Economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves tem um conselho aos pequenos empresários, quando se trata de avaliar as perspectivas para os próximos meses: evitar aventuras.
Levando em conta o calendário eleitoral, que se encerra em 28 de outubro, a desaceleração da economia, o cenário político incerto e a debilidade do governo federal, o mais indicado para empreendedores, em sua opinião, é colocar as barbas de molho.
“A melhor posição é a defensiva. Defender o seu share [fatia] de mercado: este é o primeiro ponto”, afirma Gonçalves, que também é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
“O segundo ponto é não se endividar por causa do aumento dos juros de mercado”, avalia. Para Gonçalves, os bancos elevam as taxas cobradas diante da perspectiva de alta da inadimplência.
Qual o ambiente de negócios que se pode esperar para os próximos meses?
A economia desacelerou no primeiro semestre. Na virada do ano, havia muitas pessoas animadas, com esperança, principalmente com os sinais de uma possível recuperação do mercado de trabalho.
A meu ver, já havia indícios para duvidar dessa avaliação, pois essa “recuperação” é consequência do crescimento de trabalhos por conta própria e de serviços sem carteira assinada, ou seja, com o aumento do mercado informal.
Isso significa que as empresas continuam tomando decisões modestas de contratações nos últimos meses, demitindo mais do que admitindo, ocasionando o crescimento do setor informal. Este foi o padrão do mercado até maio.
Na visão econômica, o setor informal não é a base mais adequada para indicar o crescimento da economia, por ser um setor instável, de remuneração mais baixa. Esse resultado é melhor do que nada, mas é apenas uma maneira de resistir, não representa sinal de saúde.
Será melhor que o segundo semestre do ano passado?
Em meu ponto de vista, não haverá melhora. É importante esperar e acompanhar o emprego, pois ele se modifica de acordo com o pensamento de cada empresa.
As decisões empresariais, incluindo de contratações, podem, sim, se firmar, havendo até a possibilidade de investimento. Se o cenário for de um nível de demissões maior que de contratações, os planos de investimentos terão que ser adiados.
Neste período, em 2017, existiam pessoas que acreditavam na possibilidade de reformas, de melhorias na economia e pessoas que achavam que a queda da inflação e o aumento da renda real seriam contínuos, quando na verdade sabemos que não funciona dessa maneira.
O problema maior é a quebra da esperança do povo, que acreditava em melhorias e, em vez disso, percebeu problemas gravíssimos. E a inexistência de um governo que possa resolver.
Qual o conselho para as pequenas e médias empresas em termos de estratégia para este segundo semestre?
A melhor posição é a defensiva. Defender seu share [fatia] de mercado: este é o primeiro ponto.
O segundo ponto é não se endividar, por causa do aumento dos juros de mercado, pois, mesmo que a taxa básica não suba até o final do ano, os spreads bancários irão voltar a subir em consequência do risco no aumento de inadimplências.
Quem se endividou com as taxas fixas no último semestre fez um negócio razoável. Quem pretende se endividar neste semestre está assumindo o risco dos juros altos cobrados pelos bancos. Por conta disso, não são viáveis investimentos no momento.
Então nada de ampliações.
Outro ponto importante é o preço. Não tem como recuperar a margem neste segundo semestre, com a demanda em desaceleração.
Ao contrário, você tende a ter pequenas e médias empresas, que têm participação expressiva nos serviços, sejam eles para empresas ou famílias, com crescimento de 3% ao ano.
Ou seja, eles não crescem mais 8% ou acima da inflação, como aconteceu entre 2005 e 2014.
O que isso significa?
Isso significa que a demanda existente por serviços em geral não é a mesma. E a oferta se expandiu, havendo uma disputa de mercado que está atingindo o preço.
Dificilmente há uma recuperação de margem nesta situação. A maneira defensiva tem essa característica, podendo até ter um sacrifício adicional de margem operacional.
Fonte: Folha de São Paulo
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