Itatex, empresa-âncora do polo têxtil de Itaporanga (PB) do Vale do Piancó, é exemplo de sustentabilidade e otimização de processos industriais
Água é ouro no Vale do Piancó, no sertão paraibano. É comum a região ficar sem chuva, durante meses, e seus mananciais secarem. O abastecimento de água à população e empresas acaba sendo feito por carros-pipa ou poços artesianos
Itaporanga é um dos municípios do Vale do Piancó que concentram, hoje, mais de 30 indústrias e cem empreendimentos ligados ao setor têxtil. Há 21 anos, foi iniciada a instalação dessas empresas, que tornaram a região reconhecida como maior polo produtor de panos de prato, chão, flanelas e toalhas do Brasil. Estima-se que são produzidas 600 ton de algodão/ano nas duas cidades.
A história deste polo começou com a Itatex de Itaporanga e, hoje, líder e maior indústria do setor. Ela incentivou a abertura de empreendimentos de serviços e facções em seu entorno. Desse modo foi formada a cadeia produtiva de panos de prato e chão, e depois, de flanelas e toalhas. O polo fornece os produtos para todo o país.
Nos últimos anos, a Itatex se tornou, também, exemplo em gestão hídrica e otimização dos processos produtivos na região. Ao participar do Projeto Sebraetec do Sebrae PB em 2014, a indústria reduziu as etapas do processo de lavagem e alvejamento de seus produtos. As lavagens eram feitas em sete etapas e caiu para apenas duas. Esta iniciativa reduziu o consumo de água em 75%. Ao todo estão sendo economizados cerca de 7,5 milhões de litros /ano.
A iniciativa da Itatex é um exemplo de como os pequenos negócios podem contribuir para o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 6, que objetiva garantir água potável e saneamento em 193 países até 2030. Ao todo 17 ODS compõem a Agenda 2030, assinada por todos os países presentes na Cúpula das Nações Unidas (ONU), realizada em Nova Iorque, em 2015
“Água é essencial para nosso negócio. Estávamos sofrendo com a crise hídrica muito forte, nos anos 2013 e 2014. Chegamos ao estado de calamidade na região. Durante um ano inteiro, a cidade ficou sem abastecimento e só contávamos com água de poços artesianos próprios e carros-pipa”, conta Daniele Dantas, diretora da Itatex.
Inicialmente as mudanças propostas pelas consultorias do Sebrae PB nos processos produtivos despertaram desconfiança. Muita gente achou que haveria perda da qualidade dos produtos. Fizeram testes e verificaram que a qualidade permaneceu a mesma. “Foi um processo de mudança pesado”, diz Daniele.
A indústria e a D’Serve (empresa de confecção que fabrica os panos de prato, flanelas e toalhas para a marca Itatex) geram juntas 180 empregos diretos e indiretos na cidade. Há cerca de cem Microempreendedores Individuais (MEI) atuando, também, na cadeia produtiva. A experiência dos dois empreendimentos é acompanhada por todo o polo. “Nós sempre nos preocupamos em dar exemplo, por sermos pioneiros. Desde a contratação de funcionários, estrutura e organização”, ressalta Daniele.
Antes e depois
Para o consultor Germano Gomes de Moura, a experiência da Itatex foi um divisor de águas. “Foi quebra de paradigma. Fizemos um trabalho de educação e conscientização sobre o uso da água na empresa. Não foi preciso investir em tecnologia avançada, nem novos equipamentos. Tudo foi baseado na mudança de hábitos”, explica ele.
“Faltava conscientização para implantar a gestão da água na empresa”, resume Ana Stefânia Rodrigues, gerente da agência de Itaporanga do Sebrae. Atualmente a instituição atende 15 indústrias de pequeno e médio portes do polo. O objetivo do projeto do Sebrae PB é reduzir custos de produção, com foco em sustentabilidade, esclarece a gerente.
Eficiência energética
Havia anos que o processo de lavagem e alvejamento era realizado em sete etapas. Ao passar a ser feito em apenas duas, também ocorreu redução do consumo de energia elétrica. A empresa reduziu custos de produção e ganhou agilidade. O custo operacional caiu 50%, informa a empresária.
Devido à mudança nos processos produtivos, a Itatex não sentiu a crise da água como as outras empresas do polo. No momento, a indústria está buscando eficiência energética e investe na troca de equipamentos antigos, substituição na iluminação da fábrica por lâmpadas Led.
Reaproveitamento de fios
Outro exemplo de sustentabilidade da indústria é o fato do fio usado na fabricação dos panos de prato e chão, principalmente, ser de reaproveitamento. Setenta e cinco por cento dos fios são resíduos do resto de tecido de fabricação. O que era lixo, virou matéria-prima.
Fundador
Divaldo Dantas foi o fundador da indústria de panos de pratos e chão, que fez história na região. Ele também incentivou os empreendedores a abrirem o mercado de panos de prato e chão em outras regiões do país.
“Meu pai tem o setor têxtil desde o berço. Ele é de São Bento, pólo de fábricas de redes”, conta a empresária. Divaldo morava em Presidente Prudente quando soube que um irmão estava indo bem vendendo panos de prato e chão na Bahia. Começou a pesquisar sobre o ramo e enxergou a oportunidade. Em 1996, montou a fábrica em Itaporanga.
Nessa época, o fio de algodão vinha de Fortaleza e João Pessoa. O fundador da indústria sempre incentivou os itaporanguenses ao empreendedorismo. “A realidade daqui só vai mudar se montarem empresas. Compre um tear e comece a produzir, que eu compro a produção”, dizia ele às pessoas, segundo Daniele. Assim começaram a surgir pequenas facções e comerciantes de panos de prato e chão, que abriram mercados no Nordeste e todo o Brasil.
“Uma empresa só não faz verão”, era a frase predileta do pai. Empreender era a única saída para Itaporanga sair do isolamento, segundo sua visão. Sem empresas e espírito empreendedor a cidade nunca iria atrair entidades representativas importantes como um escritório regional do Sebrae Itaporanga, inaugurado em dezembro de 2015; Instituto Federal da Paraíba; ações da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, bancos, etc
Ele tinha razão. Hoje, o polo de Itaporanga (integrado por cidades vizinhas) possui mais de 30 indústrias de tecelagem e lavanderias. Divaldo é o atual prefeito do município.
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