Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Eike: 'Não sou diferente dos outros acionistas. Perdemos juntos'

Em meio à penosa reestruturação de suas dívidas, Eike ainda tenta se reerguer buscando investidores para as participações que ele ainda tem nas empresas X

Malu Gaspar, do Rio de Janeiro
O presidente da MMX, Eike Batista, durante a entrevista coletiva para falar sobre a fusão da empresa e venda de uma fatia para a Anglo American, em seu escritório no Flamengo

O presidente da MMX, Eike Batista, durante a entrevista coletiva para falar sobre a fusão da empresa e venda de uma fatia para a Anglo American, em seu escritório no Flamengo (Fabio Motta/VEJA)

Assim como nos bons tempos, o cotidiano de Eike Batista é hoje tomado por reuniões e viagens ao exterior. A diferença é que agora a maior parte desses compromissos são dedicados à administração de passivos, em discussões com credores e advogados (só na entrevista a VEJA, na última quarta-feira, havia dois, Sérgio Bermudes e Marcelo Carpenter, atalhando as declarações do cliente a todo momento).  Em meio à penosa reestruturação de suas dívidas, Eike ainda tenta se reerguer buscando investidores para as participações que ele ainda tem nas empresas X.  E aposta que conseguirá se reabilitar junto à opinião pública.  Ele recebeu VEJA no mesmo escritório da praia do Flamengo em que começou a montar seu império, no início dos anos 2000.

O senhor está sendo acusado  de manipulação de mercado e insider trading pelo Ministério Público.  Há ainda outras investigações na Policia Federal e na CVM.  Todas dizem respeito a crimes financeiros, ligados principalmente à OGX.  O senhor, porém, se diz inocente. Todos esses órgãos estão errados a seu respeito? Não cabe a mim julgar. A Justiça tem suas opiniões. Que se apure em detalhe o que aconteceu. É fácil confundir algumas coisas sem passar por todos os detalhes. Eu entendo. No caso da venda das ações da OSX, de estaleiro, eu tinha a obrigação de vender parte das minhas ações para ficar de acordo com as regras do mercado. Foi o que fiz. 

Sobre a acusação de insider trading na OGX, o senhor diz que vendeu as ações porque precisava pagar os credores.  Mas não podia ter vendido qualquer outro ativo, dado que esse estava vedado por lei? Que ativo? Não tinha. Tiraram tudo. Já tinham levado todo o meu caixa. Eu não tinha mais nada. As outras ações estavam no Itau, no Bradesco. E as outras empresas estavam ilíquidas, sem condições de ser vendidas de imediato.  Quando eles deram dinheiro à holding, eles passaram a conhecer todos os meus ativos. Eles sabiam tudo o que eu tinha e sabiam que não havia mais nada.  Você quando dá aval próprio é assim. O erro estava aí. 

Foi um erro ter dado todos esses avais? Sim, absolutamente. Ao dar esses avais, eu perdi todo o meu patrimônio.

Agora, a Justiça está pedindo o arresto de bens de seus filhos.  Além dos bens que o senhor passou para os seus filhos e para a Flávia, houve transferência de recursos também? (Eike faz  uma negativa com a cabeça, enquanto o advogado interfere, dizendo que a decisão do juiz não tem validade, porque se referiu genericamente à família, sem citar especificamente a quem a decisão se aplica. Para desviar-se da pergunta, ele chama a atenção para a TV, que passa um programa da Bloomberg.)  Olhaí, a Dilma está subindo nas pesquisas, o câmbio desvalorizou de novo mais de 1%. 

Em 2010 o senhor era um dos maiores entusiastas da candidatura de Dilma Rousseff. E agora, mudou de opinião? Eu era um dos candidatos para receber encomendas de sete sondas da Petrobras e da Sete Brasil, e só que quem ganhou foram a Odebrecht e a Jurong. É assim, cara, ganharam porque ganharam, não tem culpa nisso. Não sei se ofereceram outras coisas. Ganharam, ué.  É o mundo dos negócios.

Mas sua relação com o governo era bastante abrangente e não só em petróleo. Lógico, com projetos com eu tinha, tinha de prestigiar mesmo!

Agora que a situação mudou, o senhor continua votando no PT? Meus projetos são apolíticos. Eu construo projetos para o Brasil que beneficiam a todos. Entenderam?

 Em quem o senhor vai votar? Não quero dizer.

O senhor se decepcionou com a política? Quando estava no auge, os políticos o tratavam como um símbolo do capitalismo brasileiro. Hoje… Os estrangeiros consideram isso até  hoje. Aqui é que me desmontaram.

O senhor se decepcionou, uma vez que antes eles te incensavam? Mas tinham mais é que fazer isso mesmo! Com os projetos que eu tinha! Os políticos não têm culpa. A falha empresarial de não ter petróleo não foi deles. Eles não têm nada a ver com isso. 

Então quando o senhor diz que o desmontaram,  está se referindo a quem? Caramba, esses projetos não são power points! Quem é que fala que esses projetos são power points? Não sou eu. Isso é desmontagem.  Desmontagem de projetos que são – desculpa – legados! 

Mas o desmonte de seu grupo ocorreu quando ficou claro que não havia petróleo.  Eu estou falando do Açu agora. Ficaram legados. Como é que se desmonta um Açu? O Açu é indesmontável. Mas desmontaram.  (Advogado interfere: Jornalisticamente desmontados.) Eike: Isso, perfeito. 

Ah, entendi. Então quem desmontou o senhor foi a imprensa. Quem escreveu, não sei quem escreveu. Deixa os projetos falarem por si mesmos. Não sou eu, são os novos donos que estão falando. O engraçado é o seguinte: hoje pertencem a estrangeiros, são ativos extraordinários e … bacana! Cest’ la vie... (é a vida, em francês) 

Voltando à denúncia do Ministério Público. Quanto o senhor tem em dinheiro vivo? Não tenho dinheiro. O Mubadala (fundo soberano de Abu Dabi) arrestou tudo. Eu tinha um monte de ativos que eles levaram. Hoje eu sou remunerado para administrar essas coisas. Dinheiro, o cara levou. E foi tudo de comum acordo. E olha, eles querem que eu continue administrando os ativos deles, porque acham que pode sobrar um pouco para mim lá na frente. 

A questão é que hoje existe uma ordem de arresto de 1,5 bilhão de dólares dos seus bens. O senhor diz que não tem esse dinheiro. Tem quanto? Não tenho nada. Zero. Vão encontrar 5 milhões de reais e só. 

E quem paga suas despesas? Eu recebo, hoje sou um gerente. 

Um assalariado? Assalariado com potencial de levar uma participação nesses ativos que sobraram aí.

E a gente não vai ter a surpresa de descobrir dinheiro escondido em contas suas no exterior? Você não vai ter essa surpresa não.  

Uma das denúncias é de manipulação de mercado.  O senhor de fato promoveu bastante as suas ações, não promoveu? 
Não, não, não!  Baseado  em relatórios técnicos. Como é que eu não ia ser otimista com a malaia Petronas dizendo que queria ser minha sócia pagando 800 milhões de dólares pelos meus ativos? 

Mas isso foi  bem mais recente. Os procuradores e delegados estão falando de fatos de uma época anterior, como a  da entrevista que o senhor deu para uma TV na internet em 2010, dizendo que havia 1 trilhão de dólares em petróleo debaixo da terra e que a OGX valia 100 bilhões. Não havia naquela época nenhum relatório técnico que justificasse essas previsões. Os técnicos me passavam isso. Se os técnicos me passavam números eu ia fazer o que? 

Mas esses números não estavam então disponíveis para o mercado. Nada disso, desculpe, leia o prospecto do IPO. 

O prospecto falava em outros números bem menores, acho que 6,7 bilhões, e na entrevista o senhor falou em 10 bilhões. Não senhora! Eram 27 bilhões de barris! É assim, primeiro são recursos prospectivos, depois provados. Aos poucos vai transformando o prospectivo em provado. (O prospecto fala em 4,8 bilhões de barris) 

Acho que naquele caso específico o problema foi o senhor ficar dizendo para as pessoas: Comprem, comprem, senão você vai perder! Mas eu acreditava! 

Segundo a própria CVM, essas previsões não tinham fundamento concreto. A autarquia  concluiu que aqueles dados não significavam nada,  todos aqueles indícios não justificavam as previsões que eram feitas. O senhor não desconfiava disso? Não. Até porque, quer ver? Com a jazida da Anglo falava-se em 2 bilhões de toneladas, e hoje ela tem 8. 

Sim, e? E o quê? 

Eu estou falando do caso da OGX. Não interessa, esse é o mundo em que você vive.  Em ativos minerais você começa cubando e depois as reservas crescem.  As reservas dos meus ativos sempre cresceram. Só na OGX que não. 

Mas mesmo antes de saber que não havia petróleo, aconteceu de campos que se dizia que eram bons, como Vesúvio, se provarem inviáveis. Nem assim o senhor desconfiou que poderia haver algo errado? Não, os técnicos me diziam o oposto. Eram os técnicos! Desculpa, eu não era um craque em petróleo,  os técnicos me diziam. A Exxon e a Total passaram seis meses em reuniões com meu pessoal para entrar no leilão da ANP, e entramos. Quando você tem empresas como a Exxon e  a Total dizendo que querem se associar com você, sentam e dizem: “oh, Mr. Batista, your team is excellent”, você queria que eu dissesse o quê? “Não, eles  são uns idiotas”? Me explica?

As investigações mostram que a checagem interna de dados só começou mesmo depois de julho de 2012, quando uma nova diretoria assumiu. Só para atender a petroleira, o senhor criou em 2010 a OSX, com previsão de produzir 49 plataformas. Fez tudo isso sem um estudo de viabilidade? Como 49? Isso era se tivesse petroleo lá na frente. Esquece o 49, só as três geringonças que vieram, você viu como eram? 

Sim, mas vocês chegaram a falar em cinco encomendas firmes para o mercado, e nem essas eram necessárias. A sua visão de gestão, a engenharia dos projetos, isso falhou? Mas aí tem que ver a sua equipe, né?

Pois então. O senhor sempre se orgulhou de saber “ler” as pessoas e reconhecer se alguém estava mentindo ou não. Falhou essa sua habilidade? Falhei. Falhei. 

Então vamos dar nomes aos técnicos. O Paulo Mendonça, geólogo a quem o senhor chamava de dr. Oil, era o principal. Se ele mentiu, por que o senhor nunca o processou? (advogados interferem: Ele nunca disse que o Paulo Mendonça mentiu. E se ele tivesse que processar o Paulo Mendonça, ainda poderia.) Eike: Mas ele acreditava! Não sou de briga, não sou. Pra quê? Sabe, estou com bastante trabalho. Não vou me preocupar. Não é minha seara. Não, Pra quê? O que eu pedi foi: me façam um estudo de viabilidade técnica que me mostre o que tem aí. 

O senhor gastou uma fortuna perfurando poços durante anos e só em 2012 foi pedir um estudo desses? Não houve um erro de gestão? Foi culpa minha e do meu mau julgamento das pessoas. O que vou fazer? 

E o estudo de viabilidade, não era para terem feito antes? Estudo de viabilidade? Foram furados  110 poços! Não estou entendendo do que você está falando. 

Estou falando de testar os poços para saber se eles tinham condições de produzir mesmo ou não. Mas se você está furando e encontrando petróleo, o petróleo está lá. Enquanto você está furando, furando e achando, você vai indo. O primeiro poço mostrou que ia vazar 20.000 barris. É dado técnico. 

O senhor sempre diz que, de todos os investidores, foi quem mais perdeu. Mas muita gente perdeu muito dinheiro também. O senhor se julga tão vítima quanto essas pessoas? Ou mais vítima do que essas pessoas? Perdemos juntos, né? Como assim, mais ou menos? 

O senhor era gestor da empresa e tinha uma responsabilidade fiduciária. Seu papel na história não é diferente do dos outros acionistas? Caramba, desculpa! Nesse setor de petróleo você investe nisso, mas com a possibilidade de perder! Você investe nisso e as pessoas investem com você por que elas tem a expectativa de ganhar, assim como eu tinha. (Advogados –  O Eike não era gestor. O conceito técnico de gestor não é esse). 

O senhor não era responsável pela empresa? Não, quem dirigia a empresa era o CEO!

O senhor não era presidente do conselho da empresa? Não é isso, eu recebia relatórios! 

Durante anos o senhor sempre disse que acompanhava tudo o que acontecia nos mínimos detalhes. E? 

E agora o senhor está dizendo que não dirigia a empresa? Eu recebia relatórios técnicos. 

O senhor se coloca na mesma posição dos outros acionistas então? Eu não sou diferente dos outros. Estou junto com os que perderam muito. 

O senhor acha que ainda pode se reabilitar junto ao público? Acho que sim. O porto do Açu, a Eneva, O porto Sudeste, são projetos que estão prontos, não são Power point. Eles são legados! Vocês têm de começar a dizer que há legados. 

O que afetou sua credibilidade foi o que aconteceu com a OGX e no mercado de ações durante esse período. A OGX levou para baixo alguém que investiu todo o seu patrimônio, está endividado até hoje e continua apostando no Brasil. Como não (achar que posso me reabilitar)? Acho que sim. 

Nessa crise, qual foi o momento mais difícil de atravessar? Ver meus filhos sofrendo com tudo o que se fala. Família é fogo. 

Como o senhor se vê daqui a alguns anos? Estou trazendo novos empresários para cá.  Eu sou um brasileiro que não desiste nunca. Se eu passei por essa crise gigantesca e estou aqui honrando meus compromissos,  eu devo ter alguma coisa diferente, né? 

Quais são os fundos que estão querendo investir em projetos seus? Isso não é para dizer para você.

http://veja.abril.com.br/noticia/economia/eike-nao-sou-diferente-do...

Exibições: 57

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço