O mercado mundial de nanotecnologia (a ciência das micropartículas) deverá movimentar US$ 3,1 trilhões anuais a partir de 2015. Infelizmente, o Brasil irá beneficiar-se de modo tênue desse avanço, pois não integra o grupo dos 35 países líderes no segmento. Nem mesmo no contexto dos Brics estamos bem posicionados. No grupo, somos os últimos em P&D e investimentos na área, atrás da Rússia, China e Índia.
Precisamos recuperar o tempo perdido. Nesse sentido, conforme indica estudo da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a formação de recursos humanos em nível técnico e superior é condicionante. Não há cursos de graduação no país. Apenas de pós-graduação.
Assim, assume especial significado o Programa Sesi-SP/Senai-SP de Educação em Nanociência e Nanotecnologia, que proverá conhecimento aos alunos do Ensino Fundamental e do Médio (Sesi) e dos cursos técnicos, tecnológicos e superiores (Senai). Também será oferecido suporte às empresas para a implementação de projetos e serviços.
O Senai trouxe, ainda, a experiência em divulgação da nanotecnologia de Taiwan. Aproveitando-se das dificuldades atuais da Europa, convidou professores com expertise para virem disseminar seus conhecimentos (lembrem-se que os Estados Unidos não tiveram constrangimentos em levar para suas universidades cientistas estrangeiros como Albert Einstein e Wernher von Braun...). Estas são estimulantes noticias neste inicio de 2011, quando a nossa indústria precisa ganhar competitividade.
Estima-se que a indústria vivenciará uma verdadeira revolução com a nanotecnologia, que terá grande impacto transformador em muitos processos tradicionais, principalmente nos setores farmacêutico, químico, de energia, petróleo, mineração, metalmecânico, têxtil e gráfico. Haverá ganhos de produtividade, redução de custos e surgimento de novos produtos.
Na Escola de Engenharia de São Carlos da USP, cujo campus II é excepcional, realizam-se interessantes pesquisas voltadas ao desenvolvimento de novos dispositivos eletrônicos, tecidos antimanchas e antibacterianos e catalisadores imunes aos efeitos nocivos do monóxido e do dióxido de carbono.
O potencial também é muito grande na agroindústria, desde os alimentos funcionais, passando pelos fertilizantes, até as embalagens. No Brasil, estas pesquisas específicas concentram-se na Embrapa, tendo resultado na criação do Laboratório Nacional de Tecnologia para o Agronegócio, em São Carlos, e numa rede composta por 19 unidades da própria empresa e 17 centros acadêmicos de excelência.
É nesse contexto que se torna muito pertinente o programa do Sesi e do Senai de São Paulo, que criaram o Grupo de Trabalho de Nanotecnologia, para uma ação integrada e sinérgica. Na primeira instituição, serão promovidos programas de estímulo e conscientização, bem como para a formação de professores.
No Senai, além da preparação dos docentes, já está em curso a instalação de três unidades estratégicas em São Paulo: na Escola Mário Amato, o Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação em Nanotecnologia, com foco em química, cerâmica avançada e polímeros; na Escola Nadir Dias Figueiredo, o Centro de Nanotecnologia Aplicada à Área de Metalurgia; e na Escola Suíço-Brasileira Paulo Ernesto Tolle, o Laboratório de Nanometrologia e Microusinagem.
O Senai-SP também terá cinco escolas móveis de nanotecnologia, para o ensino, capacitação, divulgação e informação sobre o tema. Além disso, importou dos Estados Unidos o Conjunto Nanoprofessor, constituído por microscópio de fluorescência, outro de força atômica e uma proposta didática completa para o ensino da matéria. Trata-se de método único em todo o mundo. Foram adquiridos, ainda, equipamentos japoneses e alemães de última geração.
Ações como essas, às quais somam-se iniciativas isoladas nas áreas do petróleo/petroquímica, argamassas e cosméticos, precisam multiplicar-se no Brasil, que perdeu o timing mundial no desenvolvimento de uma tecnologia cada vez mais decisiva para a competitividade. Os números do mercado, as perspectivas da indústria neste século e a proatividade de nossos concorrentes na economia global alertam que nas nanociências o pensamento e a visão têm de ser grandes.
João Guilherme Sabino Ometto
Engenheiro, vice-presidente do Grupo São Martinho e da Fiesp e coordenador do Comitê de Mudanças Climáticas da entidade.
Fonte:|http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=112467
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