Quando li sobre o trágico incêndio da base da Marinha na Antártida, me veio a lembrança outra tragédia: o incêndio do veiculo lançador de satélite em Alcântara. Tive o provilégio de orientar 5 teses de doutorado associado a este programa. 4 colaboradores meus, ex alunos, teriam morrido não fossem eventos totalmente dissociados que os livraram de tal destino- entre suas atribuições estava participar das equipes de lançamento em Alcântara. Um deles teve um problema de ligamento jogando uma "pelada": não pode ir. Mas o fato é que na época ,se bem me lembro, o "governo" só havia repassado ( Agosto de 2001) cerca de 10% da verba para o projeto. Nossa pesquisa vive na miséria permanente, especialmente os projetos mais avançados. É bem provável que o incendio tenha ocorrido por defeito em alguma peça que custaria 100 ou 500 reais se estes 100 ou 500 reais estivessem disponíveis . Um outro comentário: colocar a casa de máquinas no meio do conjunto de edifícios do conjunto foi uma mancada difícil de aceitar.
'Em Ferraz, se fazia muito com pouco'
27 de fevereiro de 2012 | 3h 00
• Notícia O Estado de S.Paulo
Entre novembro e dezembro de 2009, fui, por mais de 20 dias, hóspede da Estação Antártica Comandante Ferraz. A sensação de ver as imagens de Ferraz em chamas é como a de ver a casa de um velho amigo pegando fogo. Morei lá, ajudei na faxina, na cozinha, limpei o banheiro masculino.
A manutenção de Ferraz sempre foi uma ação comunitária: uma vez sob o teto da estação, todos tornam-se corresponsáveis. Por conta disso, para muitos cientistas, veteranos de temporadas na Antártida, a perda da estação deve parecer a perda de um segundo lar.
A causa do incêndio ainda está a ser determinada, mas não consigo deixar de sentir um profundo respeito pelos homens e mulheres em campo, misturado a uma desconfiança em relação a quem deveria zelar para que estivessem preparados e equipados.
Muito da meteorologia e da ecologia do Brasil depende de informações que têm de ser colhidas na Antártida. Lá, pode estar a chave para mistérios tão profundos quanto a origem da vida na Terra. Trata-se de uma viagem que exige muito para ter resultados.
Em Ferraz, militares e cientistas faziam muito com muito pouco: no período que estive lá, passamos por um racionamento de água, por conta do congelamento do lago usado como fonte pela estação; a hipótese de os cientistas terem de ir cortar blocos de gelo a golpes de picareta chegou a ser aventada, mas acabou não se concretizando. No mar, os navios Ary Rongel e Almirante Maximiano dão apoio às pesquisas científicas driblando grandes dificuldades.
Fazer muito com muito pouco é uma tradição brasileira. Mas às vezes o muito pouco é, simplesmente, insuficiente
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