Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Fibra de sisal desponta como opção ecológica

Fonte:|tendenciasemercado.com.br|



Fibra de sisal desponta como opção ecológica

Produto substitui fibra de vidro e pode ser usado na fabricação de vários componentes
Produção de fibra de sisal gera emprego e renda no semi-árido da Bahia. Fotos: Divulgação

A Bahia sabe bem o trunfo que tem nas mãos. Em tempos de guerra contra a degradação ambiental, de buscar alternativas para manter o homem das lavouras no campo, evitando o inchaço das cidades e explosões maiores da violência, e no momento em que o Brasil aumenta a sua credibilidade internacional, um ouro há muito tempo escondido e pouco valorizado no país começa a reluzir com toda força no estado da alegria e do carnaval.

É na Bahia de todos os santos que a fibra do sisal se mostra como substituto da fibra de vidro, feita de componentes como o plástico, derivado do petróleo. É na Bahia que as fábricas de automóveis, para composição de suas peças, estão de olho na matéria-prima que hoje, só na terra de Jorge Amado, emprega mais de meio milhão de pessoas no semi-árido, região que no Brasil sofre há décadas e décadas com a falta de água e de oportunidades.

Ainda no século 19, os colonizadores exploraram as plantações do sisal na Indonésia e nas Filipinas. No século 20, a exploração comercial da planta se repetiu no oeste da África, com mais intensidade no Quênia e na Tanzânia. Foi neste período, que os interesses coloniais também se voltaram para o potencial do Nordeste brasileiro como exportador da fibra natural. Hoje, o Brasil e os países do oeste africano são os que mais se destacam na produção do sisal, cada localidade com as suas experiências distintas na forma de beneficiamento do produto.

As folhas do sisal, planta batizada pela ciência de “Agave sisalana Perr”, podem chegar a dois metros de comprimento. Elas não têm caules. Ainda na classificação científica, o sisal é da família “Agavaceae”, subfamília “Agavoidea”, e seu principal produto é a fibra tipo dura, com elevados teores de celulose e lignina, que oferecem inúmeras aplicações. No Nordeste brasileiro, é produzida em 112 municípios, localizados também na Paraíba e no Rio Grande do Norte, sendo a Bahia o maior produtor do Brasil, e o Brasil, o maior produtor mundial.

O país é hoje responsável por cerca de 60% da produção do sisal em todo planeta e de 70% de todas as exportações. De acordo com publicação do Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais da Bahia, o Sindifibras, de 1995 a 2005, a produção anual de fibra no Brasil oscilou entre 110 e 140 mil toneladas. Atualmente, em torno de 87% da produção interna destina-se à exportação, gerando divisas anuais numa média de US$ 80 milhões. Para se ter ideia da abertura de mercado internacional que tem o Brasil, em 2004, o excedente da produção seguiu para 84 países.
As folhas do sisal, planta batizada pela ciência de “Agave sisalana Perr”, podem chegar a dois metros de comprimento

O faturamento médio tende a crescer, apesar do impacto que o setor sentiu com a crise econômica mundial, deflagrada em setembro de 2008. Antes da crise, as exportações chegaram a ultrapassar a marca dos US$ 105 milhões anuais. Mas com a quebra de bancos internacionais, caíram também as exportações. A venda do sisal brasileiro reduziu 45% entre janeiro e abril de 2009. Mas as expectativas são boas daqui pra frente. A queda em agosto já era menor, estava em 26%. De acordo com o Sindifibras, a Bahia, que também explora a fibra do coco e da piaçava, calcula fechar 2009 com exportações de US$ 90 milhões, 15% menos que no mesmo período antes da crise.

Para fortalecer as exportações das fibras do sisal brasileiro, um dos maiores desafios é aproveitar melhor a planta e seus resíduos, tornando o produto ainda mais competitivo. O sisal é muito utilizado na confecção de barbantes, tapetes e artesanatos em geral, mas pode também ser componente para fabricação de bioinseticidas, produtos que protegem as lavouras sem prejudicar o meio ambiente, nem a saúde dos consumidores. A fibra do sisal é usada ainda na fabricação de fios para armazenagem do feno, em substituição aos fios de plástico, que dependem do petróleo, poluem os campos e representam uma ameaça à alimentação dos animais.

“Alterar o desempenho de nossas exportações, elevando a participação de produtos com maior valor agregado, poderá aumentar o preço médio e otimizar as receitas”, afirma o presidente do Sindifibras, Wilson Andrade, que no dia 21 de outubro, nas Filipinas, foi eleito presidente do Grupo Intergovernamental de Fibras da Food and Agriculture Organization (FAO), fórum mundial criado para discutir problemas e tendências acerca dos variados tipos de fibras naturais, sendo formado por 54 países membros da ONU, entre consumidores e produtores da matéria-prima.
Fibras podem ser usadas na confecção de vários produtos

Fibras podem ser usadas na confecção de vários produtos

Dados de 2004, da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), divulgados pelo Sindifibras, demonstram o tamanho do desperdício no país. Naquele ano, a produção brasileira de fibra seca de sisal foi de 139,7 mil toneladas, representando apenas 4% da folha. Já os resíduos sólidos, também chamados de bagaço, foram para o lixo. Eles representam 14% da folha, e, em 2004, chegaram a somar 489,0 mil toneladas. Com pesquisa e tecnologia, pretende-se agregar valor à produção do sisal, fazendo uso do bagaço para fabricação de adubo e alimento para ruminantes.

“É fundamental a busca de alternativas que viabilizem a competição da fibra com os fios sintéticos, que são os principais responsáveis pelo baixo preço do sisal no mercado internacional”, explica o presidente Wilson Andrade. E para isso, o Sindifibras há muito já vem se articulando, ao lado de produtores e consumidores internacionais, e também com o governo federal e os governos de outros estados produtores no Nordeste. O governo da Bahia, por exemplo, desenvolveu uma máquina que vai aperfeiçoar o desfibramento do sisal, garantindo o melhor aproveitamento da planta, em especial do suco, que poderá ser transformado em pesticida natural.

“Já estão prontos cem equipamentos. O governo quer completar o lote de 160 máquinas para iniciar, possivelmente em fevereiro, a distribuição entre as associações de produtores da Bahia”, afirmou Wilson Andrade, dizendo que continuam as pesquisas para substituir a fibra de vidro pelas fibras do sisal nas fábricas de automóveis e barcos.
Presidente do Sindfibras, Wilson Andrade, diz que é "fundamental a busca de alternativas que viabilizem a competição da fibra com os fios sintéticos"

Presidente do Sindfibras, Wilson Andrade, diz que é "fundamental a busca de alternativas que viabilizem a competição da fibra com os fios sintéticos"

A Ford da Bahia, segundo ele, já demonstrou interesse e está em fase de teste. Wilson também frisou a importância da negociação com fazendeiros de boa parte do mundo, presentes à feira agropecuária da Bahia (Fenagro), que segue até o dia 6 de dezembro. A proposta é que os fios sintéticos, geralmente largados no campo, dependentes de 80 anos para se decompor, sejam trocados por fios naturais para amarrar o feno.

De acordo com Wilson Andrade, a crescente substituição do plástico por fibras naturais tem vantagens ecológicas, por elas serem recicláveis e renováveis; sociais, pela criação de empregos rurais; mecânicas, pela composição mais leve e mai resistente do que as fibras concorrentes como a de vidro; e ainda vantagens econômicas, por serem mais baratas.

“O governo federal tem promovido ações para beneficiar a cadeia produtiva. Além dos financiamentos específicos para atualizar tecnologicamente o setor, tem implementado projetos de desenvolvimento sustentável para gerar emprego, renda e inclusão social, numa atividade ecologicamente correta”, diz ele.

Pesquisas em curso também estão levando em conta o potencial das fibras naturais para substituição de fibras de amianto (usadas na fabricação de cimento), largamente utilizadas no Brasil, mas que foram proibidas no fim de 2005. Decisões para investimentos em estudos e para o traçado de metas são resultados de encontros nacionais e internacionais, na maioria das vezes, articulados pelo próprio Sindifibras. Entre os objetivos já acertados, está o de estender a produção de 800 para 1.200 quilos de fibra de sisal por hectare no Brasil. Outra tarefa é criar um selo de qualidade, para aumentar a credibilidade e favorecer as negociações internacionais.

“Por meio do Ibametro, que é a representação do Imetro na Bahia, o selo já está em implantação nas lavouras do estado. Estamos aguardando a adesão das empresas produtoras do interior, que já demonstraram interesse”, explicou o presidente do Sindifibras, que atua em parceria também com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). “A criação de um selo de qualidade para os produtos derivados de sisal divulgará o produto nacional, garantindo as especificações técnicas, além de certificar boas práticas operacionais quanto aos aspectos sociais e ambientais da cadeia produtiva”.

Resultado das articulações do Sindifibras, os produtores do sisal na Bahia comemoram uma boa notícia. Desde a última terça-feira, 1° de dezembro, o governo federal, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), retomou a aquisição da planta em estado bruto em toda a região sisaleira do estado. Com a medida, que estabelece o valor mínimo do sisal em R$ 1,04, serão beneficiados os agricultores de vinte municípios, que terão a garantia da venda de suas produções. A mesma política foi aplicada na região entre 2007 e 2009, quando foram compradas para estoque 22 mil toneladas de sisal, injetando mais de R$ 22 milhões no território.

De olho nas possibilidades econômicas, ecologicamente corretas, tendo em vista um amplo mercado internacional que tende a crescer com as fibras naturais substituindo cada vez mais os produtos sintéticos, derivados do petróleo, o Maranhão também se prepara para se tornar um produtor potencial do sisal. Algumas pesquisas já estão sendo desenvolvidas para avaliar a viabilidade de introduzir a cultura do sisal no estado.

Com o título “Plante sisal e conserve o sertão maranhense”, um projeto neste sentido, apoiado pela Embrapa Algodão, em parceira com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MA) e o governo estadual, encontra-se em análise pela Fundação Banco do Brasil. De autoria dos pesquisadores Helberth Oliveira e Romina Lima, a iniciativa pretende avaliar de forma partilhada com os agricultores e técnicos das instituições locais a possibilidade de introdução do sisal na região semi-árida do Maranhão, composta por 45 municípios, onde vivem mais de um milhão de pessoas, 16% delas no campo, e boa parte em assentamentos da reforma agrária.

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Comentário de Edna da Costa em 6 dezembro 2009 às 7:23
Goataria de saber alguns exemplos de produtos que poderao ser produzidos com a der fibra de sisal, onde existe o produto p/ exportacao e se ha possibilidade de encontrar empresas que querem parceiros p/ investimentos. Obrigada. Edna

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