O Banco Central informou nesta quarta-feira (6) que o ingresso de dólares na economia brasileira somou US$ 39,83 bilhões no primeiro semestre deste ano, o que representa um crescimento de 1.084% – ou seja, mais de dez vezes – em relação a igual período do ano passado, quando foi contabilizada a entrada de US$ 3,36 bilhões no país.
O valor também já superou em 63,5% a entrada de divisas apurada em todo ano passado (US$ 24,35 bilhões), segundo informações da autoridade monetária. Somente em junho, porém, o BC informou que houve mais saída do que entrada de dólares no Brasil, no valor de US$ 2,55 bilhões. Trata-se do primeiro saldo negativo desde dezembro do ano passado (-US$ 1,91 bilhão).
Segmentos financeiro e comercial
A maior parte da entrada de dólares no país nos seis primeiros meses deste ano (US$ 23,64 bilhões) aconteceu pela chamada conta financeira, pela qual transitam os investimentos estrangeiros diretos e os recursos para aplicações financeiras, além das remessas de lucros e dividendos e empréstimos tomados no exterior, entre outros. Outros US$ 16,19 bilhões ingressaram no país, no primeiro semestre, pela conta comercial, que concentra os contratos de câmbio para exportações e importações.
Apesar do forte ingresso de dólares na economia brasileira pelo segmento financeiro no primeiro semestre deste ano, os números do Banco Central mostram que o fluxo ficou negativo (com mais saída do que entrada de recursos) nos três últimos meses, ou seja, em abril, maio e junho. A reversão começou a acontecer após o governo ter elevado o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) para 6% sobre empréstimos buscados pelas empresas no exterior.
Impacto no dólar
O ingresso de recursos no país, segundo analistas, teria correlação com a queda do dólar. A lógica seria que, com mais dólares no Brasil, o seu preço ficaria menor. Dólar baixo, por sua vez, gera perda de competitividade para as empresas brasileiras, uma vez que torna as exportações mais caras e as compras do exterior mais baratas. Justamente para combater esse ingresso de divisas, o governo lançou mão de várias medidas nos últimos meses.
Na avaliação de alguns economistas, como Sidney Moura Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, entretanto, o que tem puxado o dólar para baixo nas últimas semanas seria a especulação dos bancos no mercado futuro. Tanto que em junho, argumenta ele, houve mais saída do que entrada de recursos no Brasil, no valor de US$ 2,55 bilhões, e, mesmo assim, o dólar recuou para R$ 1,55 - a menor cotação em vários anos.
"No Brasil, o preço da moeda americana atingiu seu extremo em torno de R$ 1,55, forçada por uma soberba posição "vendida" liquida de US$ 23,1 bilhões detida pelos "hedge funds" no mercado de derivativos, representando elevada aposta no real", informou ele em comunicado. Justamente para frear esta especulação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem ameaçado tomar mais medidas, estas direcionadas ao mercado futuro e de derivativos.
Medidas já adotadas
Nesta quarta-feira, o ministro Mantega, afirmou, em entrevista ao diário britânico "Financial" Times, que a chamada "guerra cambial", que é o esforço dos países para desvalorizar suas moedas e proporcionar melhores condições de competitividade para suas empresas, repercutindo no ingresso de divisas nos países emergentes, 'absolutamente não terminou'.
A mesma preocupação com a entrada de dólares nos países emergentes também foi demonstrada pela nova diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde.
O governo já anunciou, nos últimos meses, várias medidas para tentar conter a queda da cotação do dólar frente ao real - fator que encarece as exportações e torna as importações mais baratas. Sem as medidas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou que o dólar estaria mais barato ainda.
Em outubro do ano passado, o ministro da Fazenda anunciou a elevação do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) para aplicações de estrangeiros em renda fixa no país de 2% para 4%. No mesmo mês, subiu de novo o tributo para 6%, e estendeu sua cobrança às operações no mercado futuro (derivativos).
No começo deste ano, o Banco Central anunciou uma medida para tentar baixar a posição vendida dos bancos no mercado de câmbio, que alcançou a marca de US$ 16,8 bilhões no mês de dezembro, e, com isso, frear a queda do dólar. Na ocasião, o BC impôs um depósito compulsório de 60% sobre a posição dos bancos que exceder US$ 3 bilhões ou o patrimônio de referência da instituição.
A autoridade monetária também anunciou, no começo deste ano, que voltaria a atuar com contratos de "swap cambial reverso" - operações que equivalem à compra de divisas no mercado futuro. A decisão que foi aplaudida pelo ministro Guido Mantega, uma vez que as aquisições no mercado futuro contribuem para uma queda menor, ou aumento do dólar, no mercado à vista.
Além disso, o governo também já autorizou, embora ainda não tenha utilizado este instrumento, a possibilidade de o fundo soberano brasileiro comprar moeda norte-americana nos mercados à vista e, também futuro.
FONTE: GLOBO
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