Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Educação em tecnologia: 3 programas que geram impacto social

Conheça algumas iniciativas que unem tecnologia e educação com o objetivo de gerar impacto positivo na sociedade.

Gabriela Vicari, CEO do Itaqui Fernando Mercês, fundador do Mente Binária e Carmela Borst, CEO e sócia-fundadora da SoulCode. Fotos: divulgação.

Um estudo da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) revelou projeções para o mercado de tecnologia até 2025: espera-se a criação de 797 mil novas vagas. Apesar dessa demanda crescente, os cursos de Tecnologia da Informação não seguem o mesmo ritmo. Com uma média de 2,4 candidatos por vaga e uma taxa de aprovação de apenas 24,85%, o interesse e a qualificação na área continuam abaixo do necessário. 

O levantamento também apontou que quase 40% dos estudantes em instituições privadas acabam abandonando os cursos, destacando obstáculos sérios na formação de novos profissionais tecnológicos. Essa realidade contrasta com a urgência de preencher as lacunas no mercado de trabalho digital, especialmente em um cenário onde cerca de 5 milhões de jovens desempregados estão em situação de vulnerabilidade social, conforme dados do IBGE. 

Nesse cenário, investir na capacitação e retenção desses jovens se torna urgente. Além de impulsionar o avanço do setor tecnológico, essas iniciativas têm potencial para promover inclusão social e catalisar o crescimento econômico do país. 

Por isso, o IT Forum conversou com alguns executivos que investem nessa promoção, com o objetivo de transformar a realidade das pessoas com o ensino democrático em tecnologia: 

Instituto Itaqui 

Quando se fala em democratização da educação, Gabriela Vicari, CEO do Distrito Itaqui logo pensa no programa “Eu Capacito”. Segundo a executiva, o programa surgiu do Movimento Brasil Digital, iniciado em 2008 por Adelson Sousa, fundador do Distrito Itaqui, com o objetivo de preparar brasileiros para o avanço digital. 

A plataforma online oferece cerca de 140 cursos gratuitos com o objetivo de formar profissionais para a economia digital. Apoiado por diversas empresas da iniciativa privada, o Eu Capacito promove qualificação focada em habilidades de tecnologia. 

Gabriela explica: “Ele foi concebido como um legado do Movimento Brasil Digital, oferecendo cursos gratuitos em áreas como fluência digital e programação. Destinado a democratizar o acesso à educação tecnológica, este portal tem ajudado pessoas de diversas faixas etárias a se recolocarem profissionalmente.” 

Criado em 2020, o programa ganhou relevância em um cenário de pandemia, expandindo seu alcance e impacto. “Observamos uma grande adesão de adultos entre 35 a 45 anos, buscando transição de carreira. Naquele momento, ouvimos histórias de pessoas que mudaram completamente de profissão graças ao acesso à educação proporcionada pelo Eu Capacito”, explica. 

Além do Eu Capacito, Gabriela também citou o projeto “Profissional do Futuro”, focado em oferecer bolsas de estudo em tecnologia e facilitar a entrada dos jovens no mercado de trabalho. “A ideia é que, ao educar, possamos também empregar, criando um ciclo virtuoso de formação e inserção profissional.” 

Essa visão é acompanhada de uma reflexão crítica sobre inclusão e diversidade. “É crucial questionar quem se beneficia das oportunidades criadas e como podemos garantir que a tecnologia seja um campo de igualdade de oportunidades para todos, independente de cor, gênero ou classe social.” 

Beneficiado pelo programa Profissional do Futuro, Denilson Reis é de São Mateus, interior do Maranhão.  

O jovem cresceu inserido em um contexto de vulnerabilidade social. Seus primeiros passos em direção ao mundo digital foram modestos, por meio de um curso básico de informática. No entanto, foi esse pequeno contato que despertou seu interesse pelo universo da tecnologia. 

“Minha cidade natal é um povoado, com casas de barro, chão sem asfalto, eu não tinha oportunidade de crescimento. Era necessário sair de lá e ir em busca do meu sonho, então eu fui”, conta. 

Quando chegou a São Paulo, Reis se deparou com uma série de desafios: subempregos, tentativas frustradas de ingressar na faculdade e a difícil tarefa de conciliar os custos acadêmicos com os gastos de viver em uma cidade tão cara. 

Sua vida teve uma virada quando ele tomou conhecimento do programa Profissional do Futuro e decidiu se inscrever. “Eu não tinha todo o conhecimento necessário em matemática, então tive a oportunidade de participar de um curso preparatório intensivo, fui aceito e isso mudou minha vida”, conclui. 

Mente Binária  

E foi pensando em transformar vidas que Fernando Mercês fundou a Mente Binária, organização sem fins lucrativos que promove a inclusão social por meio da educação em tecnologia. Criada em 2009, a Mente Binária começou como um blog de computação, evoluindo para uma empresa de treinamento e, finalmente, tornando-se uma ONG. 

Mercês explicou que a Mente Binária atualmente opera com uma equipe de sete pessoas, seis das quais são voluntárias. A única exceção é uma pessoa que trabalha em tempo integral para a ONG. “Todos os outros somos voluntários na ONG”, disse Mercês. “Quando a gente inicia projetos, às vezes a gente recruta voluntários e não voluntários também.” 

Um dos principais programas da ONG é o “Do Zero ao Um”, voltado exclusivamente para pessoas pretas. Este programa de treinamento tem o objetivo de formar analistas de segurança pré-júnior em um período de quatro meses. Mercês destacou que o nome do projeto reflete a abordagem realista da ONG. “Sabemos que é um caminho difícil, que é mais difícil do que deveria ser, então começamos a ensinar do zero”, afirma. 

O programa oferece aulas de matemática aplicada à computação, teoria da computação, programação básica e inglês instrumental. Além disso, os alunos recebem apoio socioemocional, abordando questões que podem afetar seu desempenho. “Consideramos o tempo dessas pessoas, que elas estão trabalhando, muitos têm filhos e filhas, então talvez não tenham tido o hábito de refletir e endereçar as microagressões que sofreram e as afetam”, explica. 

Os resultados têm sido positivos, com muitos alunos conseguindo emprego em empresas de tecnologia após concluir o programa. “Eu sempre admirei muito essas pessoas desde o início. Tiveram pessoas que entraram conosco, fizeram todo o programa, chegaram ao final, concluíram e foram para empresas de tecnologia. Um rapaz, por exemplo, tinha uma mãe doente em casa aos seus cuidados, e ele estava desempregado. Então, assim, ele tinha muitos desafios. Após concluir o curso, ele conseguiu uma vaga em home office, o que garantiu que ele conseguisse sustentá-los e ainda cuidar da mãe”, relembra emocionado. 

SoulCode 

Com o mesmo objetivo dos outros dois programas, a SoulCode Academy surgiu com o propósito de promover a educação tecnológica, inclusão digital e impacto social. Foi para empreender socialmente que Carmela Borst, CEO e sócia-fundadora da edtech, abandonou uma longa e prestigiada carreira em tecnologia. 

Desde a fundação, mais de 300 jovens e adolescentes foram capacitados no modelo híbrido de educação, com aulas presenciais e on-line. O programa oferece suporte pedagógico e liderança para aplicar os aprendizados digitais de forma prática, abrindo novas oportunidades e perspectivas de futuro. 

“Nossa missão é democratizar o acesso à educação digital, capacitando adolescentes e jovens vulneráveis digitais e sociais com as habilidades necessárias para navegar no mundo atual e ter oportunidades reais no futuro, utilizando a educação e tecnologia como meio de transformação pessoal e coletiva,” diz Carmela. 

Neste ano, a edtech reforçou parcerias com ONGs em todo o Brasil, oferecendo mais de 300 bolsas gratuitas, com cursos em Inteligência Artificial e programação de games. Um exemplo recente é a parceria com a Microsoft, que teve o objetivo de ampliar a formação de pessoas com deficiência (PCDs) para o mercado de tecnologia. 

A parceria faz parte do Microsoft Conecta+, portal que reúne programas de capacitação gratuitos da empresa. Em junho, cerca de 30 alunos com deficiência se formaram em um bootcamp focado em conceitos de nuvem e inteligência artificial. 

As aulas foram 100% online, ao vivo, e ocorreram de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, por 12 semanas. Além da formação técnica, os alunos receberam mentoria de profissionais da Microsoft, desenvolvimento de habilidades comportamentais e uma hora diária de aula de inglês pela plataforma Tech English da SoulCode. 

Bruna Gago, mulher transexual, gaga e diagnosticada com TEA, compartilhou sua experiência: “Eu sempre fui deslegitimada e tinha medo do contato com outras pessoas, mas os professores foram receptivos e respeitosos. A formação me permite trabalhar e buscar dignidade, além da possibilidade de crescimento profissional.” 

“Pessoas que divergem da norma não têm oportunidade de escolher emprego, mas, ao conseguir um trabalho digno através da capacitação, ganhamos perspectivas de crescimento profissional”, acrescenta.

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