos criptoativos (US$ 6,86 bilhões) e das transações comerciais internacionais de pequeno valor (US$ 6,64 bilhões).
A evolução das criptomoedas e das importações de pequeno valor tem levado a constantes revisões da projeção para o saldo da balança do BC, diz Silvio Campos Neto, da Tendências consultoria. Ele ressalta que os dois novos fenômenos, porém, estão em consonância com fatores econômicos e são menos aleatórios que as operações do Repetro, mais ligadas a ajustes de contabilização após uma mudança no incentivo fiscal. A Tendências projeta superávit comercial para 2022 de US$ 58 bilhões pelo critério Secex, com saldo positivo de US$ 40,2 bilhões pelo critério do Banco Central.
Fonte: Valor Econômico
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