A Operação Lava-Jato tem sido comparada à Operação Mãos Limpas da Itália, que prendeu centenas de membros graúdos da máfia local. Para que a analogia fique perfeita, será preciso alcançar os chefes das quadrilhas infiltradas na Petrobras e demais estatais. Será necessário chegar aos que realmente mandam no PT, esse ajuntamento criminoso disfarçado de partido político.
Até aqui, o foco tem sido colocado nas empreiteiras. Mas alguém realmente acredita que os empresários teriam acesso aos bilhões da Petrobras apenas subornando um ou outro diretor qualquer da empresa? Essa tese é mais furada do que um queijo suíço ou as estradas federais brasileiras. Claro que o esquema, que irrigava os cofres do PT, tinha o aval e provavelmente a idealização da própria cúpula do partido.
Como no mensalão, que levou José Dirceu à cadeia. Hoje o petista já cumpre pena em casa, enquanto a banqueira bailarina Kátia Rabello continua presa, assim como o publicitário Marcos Valério. Ou seja, os intermediários, os operadores do esquema, pagaram um preço muito maior do que aqueles que arquitetaram a sujeira toda e dela mais se beneficiaram.
Cientes do desfecho do mensalão, os empresários envolvidos no petrolão ficam cada vez mais impacientes. É o que relata a reportagem de capa da Veja desta semana. Alguns executivos continuam presos, aguardando julgamento, enquanto os políticos permanecem livres por aí. Os empresários e executivos não vão aceitar pagar o pato sozinhos desta vez.
Claro, a estratégia de aproximar o escândalo cada vez mais dos políticos do andar de cima, incluindo o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, tem como objetivo se livrar da punição. Os empreiteiros acreditam que, ao lado de figuras tão poderosas, estariam blindados, protegidos da lei. Não é um ato de altruísmo em prol da República, e sim uma tentativa desesperada de livrar a própria pele.
Não importa. Foi assim na Itália também. Sempre que um mafioso aceitou o Omertà, o silêncio conspiratório, e afundou sozinho, sendo leal aos cúmplices, a Justiça saiu perdendo. Quando um membro da máfia, por outro lado, entregou seus comparsas, de preferência as lideranças, o mundo melhorou um pouco, ainda que sua intenção não seja esta.
Ninguém vai enxergar os empreiteiros como vítimas inocentes, muito menos santos, mesmo que resolvam abrir a boca para não caírem sozinhos. Mas sem dúvida milhões de brasileiros ficarão gratos pela atitude. É inadmissível o país passar por mais um escândalo dessa magnitude sem punir de fato aqueles que montaram a quadrilha para se perpetuar no poder.
Reinaldo Azevedo, em sua coluna na Folha esta sexta, colocou os pingos nos is e constatou que será uma grande farsa o petrolão caso termine endossando a tese de que as empreiteiras são as protagonistas do esquema. Conclui Reinaldo:
Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares gozam já das regalias de seus respectivos lares. A banqueira Kátia Rabello e o publicitário Marcos Valério, no entanto, estão em cana. Até parece que poderiam ter feito sozinhos o mensalão e que aqueles crimes não eram parte da estratégia de tomada do Estado, liderada, como registrou Celso de Mello, por “marginais do poder”. A exemplo do doutor Dallagnol, avalio que nem Kátia nem Valério eram vítimas. Mas, definitivamente, não eram protagonistas.
E jamais deixarei de especular sobre uma obviedade: os crimes do mensalão e do petrolão envolveram muitos agentes e interesses. Ocorriam no submundo. Se há desentendimentos entre os que são santos, imaginem entre os que não são. Quem dava o murro na mesa: “Vamos pôr ordem nesta orgia, companheiros!”?
Boa pergunta: quem era o mandachuva da quadrilha? Quem mais usufruiu dos bilhões todos desviados do estado? Quem vem se perpetuando no poder nos últimos anos torrando esses bilhões todos em campanhas milionárias e mentirosas, comprando os votos de milhões de eleitores? Quem?
Acreditar que alguns diretores ou gerentes mequetrefes foram os arquitetos de tudo é uma piada, quase tão ruim quanto a de crer que os empreiteiros seduziram as pobres vítimas da estatal. Sabemos que esquemas dessa monta são decididos no andar de cima, sob o aval direto de quem manda.
Para que o Brasil saia fortalecido dessa podridão toda, portanto, é preciso punir o alto escalão da quadrilha. Entreguem a cabeça do sapo, digo, do capo, senhores empreiteiros!
Rodrigo Constantino
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Entreguem a cabeça do sapo, digo, do capo, senhores empreiteiros!
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