Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Emprego: o fenômeno que poderia mudar o Brasil – mas não mudou

Ao apostar todas as suas fichas (políticas e econômicas) no emprego, o governo se esquece que a economia não irá a lugar algum sem avanços de produtividade.

Fábrica de computadores da Positivo, em Curitiba

Indústria de transformação: manutenção do emprego e produtividade comprometida (Marcelo Almeida/EXAME)

O grande trunfo dos 10 anos do PT na Presidência da República é a taxa de desemprego. Nunca ela foi tão baixa (chegou à mínima histórica de 4,6% em dezembro), nem houve década semelhante na criação de vagas: foram quase 20 milhões até o final 2012. Tal modelo de crescimento baseado na ampliação do emprego, contudo, não basta para manter o país no rumo da prosperidade. Ele traz riscos inflacionários e reduz a produtividade de diversos segmentos da economia brasileira, resultando no período de desaceleração econômica verificado atualmente. Retomar a agenda de crescimento requer medidas de urgência que, até o momento, o governo não se mostrou disposto a tomar.

A confortável situação do mercado de trabalho no Brasil tem dois componentes primordiais: o gasto público e o consumo. O governo aumenta seus gastos para estimular a economia, resultando na criação de postos de trabalho. A massa salarial recém-criada exerce seu poder de compra e faz girar a roda do capitalismo, criando uma espiral de otimismo e crescimento econômico - como vinha acontecendo até o início de 2011. Num mundo ideal, essa dinâmica seria acompanhada por investimentos pesados em educação e inovação, além da abertura de mercado para estimular a concorrência e melhorar, assim, a produtividade dos setores econômicos. E justamente nesta segunda etapa mora o erro do governo petista: a inovação foi relegada ao último plano ao longo da era Lula, e o protecionismo da indústria é a regra básica do governo Dilma. Assim, o emprego cresce estimulado pelo consumo, a demanda aumenta num ritmo acelerado acentuando desequilíbrios de preço – e a inflação encontra aí sua morada.

Recentemente, o economista e ex-ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, escreveu uma análise sensata sobre a questão do emprego e o aumento inflacionário. Delfim reconheceu a dificuldade de se traçar uma relação direta entre ambos, mas afirmou que, a despeito do baixo desemprego, a economia cresce muito aquém de sua capacidade, evidenciando a estagnação da produtividade. Segundo ele, tal situação se deve ao “choque de oferta da agricultura, ao evidente problema estrutural do mercado de trabalho, à mudança induzida pela taxa de câmbio no comportamento dos setores industrial e de serviços e à visível deterioração da infraestrutura que há três décadas esteve abandonada”.

Ao apostar todas as suas fichas (políticas e econômicas) no emprego, o governo se inspira de forma desmedida no keynesianismo. Pai da teoria desenvolvimentista, o economista britânico John Maynard Keynes defendia a intervenção do estado na economia, por meio do estímulo direto ao emprego, como saída para situações de recessão. Para Keynes, o empurrão do governo à criação de vagas faria o setor privado aumentar seu nível de confiança na economia e investir mais para atender a demanda formulada artificialmente pelo setor público. Desta forma, acreditava o britânico, os gastos com tal medida se converteriam rapidamente em ganhos devido ao crescimento econômico.

A presidente Dilma tem chancelado tal modelo, sobretudo nas muitas vezes em que criticou a chanceler alemã Angela Merkel por sua truculência ao exigir duros ajustes fiscais de países europeus em crise. O ministro da Educação e articulador político de Dilma, Aloizio Mercadante, reafirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o caminho do aperto fiscal na busca por crescimento não é o mais adequado, na avaliação do governo. "O mundo está buscando competitividade, aumentando o desemprego e arrochando salário. Nós estamos buscando um caminho alternativo", disse.

Contudo, hoje, é ponto pacífico entre economistas – mesmo de escolas divergentes - que o aumento salarial causado pela forte criação de vagas precisa vir acompanhado de melhoria na produtividade, para não inviabilizar a competitividade industrial. Afinal, todo produto manufaturado no Brasil tem intrínsecos em seu custo altíssimos impostos – sobretudo trabalhistas -, infraestrutura sofrível e baixa qualificação de mão de obra. Como as melhorias na produção não ocorreram no ritmo e teor necessários, o cenário é alarmante. A evolução da produtividade por trabalhador entre 1996 e 2003 estava negativa em 2% na indústria de transformação. Entre 2003 e 2009, essa queda se ampliou para 10,3%, segundo dados presentes no estudo Uma história sobre dois países, elaborado pelos economistas Marcos Lisboa e Samuel Pessoa.

Portas fechadas - A abertura de mercado tem papel essencial nessa dinâmica. Conforme explica o economista Paulo de Tarso Almeida Paiva, professor da Fundação Dom Cabral e ex-ministro do Trabalho do governo FHC, a importação de tecnologia é essencial quando a capacidade de inovar de um país não é suficiente para melhorar sua produtividade. E o governo desestimula tais ganhos ao impor políticas protecionistas ao país para proteger justamente o emprego, como ocorre no setor automotivo, em que montadoras que não produzem localmente estão sujeitas a altíssima carga tributária. “A nossa capacidade de inovar gerando tecnologia própria é muito baixa. E quando se abre o comércio, importa-se o produto, a tecnologia e se ganha em produtividade”, explica. Paiva também cita o exemplo automobilístico para comparar o desempenho do Brasil com países asiáticos. “O setor sempre foi alvo de estímulos, mas o Brasil não conseguiu se reafirmar, não criou tecnologia própria nem marca própria, como fizeram China e Coreia”, afirma.

Setores mais expostos à concorrência internacional, como a agricultura, tendem a ser mais produtivos. O agronegócio brasileiro foi estimulado da maneira correta por meio de uma política pública criada ainda na era Geisel que previa a autossuficiência do país na produção de alimentos. Com a criação da Embrapa e o sucesso de suas pesquisas, o Brasil conseguiu atingir alto nível de produtividade adaptando insumos trazidos do exterior a condições climáticas nem sempre favoráveis. Atualmente, o país é o segundo maior exportador agrícola do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Inovação - Com razão, o governo brasileiro tem o hábito de culpar os baixos salários chineses pela grande competitividade de seus produtos manufaturados, como carros – mas peca ao desconsiderar os investimentos incomparáveis em inovação feitos pelo país asiático para chegar ao nível de produtividade que tem hoje – a China está em 29º lugar no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, enquanto o Brasil está em 48ª posição. Em 1987, o economista americano Robert Solow ganhou o Prêmio Nobel de Economia por sua teoria de que grandes saltos civilizatórios eram decorrentes de investimentos pesados em inovação e qualificação da força de trabalho – e não apenas devido ao consumo das famílias, como parece crer o núcleo econômico petista.

A construção civil é um claro exemplo de avanço do emprego e dos preços devido ao aumento do consumo – e não da inovação. A expansão do crédito, a estabilidade econômica e o mercado de trabalho aquecido foram os grandes pilares de crescimento do setor imobiliário. Diante de tal aceleração, a oferta de trabalhadores se tornou escassa. Com isso, os salários pagos neste segmento tiveram reajustes fora da média - cerca de 30% nos últimos três anos, segundo o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). “Situações como essa são preocupantes. Pois a soma da valorização da moeda e do aumento real do salário que superam, de longe, a variação da produtividade do setor”, afirma o professor da FGV, André Portela Souza.

Restará ao Brasil a tarefa de descobrir o resultado da equação de baixo desemprego e baixa produtividade industrial. O economista austríaco Friedrich Hayek, grande opositor às ideias de Keynes, sugere um fim pouco otimista para situações aparentemente positivas no mercado de trabalho, como ocorre no Brasil. Hayek argumenta que os sucessivos aumentos salariais que excederem os aumentos de produtividade afetarão a demanda – e, consequentemente, a inflação. Segundo ele, quanto mais durar a inflação, maior será o número de trabalhadores que dependerão da continuidade do aumento de preços. “Porque eles (os trabalhadores) foram levados a empregos temporariamente atrativos devido à inflação e, depois de uma desaceleração de preços, as vagas desaparecerão”. A saber, quando as vagas desaparecerem, qual será o trunfo político da vez. 

http://veja.abril.com.br/noticia/economia/emprego-o-fenomeno-que-po...

Ana Clara Costa

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Comentário de Sam de Mattos em 10 abril 2013 às 10:28

 

Imperador: Se vc falar em disciplina vão lhe chamar de "milico". Se falar de lei cumprida, de reacionário. Se a pena for dura, de misantropo. Quanto a Coreia COREIA, JAPAO, etc: Eles se apadrinharam de quem tinha. De quem podia adicionar. Hoje competem de igual para igual com os USA. E nos, que somos: Padrinhos de Evo, de Kirchner, de Mojica, do Motorista da Venezuela, de Castro. Temos uma sucursal do Haiti no Acre (realidade: 200 Ilegais/dia) e uma do Gabão e Nigéria em São Paulo. Também uma nova indústria, com modelo no México: Coiotes - que em conivência com a policia do Acre permite a entrada (ILEGAL) dos Haitianos no Acre e Nigerianos etc. em SP. Imperador chega de Poliana: Emigre e retorne depois da descontrucao e subsequente reerguida. Quanto ao Ministro Joaquim: Já se faz nos bastidores uma CAMPANHA DE DESACREDITACAO dele. Ha  uma facção trabalhando em rumores e boatos (não fidedignos) sobre ele, descrevendo-o como bêbado. Ha outra trabalhando para apresenta-lo como DESIQUILIBRADO. Por incrível que pareça ha outra buscando  pelo em ovo em sua vida privada (sexual). A maquina da corrupção eh como a Mao de Deus ao inverso: Escreve o Torto com mãos firmes. Finalizo com ua desculpa perversa de certos situacionistas: E dai? Em comparação com a Rodesia dos anos 60’s e os Campos de Concentração de Auschwitz e Daschau durante a II Grande Guerra, estamos muito bem! OBRIGADO. SdM

Comentário de julio cesar de souza em 9 abril 2013 às 16:34

GRANDE SAM!!! TUDO BEM AMIGO? CARÍSSIMO, ALEGRIA E DESCONTRAÇÃO

SÃO CARACTERÍSTICAS DE PESSOAS CRIATIVAS E A CRIATIVIDADE É PROATIVA 

AO DESENVOLVIMENTO É TRABALHAR AS PESSOAS COM CONHECIMENTO

COMO FAZIA O GRANDE PEDAGOGO PAULO FREIRE. A RESPOSTA É IMEDIATA!

SERÁ QUE NÃO SOMOS CAPAZES DE MOTIVAR O POVO COMO OCORREU NA

CORÉIA??? COM PROGRAMAS DE RESULTADOS IMEDIATOS, COMO FEZ A CORÉIA?

******************* A G O R A !!!!!!!!!!!!!!!!!!**************************************

SÓ FUNCIONARÁ SE CONSEGUIRMOS DAR UM "CHOQUE" DE H O N E S T I D A D E

NA NAÇÃO!!! E PARA QUE ISTO OCORRA UM GOVERNO SÉRIO QUE NÃO SE DOBRE

DIANTE DOS MAFIOSOS DO CONGRESSO, QUE GOVERNE DEMOCRATICAMENTE PARA

OS CIDADÃOS DE BEM PUNINDO SEVERAMENTE E COM "PUNHO FIRME" OS ALOPRA-

DOS, OS OPORTUNISTAS E TODO TIPO DE CORRUPTO.

VEJO COM BONS OLHOS A POSTURA FIRME DO MINISTRO, PRESIDENTE DO SUPREMO,

JOAQUIM BARBOSA. UM PRESIDENTE VINDO DO JUDICIÁRIO SERÁ UMA EXPERIÊNCIA

INOVADORA E, ACIMA DE TUDO, OPORTUNA, TRATANDO-SE DE UM JUIZ.

VISTO QUE, "TEMOS QUE FAZER UMA VERDADEIRA FAXINA NA PODRIDÃO QUE RON-

DA O PALÁCIO DO PLANALTO"  

Comentário de Sam de Mattos em 9 abril 2013 às 10:48

Júlio Cesar: Atingistes o AMAGO da questão. Quando ao prato de comida ser pedido ao prefeito local, ao Coronel da Usina ou a uma entidade federativa, a VERGONHA eh a mesma. Mas concorro da Dona Francisca que dos piores o “menos pior” e receber do Governo. HA UMA SERIEDADE na D. Dilma a qual não observei no seu predecessor. Mas não creio ser ela capaz de mudar o sistema Terceiro Mundista e corrupto do Brasil (e das demais Republicas Latino Americanas, com algumas raras ressalvas). D. Dilma já observou que o Custo Brasil é um entrave ao comercio. Medidas já começam a ser notadas. Mas são poucas e ha muita resistência a elas. Sim o nosso dilema BASICO é a educação, mas educação não é a prioridade nem do Governo, nem do povo. Paremos de por a culpa no governo. O povo não quer educação (claro, sempre de modo GERAL). Somos um povo “alegre”, carnavalesco, batuqueiro, adoradores do deus Hélio, da deusa Diana, somos Hedonistas, apreciadores de bundas, barriguinhas saradas, e afins. Somos uma nação Macunaíma e isso já foi decantado na Literatura a mais de meio século atrás. Solução? Não as tenho - mas venturo dizer que anarquia e posterior desconstrução seria a solução logica para um recomeço.

Comentário de julio cesar de souza em 8 abril 2013 às 19:58

 

 "É TRISTE VER UM ASSUNTO TÃO IMPORTANTE COMO ESTE, AS RELAÇÕES DO

  TRABALHO COM O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS, SER LEVADO PARA A LAMA

  POLÍTICO PARTIDÁRIA. NADA A VER COM O LULISMO NEM COM O NEW LIBE-

  RALISMO, MAS, TUDO A VER COM O ENORME DESCASO HISTÓRICO COM A

  EDUCAÇÃO EM NOSSO PAÍS, DESCASO USADO PELA DITADURA PARA MANTER

  O POVO NA IGNORÂNCIA PARA NÃO VER(ENTENDER) A LIBERDADE DE PENSAR,

  DE EXIGIR, DE QUERER MAIS E MELHOR. E, AINDA, SER ARRASTADO PELOS PO-

  DEROSOS DA HORA(DEM, PMDB, COLLOR, PSDB E, ATÉ, O PT) COM MESMO PRO-

  PÓSITO DOS CRETINOS DA DITADURA, A IGNORÂNCIA COMO INSTRUMENTO

  ELEITOREIRO."

  NÃO TEM PAPO FURADO: DESENVOLVIMENTO É EDUCAÇÃO AQUI, EM PARIS E

  ATÉ NA CHINA, QUE TEM INVESTIDO SIM EM EDUCAÇÃO.

Comentário de Fernando Machado em 8 abril 2013 às 15:33

Prezado senhor Luiz Barbosa Lima, me parece que quem não está a entender nada é o senhor, juntamente com a classe que o senhor óbviamente parece defender e que, de tão "articulada" que se crê, não tem uma liderança carismática nem consegue montar uma defesa razoável dos seus interesses através de propostas positivas, limitando-se já há alguns anos aos ataques irracionais, raivosos, pontuando, o que acredita ser, o erro alheio.

Nada de novo...

Pessoalmente acredito que o debate é muito importante e TODOS merecem ser ouvidos, independentemente de seu entendimento, ou não, sobre o assunto, qual seja ele, e de sua orientação político-ideológica.

Finalmente o respeito e a boa educação são imprescindíveis ao convívio em sociedade e, com todo o respeito, seu comentário passou longe dos dois.

Comentário de Romildo de Paula Leite em 8 abril 2013 às 15:31

. Num mundo ideal, essa dinâmica seria acompanhada por investimentos pesados em educação e inovação, além da abertura de mercado para estimular a concorrência e melhorar, assim, a produtividade dos setores econômicos. E justamente nesta segunda etapa mora o erro do governo petista: a inovação foi relegada ao último plano ao longo da era Lula, e o protecionismo da indústria é a regra básica do governo Dilma

Comentário de Sam de Mattos em 8 abril 2013 às 15:13

Ah, ha uma justificativa perversa entre os brasileiros de "cerebros comidos" por ideologias e religioes: Eles justificam escandalos em suas siglas e seitas, apontando que A, B e C nas epocas X, Y e Z, fizeram AINDA PIOR. Eh o proverbial coxo se vangloriando de nao ser cego...

Comentário de Sam de Mattos em 8 abril 2013 às 15:10

Os parâmetros econômicos (ainda estou com o Keynes, no geral) funcionam quando operados racionalmente e sob uma definição de status quo. Temos um governo pesadíssimo, o custo Brasil está alto (Malgrado esforços pontuais de D. Dilma). Para  que se funcione esses parâmetros há que se ter uma economia estruturada. Temos nós uma?  Ha que se ter uma definição: Somos sócio-capitalistas, somente capitalistas ou um Estado socialista? Num estado socialista ou comunista esses parâmetros Keynesianos saem distorcidos - e não funcionam. É como se aplicar mecânica de Diesel em carros a álcool. Creio que o problema nosso é definição: Saber se somos social capitalistas ou comunistas. Se formos comunistas, a Coreia do Norte, China e Cuba são Modelos a seguir – e nos esquecemos das princípios básicos econômicos.

Comentário de Luiz Barbosa Lima em 8 abril 2013 às 14:45

A Francisca é PT e não entendeu nada do que foi escrito ... quando não se entende DO ASSUNTO, não se habilita a comentar ! só falou bobagens e deve estar na lista do BOLSA FAMILIA...  

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