Fonte:|dci.com.br|
SÃO PAULO - A previsão de desabastecimento de algodão para esta temporada no Brasil faz a indústria têxtil pagar mais para o produto permanecer no País. Na outra ponta, o cotonicultor brasileiro que já contabilizou um aumento na receita de pelo menos 17%, deixa de lado a possibilidade de ganhar mercado externo com a quebra de safra prevista no Paquistão.
Segundo Haroldo Rodrigues da Cunha, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), resta ainda 15% da safra 2009/2010 nas mãos do produtor. "Os que tiverem a fibra vão se beneficiar com os bons preços praticados", diz.
Levantamento da Abrapa mostra que nas últimas duas semanas a libra-peso do algodão no mercado interno saltou de R$ 1,65 para R$ 1,93. "No início da safra, a libra-peso do algodão estava fixado em R$ 1,40", afirma Walter Horita, presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).
Em 2009, ainda de acordo com Horita, neste mesmo período, o algodão estava cotado entre R$ 1,15 e R$ 1,20 por libra-peso.
Segundo Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado, o mercado externo pagaria pelo produto no máximo R$ 1,60 por libra-peso. "A cotação aqui chegou a avançar 500 pontos de um dia para outro, reflexo do desespero da indústria para não deixar o produto ir para fora", diz.
De acordo com Cunha, a tendência é de que os preços internos do algodão se mantenham elevados até que a produção do Hemisfério Norte seja disponibilizada, o que, para o Brasil deve ocorrer apenas em dezembro.
Estatística da Aiba aponta para uma produção nacional de 1,2 milhão de toneladas de algodão, e um volume para exportação de 450 mil toneladas. "A indústria consome 950 mil toneladas", observa o presidente Horita.
Os principais estados brasileiros produtores de algodão são Mato Grosso, Bahia e Goiás. Para Horita, as cotações da fibra ainda podem atingir os patamares de R$ 2,10 e R$ 2,20.
Há 17 anos, segundo Horita, a Bolsa de Nova York chegou a operar a fibra a US$ 1,10 por libra-peso. "Podemos voltar a ver este cenário", afirma.
Ainda de acordo com o presidente da Aiba, sempre que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê queda nos estoques abaixo de 40%, as cotações começam a subir. "A última estimativa do USDA apontou queda de 37,78%."
No entanto, as notícias de quebra de safra de algodão no Paquistão - quarto maior produtor mundial da fibra, depois da China, Índia e Estados Unidos - para Biegai ainda são inconsistentes. "Como ocorre em todo início de desastre climático o mercado acaba vivendo de boatos", diz.
De acordo com o analista, em 2008, as tempestades no meio oeste norte-americano fizeram circular na internet imagens de lavouras de milho totalmente em baixo d'água, gerando alta nas cotações. "Depois foram ver e não era nada daquilo", lembra, considerando que se as perdas no Paquistão, devido ao excesso de chuva, forem realmente grandes, o desastre proporcionará suporte para os preços internacionais. "Uma estimativa otimista mostra perda de 6% a 8% na área de algodão paquistanesa, mas o mercado fala em queda de 15% de área."
Por outro lado, segundo Biegai, pela quebra de safra também no Brasil, ainda que proporcionalmente menor, o País não tem condições de suprir a demanda deixada pelo Paquistão. "A Índia e os Estados Unidos devem ficar com os mercados do Paquistão, inclusive atender o próprio país, que agora deve importar."
Estudo da Safras & Mercado estima uma produção de algodão no Paquistão de 2,2 milhões de toneladas. "Com a quebra de 15% deve cair para 1,9 milhão de toneladas", calcula.
Segundo Biegai, os paquistaneses previam embarcar 400 mil toneladas da fibra, mas com as perdas previstas pode exportar de 100 mil toneladas a zero. "O Brasil vai atender a própria demanda. Só vai embarcar algodão por força de contrato", afirma.
Diante desse cenário, Biegai aposta para a safra 2011 um aumento de 20% ou mais na área de algodão no Brasil. "Em julho a previsão era de 17%."
Para o presidente da Aiba, Walter Horita, os preços da fibra até a próxima safra estão garantidos. "Mas em 2012 podem cair novamente", diz.
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