Produzir na China está mais caro e, para algumas empresas norte-americanas, é hora de fazer o caminho de volta e trazer a produção – e os empregos – para os Estados Unidos, em um momento que o governo luta para que a economia volte a crescer. Depois de mais de uma década usando a força de trabalho chinesa para produzir a custos menores, as vantagens asiáticas estão se tornando menos atraentes para muitas companhias.
"O custo de se produzir nos EUA e na China está muito próximo agora", afirmou ao G1 o empresário Michael Campagna, presidente da empresa de equipamentos audiovisuais Peerless. Em 2009, ele parou de produzir em uma fábrica chinesa e abriu uma nova unidade especializada em fundir alumínio em Aurora, no estado de Illinois, contratou 80 pessoas da comunidade local e, no ano passado, faturou US$ 100 milhões.
"Estimamos que os custos trabalhistas na China tenham subido 100% em 2011, e prevemos aumento similar este ano", estima Campagna, dono da empresa que tem, atualmente tem 300 funcionários. A razão para o encarecimento é a mudança gradual que acontece nas relações trabalhistas do país.
O crescimento da economia chinesa nos últimos anos é tão forte que faltam trabalhadores para setores estratégicos da indústria. Nesse cenário, funcionários historicamente mal pagos (algo próximo US$ 1 por hora) começam a exigir dos seus patrões salários muito maiores e benefícios. "É uma progressão natural, que deve continuar. É preciso haver uma classe média na China e esse é só o começo disso", prevê Campagna, que diz que hoje compra apenas alguns componentes na China e produz nos EUA 95% das vendas.
O movimento não é isolado. De acordo com a consultoria Boston Consulting Group, o retorno de empresas norte-americanas da China para os Estados Unidos é uma tendência que deve se intensificar nos próximos anos. Em 2011, seis empresas transferiram parte da produção nesse sentido, segundo o relatório "Made in America, Again", que aponta que, em cinco anos, o custo de produzir na China deverá ser apenas 10% ou 15% mais barato que nos EUA.
"Estas exigências dos trabalhadores levaram a um aumento nos salários da indústria de cerca de 14% a cada ano desde 2005. Além disso, o yuan se valorizou em 4% por ano desde 2005. Combinados, esses dois fatores levaram a um aumento de 19% ao ano dos salários equivalentes em dólar de 2005 a 2010", calcula Justin Rose, diretor do instituto de pesquisa Boston Consulting Group.
"Os custos de se produzir na China e nos EUA estão muito próximos agora, o que nos deixa felizes de ter tomado essa decisão anos atrás", afirma Campagna. Além dos custos trabalhistas, outros fatores influenciaram a mudança: muitos produtos da Peerless passaram a ser falsificados e vendidos pelo mundo; o controle da qualidade era mais difícil e, segundo o empresário, qualquer alteração no design de um produto demorava mais de seis meses para ser implementada.
Segundo o Boston Consulting Group, outros aspectos também encarecem o "Custo China": os preços de logística e das terras também aumentaram.
Velas para os EUA
para varejistas nos EUA, abriu sua primeira fábrica
no país no ano passado. (Foto: Divulgação)
A imigrante chinesa Mei Xu, dona há 18 anos da Chesapeake Bay Candle, que vende velas aromáticas para as grandes redes varejistas norte-americanas, abriu sua primeira fábrica nos EUA em junho do ano passado e contratou cerca de 100 pessoas em Glen Burnie, no estado de Maryland. Até então, toda a produção da empresa que ela tem como o marido acontecia na Ásia: China e no Vietnã.
A empresária mudou a estratégia depois que as dificuldades que ela sempre enfrentou para produzir em um continente e vender em outro passaram a não valer a pena financeiramente.
"O custo do trabalho cresceu muito, o dos embarques também, e não nos achamos mais competitivos para a indústria americana", afirmou Mei Xu, por telefone, ao G1. Baratear a produção é importante para o seu negócio, cujo carro-chefe são velas perfumadas vendidas em larga escala a US$ 9,99.
"A qualidade que precisamos, embora já seja muito boa, não é o que desejamos que seja. Até então valia a pena financeiramente, mas parou de compensar", diz Mei, que pretende usar a nova fábrica norte-americana como estratégia para expandir a produção e atender outros mercados, como a Europa. "Agora, menos de 10% da nossa produção é feito nos Estados Unidos. Queremos que chegue a 20% em 2012 e continue a crescer".
Sem apoio
O caso de Mei Xu é tão emblemático que, em janeiro, ela foi convidada pelo presidente Barack Obama para contar sua experiência empreendedora na Casa Branca, em um fórum destinado a empresários com o tema "Criando empregos nos EUA". Apesar de ter aceitado o convite, ela diz que não houve receptividade do governo no processo de abertura da fábrica.
"Pela minha experiência, o apoio que o governo está dando para as empresas que querem voltar (aos EUA) é zero. Zero apoio financeiro. Querem aparecer ao lado das empresas que conseguiram para parecer que ajudaram", critica a empresária.
Ela gastou US$ 1 milhão a mais do que previa para construir a fábrica em Maryland, e a inauguração aconteceu com quatro meses de atraso. A maior dificuldade, diz ela, foi a burocracia.
"Perdemos seis meses para interpretar códigos fiscais, saber quais se aplicavam ao nosso segmento e contratando advogados para isso, porque não conseguíamos informação ou assistência. Perdemos meses depois que já havíamos alugado o espaço, contratado gerentes e recebido máquinas da Alemanha, sem poder começar a produzir", diz Mei Xu.
Mike Campagna, da Peerless, também reclama da falta de assistência nos projetos de expansão da indústria quando decidiu abrir sua fábrica em Aurora. "Obama não fez nada para ajudar as pessoas a trazerem empregos de volta para os EUA", diz.
Orgulho Made in US
Segundo Mei Xu, o custo de se produzir nos EUA ainda é cerca de 20% mais caro em relação à China. A estratégia para compensar o gasto a mais, nesses casos, é assumir como bandeira o orgulho de estampar “Made in USA” na etiqueta de seus produtos como ferramenta de marketing para conquistar o consumidor.
"Acreditamos que há um prêmio 'Made in USA' que será associado ao nosso produto.
Não acho que agora só por cruzarmos a fronteira já fará diferença, mas no longo prazo fará", aposta Mei Xu.
Campagna, da Peerless, diz que o "Made in USA" é usado como ferramenta de marketing.
"Usamos o 'Made in USA' em toda nossa publicidade, banners, o máximo possível", diz Campagna, que acredita que o argumento da criação de empregos nos EUA e recuperação da economia, no entanto, não pode se refletir nos preços dos produtos.
"Alguns clientes de importam com o fato de ser feito nos Estados Unidos, e outros não. E mesmo quem se importa não está disposto a pagar mais por isso. Não é um bônus, mas esperamos que as pessoas continuem a mudar essa mentalidade e comprar produtos americanos", avalia o empresário.
A visão do Boston Consulting Group é otimista. "O custo de fabricar nos Estados Unidos está ficando competitivo, então consumidores poderão ao mesmo tempo comprar produtos 'Made in USA' e conseguir preços baixos", prevê o diretor Justin Rose.
Fonte: G1
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