A noite da presidente Dilma não deve ter sido nada fácil. A humilhação que Eduardo Cunha lhe impôs ao vencer no primeiro turno a presidência da Câmara deve ter lhe causado uma forte dor de cabeça. Afinal, Cunha, apesar de ser do PMDB, partido da base aliada, é grande desafeto da presidente, que se empenhou bastante na tentativa de derrotá-lo.
O PT e o governo se mobilizaram pela campanha de Arlindo Chinaglia, mas ficaram surpresos com o resultado. Cunha recebeu 267 votos, enquanto o petista ficou com apenas 136. Se o governo tivesse mantido certa distância da disputa, o gosto da derrota não seria tão amargo como agora. Mas a própria mobilização do governo fez com que Cunha fosse visto como candidato de oposição, apesar de seu discurso de independência.
O segundo mandato de Dilma começa, portanto, muito mal de seu ponto de vista. Não só o governo precisou soltar um saco de maldades para não ver o grau de investimento do Brasil rebaixado, aumentando impostos, tarifas e juros, como o escândalo do “petrolão” continua como uma gigantesca pedra no sapato da presidente e do seu partido, envolvido até o pescoço na sujeira.
Como a reportagem da Veja desta semana mostrou, os empreiteiros estariam desesperados com a possibilidade de pagarem o pato e ficarem presos, enquanto os políticos saem ilesos da trama toda. O resultado do mensalão está aí para corroborar a tese. Estariam, então, dispostos a atrair para a lama os nomes mais graúdos do PT, incluindo o de Dilma e o de Lula, quem no fundo indicou o diretor “Paulinho” para cuidar da área de abastecimento na Petrobras.
Se isso acontecer, o risco de impeachment aumenta muito. Segundo o renomado jurista Ives Gandra Martins, já haveria base legal suficiente para a abertura de um processo de impeachment. Claro que este depende sempre do cenário político. E é aqui que entra Eduardo Cunha. Apesar de ter declarado ser “descabido” falar em impeachment, Cunha não deve lealdade alguma ao PT ou à Dilma, e ela sabe disso. Eis a verdadeira razão da forte dor de cabeça que deve ter acometido a presidente esta noite.
Cabe ao presidente da Câmara dar início ou não ao procedimento para um eventual impeachment, e se a Operação Lava-Jato trouxer à tona mais lama escondida hoje no fundo do pântano que o PT habita, o risco será grande para Dilma. Graça Foster tem sido mantida no comando da estatal para servir de para-raio da presidente, mas cada vez fica mais difícil protegê-la do lamaçal que fizeram dentro da empresa sob sua gestão.
Para jogar mais lenha na fogueira, a economia vai de mal a pior. Cada novo dado divulgado representa mais um ponto para os “pessimistas”, que são apenas realistas e enxergam o quadro como ele é, não como foi pintado pelo marqueteiro João Santana. Vivemos já em uma estagflação, e o PIB deve sofrer queda este ano, mesmo com uma inflação de 7%. A tendência é o desemprego aumentar daqui para frente.
Eis o cenário que a presidente Dilma terá de enfrentar em 2015 e 2016: economia no vermelho, medidas impopulares, inflação elevada, Petrobras sangrando e base aliada totalmente fragmentada, com um inimigo na presidência da Câmara. Não foi por outro motivo que o senador José Serra descreveu a situação como grave, comparando-a com o clima de 1964 e prevendo que há uma chance não desprezível de Dilma sequer terminar seu mandato.
Alguns dizem que Cunha é uma espécie de Frank Underwood tupiniquim. Para quem não sabe, trata-se do personagem maquiavélico de Kevin Spacey na série “House of Cards”. Pelos bastidores, comendo pelas beiradas, articulando com aliados e opositores, de olho no longo prazo e dando cada passo como se fosse um jogo de xadrez, o “aliado” consegue derrubar o presidente e tomar seu lugar.
Dilma tem razão de sobra para ficar nervosa, e os brasileiros para alimentarem alguma esperança. Sim, chegamos ao ponto bizarro de depositarmos as fichas em Eduardo Cunha para obstruir o projeto totalitário petista. Durma-se com um barulho desses!
Rodrigo Constantino
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