Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Inflação acirra onda de greves e impactos na economia são imensuráveis

Inflação acirra onda de greves e impactos na economia são imensuráveis

SÃO PAULO – No início do mês, uma greve da CPTM afetou 2,5 milhões de pessoas em São Paulo. No Paraná, 3,1 mil metalúrgicos da fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais encerraram, nesta sexta-feira (10), uma greve que durou 37 dias. Ainda no Paraná, profissionais de empresas privadas da área de Saúde entraram em greve na terça-feira (9). E a categoria paulista ameaça fazer o mesmo a partir do fim deste mês. No Rio de Janeiro, professores estaduais não dão aulas e os bombeiros não atendem aos chamados. Neste semestre, a onda de greves se espalhou pelo País, tanto no setor público como no privado. E independente da área, todos reivindicam, basicamente, a mesma coisa: melhores salários e participação nos lucros.

Se é evidente que essas paralisações prejudicam as pessoas físicas, o custo gerado para a economia do País não é tão claro, mas existe. “Existe um risco para os trabalhadores e um custo para a economia”, avalia o coordenador nacional de Relações Sindicais do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), José Silvestre. “O risco para os trabalhadores é de que eles podem perder os dias parados ou mesmo perder seus postos”, afirma.

Para o professor do Instituto de Economia da Unicamp, especialista em estudos sindicais e economia do trabalho, Anselmo Santos, é difícil determinar o tamanho desse custo, mas é fácil determinar um dos fatores que gerou essa onda de paralisações. “A inflação subiu e provocou uma corrosão do salário real dos trabalhadores”, explica o professor.

“As greves que estão ocorrendo têm motivação econômica. Contudo, hoje você tem uma conjuntura menos favorável para que isso ocorra, se avaliarmos nosso passado. A insegurança é menor, porque o mercado de trabalho ainda está em crescimento”, salienta Silvestre. Segundo dados da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), a inflação reduziu a massa salarial em abril em 3,5%, e os rendimentos em 4%.

Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram uma queda de 0,8% na folha de pagamento da indústria em abril, frente a março, e uma alta de 4,7% na comparação com abril de 2010. Os analistas da Rosenberg Consultores Associados avaliam que a queda do quarto mês do ano na indústria é pontual. “A folha de pagamentos real na indústria vêm exibindo uma trajetória de alta. Houve queda pontual em abril, contribuindo para isso a inflação - mas não indica alteração de tendência”, afirmaram.

Inflação

No ano passado, a economia apresentou um crescimento forte, mas já mostra sinais de arrefecimento. Prova disso é a queda de 2,1% na produção industrial em abril, frente a março, e de 1,3% na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo dados do IBGE. “Como o crescimento foi forte no ano passado, e com a inflação em alta, os trabalhadores reivindicam um aumento. O problema é que as empresas procuram evitar se comprometer com mais custos”, afirma Santos.

E os custos, no caso de transportes, por exemplo, são altos. De acordo com o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Carlos Henrique Ribeiro Carvalho, a folha de pagamento do setor representa 40% do total dos custos que as empresas de transportes têm. “Nos últimos dez anos, os custos da maioria dos insumos cresceram acima da inflação. No caso dos salários, nesse período, não houve nem perdas e nem ganhos reais”, afirma o técnico.

Dos maiores gastos do setor, o diesel, cujos custos representam 25% do total, foi o que mais aumentou nos últimos dez anos: 70% acima da inflação. Os veículos, segundo maior peso - 20% dos custos totais -, ficaram 50% acima da inflação. Já os custos dos pneus, que representam 15% do total, subiram 40% acima da inflação do período. “Uma maneira de controlar os custos é segurar os salários”, afirma Carvalho.

Somado a isso, ele calcula que houve uma queda de demanda pelo transporte público de 30% em todo o País. “Quando isso acontece, a tarifa sobe. E nos últimos dez anos, ela subiu 60% acima da inflação. Isso é um problema para o setor, porque torna o sistema menos atrativo”. E dificulta ainda mais as negociações salariais.

Uma conversa difícil

“Com a inflação maior, está mais difícil renegociar”, acredita Silvestre, do Dieese. Apesar das dificuldades, os sindicatos começarão, no próximo dia 13, a campanha pelas renegociações salariais. Os sindicalistas divulgarão as mobilizações de uma pauta que inclui também a regulamentação da terceirização, a aprovação da redução da jornada de trabalho sem redução salarial e o fim do fator previdenciário.

Apesar da conversa ser difícil, os sindicatos estão conseguindo bons resultados. Os trabalhadores da alimentação, por exemplo, já garantiram aumentos reais nos seus salários. “As negociações foram mais trabalhosas, mas conseguimos bons acordos”, disse em nota o presidente da Fetiasp (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo), Melquíades Araújo.

Para os analistas da Rosenberg Consultores, as paralisações nas negociações de participação nos lucros de diversas empresas industriais são um bom indicador antecedente de que as negociações salariais no segundo semestre serão duras.

 

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