O verdadeiro nascimento da indústria automotiva ocorre durante os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. O primeiro tomou medidas importantes como a proibição da importação de veículos montados e a imposição de alta taxação de peças. Outro ponto capital, não só no nascimento da indústria automobilística como na de outros setores foi a instalação da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, que possibilitou a manufatura em território brasileiro de chapas e barras de ferro e aço,matéria-prima de todo automóvel, bem como a fabricação de várias peças.
Já Kubitschek deu o passo seguinte, dando condições às indústrias no Brasil para desenvolver localmente qualquer tecnologia estrangeira. A primazia do primeiro carro 100% fabricado nacionalmente coube à Romi, indústria de tornos e equipamentos agrícolas, que obteve o licenciamento de um minicarro italiano, o Isetta. [...]
Em 1959 é a vez da Volkswagen, que instala sua filial em São Bernardo do Campo, SP, e monta os primeiros Fuscas e Kombis nacionais. A empresa irá liderar o mercado de automóveis no Brasil até o início dos anos 90. O automóvel nacional tornava-se uma realidade palpável, e o cenário urbano já era “invadido” pelos modelos nacionais, que ocupavam o espaço dos importados.
O trecho acima foi retirado do site Infoescola, e resume o nascimento de nossa indústria automotiva. Percebe-se desde o começo o ranço nacionalista e protecionista, que blindou o setor da livre concorrência, da competição externa. Reparem, ainda, que estamos falando de empresas multinacionais, ou seja, essa proteção toda, esses subsídios enormes, serviram para encher os bolsos de empresas alemãs, italianas ou americanas. Faz sentido?
Certa vez, em uma reunião na Casa das Garças, meu ex-professor Rogério Werneck disse que a indústria automotiva era o infante mais velho que ele conhecia: tinha 70 anos! A ironia se deveu ao fato de que toda essa ajuda estatal tinha como pretexto e justificativa a necessidade de dar um “empurrão” em uma indústria nova, que acabava de nascer, em seu estágio de infância.
Muitos economistas defendem essa tese da “indústria infante”, ignorando que a coisa mais difícil do mundo é retirar um privilégio “temporário”. Qual a desculpa para continuar protegendo esse setor hoje, após tantas décadas de “infância”? Ainda não foi o suficiente para que essas montadoras se tornassem competitivas sem as muletas estatais? Não deu para investir em produtividade ainda?
Tudo isso me veio à mente ao ler a afirmação do recém-eleito presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o espanhol naturalizado brasileiro Carlos Pastoriza. Dono de uma fábrica de equipamentos de mineração, o empresário contesta as medidas de incentivo promovidas pelo governo Dilma Rousseff, que beneficia setores específicos, como o automobilístico. Ele disse sem rodeios:
A indústria automobilística, assim como outros setores industriais, só não desapareceu porque tem um lobby gigantesco em Brasília e conseguiu favores pornográficos.
Para Pastoriza, o Brasil é motivo de chacota no exterior, pois pagamos o dobro pelos carros feitos aqui. E isso depois da abertura comercial imposta por Collor, que ao menos fez isso de bom. Antes era muito pior: pagávamos preço de Ferrari por verdadeiras carroças. Hoje é “apenas” o dobro, às vezes o triplo do valor pago pelos outros.
Os balanços dessas montadoras nunca são divulgados, para sua imensa lucratividade não expor a moleza que recebem de mão-beijada do governo. Para Pastoriza, a Fiesp tem culpa no cartório:
Hoje, o problema da indústria paulista se chama Fiesp. Ela está sendo usada para fins particulares e seu dirigente é eleito pelos votos de cabresto de pequenos sindicatos de gaveta, que estão fisicamente instalados na sede da Fiesp e dependem financeiramente dela.
Não tem como discordar. A Fiesp tem sido uma grande defensora desse “capitalismo de laços” que torna o mecanismo de incentivos tão inadequado em nosso país. Mais vale “investir” em lobby em Brasília do que em eficiência produtiva. Os “amigos do rei” se dão bem, os outros pagam o pato. É isso que desejamos? A quem interessa manter a indústria protegida desse jeito? A competição, não custa lembrar, é o maior aliado do consumidor…
Rodrigo Constantino
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Não entendi o trecho que diz que Getulio proibiu importacão e aumentou as taxas de importação para proteger o setor. Qual setor? Não tinha industria automotiva. A FIESP faz a obrigação de qualquer federação: proteger seus filiados a curto prazo. Não é uma entidade de planejamento econônico do governo. Este sim é que é obrigado a discernir o que deve ser implantado, mirando no longo prazo!
Hoje, o problema da indústria paulista se chama Fiesp. Ela está sendo usada para fins particulares e seu dirigente é eleito pelos votos de cabresto de pequenos sindicatos de gaveta, que estão fisicamente instalados na sede da Fiesp e dependem financeiramente dela.
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