“Imposto é um câncer na vida do empresário”, diz dono do grupo O Boticário
Por: ESTADÃO
Transformar uma pequena farmácia na maior rede de franquias do País exigiu de Miguel Krigsner, 62 anos, fundador do grupo O Boticário, o que ele considera a maior característica de um empreendedor: coragem para correr riscos. “Sempre tem um momento de um salto no escuro”, revela.
A declaração do presidente do Conselho Administrativo do grupo O Boticário é coerente com sua trajetória de empresário. Para ele, empreender consiste em abrir qualquer tipo de negócio sem expertise de mercado e durante esse processo tomar uma decisão primordial para o futuro da empresa.
“A gente sempre gostaria de se municiar de todas as informações, mas isso é um sonho, não existe”, destaca Krigsner, sem deixar de ponderar a importância de avaliar o tamanho do risco antes de fazer escolhas.
O grande acerto do empresário aconteceu justamente quando as dúvidas em relação a expansão chegaram. Depois da instalação de uma farmácia de manipulação em uma rua pouco movimentada da capital paranaense, a abertura da segunda unidade, no Aeroporto Internacional Afonso Pena, na Região Metropolitana de Curitiba, foi fundamental e decisiva para o sucesso do negócio.
A venda exclusiva de perfumes e cosméticos chamou a atenção de consumidores e interessados em abrir uma loja nos mesmos moldes. “Quando nós iniciamos o negócio não sabíamos onde íamos parar. Era uma área totalmente nova, com um canal de distribuição que não existia no Brasil”, relembra o empresário.
Esse foi o início da expansão da maior rede de franquias do País contada por Krigsner durante o encontro promovido pelo Estadão PME com pequenos empresários. Confira os principais trechos do encontro.
Relação
O sistema de construção de franquia dentro do Boticário foi estruturado com base na confiança. Na época, os contratos eram menos complexos. Na análise do empresário, o lado humano na relação com o franqueado nunca vai deixar de existir.
“O franchising tem grandes características. Tem o lado da empresa familiar, do investidor colocar as economias de uma vida em cima de um negócio, apostando com você. São pessoas que depositam todos os sonhos em cima da sua marca e você tem que acolhê-los em muitas oportunidades”, diz.
Até hoje Krigsner recebe ligações de franqueados interessados em contar histórias dos filhos ou até mesmo sobre fins de casamentos e as dúvidas sobre os rumos da franquia. No entanto, o empresário alerta que a amizade não pode servir de desculpa para deixar de honrar compromissos.
Sociedade
A relação entre sócios é vista como extremamente delicada por Krigsner. No seu caso, o sócio é o cunhado, o atual presidente do Grupo Boticário, Artur Grynbaum, com quem trabalha há mais de 25 anos. Para manter as relações familiares e profissionais saudáveis, eles mantêm um pacto: não falar sobre a empresa nos almoços de domingo, apenas em casos extremos.
Outro conselho é usar “chapéus diferentes”, como define Krigsner. “Sempre deixamos claro quando estamos falando como sócios e como amigos. Iniciar o diálogo dessa forma é saudável”, pontua.
Seguir o caminho sozinho não é aconselhado. “É difícil falar só com o espelho em determinadas situações. É importante você ter alguém que faça parte da empresa, com quem você possa trocar, caso contrário, sua esposa acaba sendo companheira de um negócio que ela não está muito por dentro”, completa.
Dificuldades
Ao comentar as dificuldades enfrentadas pelos empresários brasileiros, principalmente as de ordem tributária, Krigsner compara a situação do empreendedor com a de um “ginasta” que precisa se contorcer para evoluir diante dos obstáculos.
Mas para ele, os impostos envolvem apenas um lado da situação. “Imposto é um câncer na vida de qualquer empresário. Acredito que o País precisa de um planejamento de médio e longo prazo para viabilizar investimentos em equipamentos para resultar em uma produtividade maior”, opina.
Aprendizado
O empreendedor considera o período que trabalhou com seu pai em uma loja de confecções como o melhor e mais eficiente curso de capacitação da sua vida. Krigsner tinha 12 anos quando começou a ajudar na empresa e aprendeu a importância de oferecer um bom atendimento e respeitar o consumidor.
“É preciso ser muito cuidadoso na relação com as pessoas que entram no nosso negócio. Elas precisam ter o melhor atendimento. É por meio do consumidor que teremos o nosso sucesso”, destaca.
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